Mahsa Ahmadi, a jovem iraniana que supera tudo para trabalhar como dublê
Ana Cárdenes.
Teerã, 11 abr (EFE).- Mahsa Ahmadi ateia fogo em seu corpo, voa de paraquedas, se taca de pontes e helicópteros e se deixa ser atropelada: trata-se da única iraniana que trabalha como dublê de cenas de perigo e que quer mostrar que tudo é possível, inclusive para uma mulher na República Islâmica do Irã.
Aos 24 anos, tem um corpo invejável e um sorriso doce que emoldura o véu com o qual, seguindo a lei de vestimenta do país, tem que estar coberta sempre que está fora de casa ou com homens que não sejam de sua família.
Mahsa começou a fazer esporte aos seis anos. Aos sete, ganhou sua primeira competição infantil em ginástica artística, que praticou até a idade permitida, os 18 anos. Mas meses antes do abandono forçado, já tinha encontrado o que se transformaria em sua paixão profissional: um grupo de “stunt”, dublês de cenas de risco, cujo diretor, Arsha Aghdasi, não sem muitas reservas, se arriscou a admitir uma mulher.
“Eu não queria mulheres porque não é fácil trabalhar com elas aqui. Têm que usar muitas roupas, os homens não podem treinar com elas, e é proibido o contato físico. Mas ela insistiu, insistiu muito”, lembrou sorrindo à Agênia Efe Aghdasi, diretor do grupo de dublês de risco “Stunt 13”.
Hoje, dos 18 que começaram o curso com Mahsa há seis anos, apenas ela ficou.
“No primeiro dia, já me dei conta do quanto o físico era exigido, mas eu amo essa profissão. O meu sonho era esse”, explicou a pioneira atleta e atriz.
Além de se destacar na ginástica artística, Mahsa é faixa preta em wushu, campeã local em kung fu e domina outros esportes como hipismo, paraquedismo, parapente, natação, puenting, bungee jumping, parkour e tiro com arco a cavalo.
Ela foi a primeira mulher no Irã a fazer um salto de bungee jumping e a primeira a se tornar treinadora do esporte. Também é a primeira e única mulher no país que saltou de um helicóptero e a primeira a fazer paraquedismo no Irã.
“Para mim, isso é uma forma de motivar as demais mulheres a fazer esporte e de mostrar que podemos fazer o que quisermos”, comentou.
Mahsa sabe que, para fazer o que faz, é necessário “gostar do perigo”, embora afirme que não o faz por isso, mas sim “pela emoção”.
“Quando você faz alguma destas coisas, acaba se perdendo em sua própria emoção. Não dá tempo de pensar no medo. Aproveito muitíssimo fazendo o que faço”, afirmou.
De paraquedas já saltou 97 vezes, embora só uma delas no Irã. Tem a sorte de ter uma família que a apoia e que não limita seus sonhos. “Eles se preocupam, claro. Mas me deixam decidir. Nunca tive problemas para fazer o que quero”, declarou.
Com a produção de 100 filmes por ano, às vezes, a “Stunt 13” fica pequena e é preciso ir ao exterior para trabalhar. Sua participação mais importante foi, sem dúvida, há dois anos na gravação de “007 – Operação Skyfall”, na Turquia. Nele, Mahsa aparece sendo atropelada e fazendo diversas piruetas.
A “Stunt 13” afirma que não recebe qualquer ajuda do governo e que cresceu, fundamentalmente, graças à divulgação de seu trabalho na internet. Eles se queixam da falta de equipamentos de qualidade e de um lugar adequado para treinar. Muitas vezes, fazem os treinos ao ar livre ou em um teatro que está desocupado e pegam emprestado.
A presença de Mahsa complica os treinamentos. Homens e mulheres não devem se tocar e, por isso, nos centros esportivos os horários e instalações são completamente separados.
Ela sorri de forma enigmática quando perguntada como consegue treinar se não pode encostar em seus colegas, e se limita a responder que o grupo “cumpre com a lei”. É preciso praticar os exercícios com o cabelo, braços e pernas cobertos e, quando treina em algum lugar com homens, precisa se retirar quanto algum desconhecido entra no grupo.
“A parte boa é que, estando tão coberta, fico mais protegida do que se usasse uma minissaia”, concluiu vendo o lado bom da situação. EFE
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