Manuscritos de Borges e Cortázar no Brasil revelam criatividade dos autores

  • Por Agencia EFE
  • 03/09/2015 23h18

Rio de Janeiro, 4 set (EFE).- Os manuscritos de Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e outros autores clássicos da Argentina revelam os mecanismos criativos destes escritores em uma exposição que faz parte da atual edição da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

A mostra, organizada no ano passado pela Biblioteca Nacional da Argentina e levada agora ao Brasil, também conta com fac-símiles dos manuscritos de Adolfo Bioy Casares, Leopoldo Lugones, Roldolfo Walsh e David Viñas.

“O que nos permite um manuscrito é encontrar o autor no momento mesmo de criação de sua obra”, disse à Agência Efe o diretor de Cultura da Biblioteca Nacional da Argentina, Ezequiel Grimson.

Segundo Grimson, Borges defendia a tese de que a obra definitiva é “uma sombra” da ideia do autor, por isso que o manuscrito constitui “o momento da passagem, no qual essa ideia se transforma na obra”.

Alguns dos manuscritos mostraram revelações surpreendentes, como um conto de Borges chamado “Tema do traidor e do herói”, que o autor acrescentou um final alternativo ao publicado pela primeira vez na revista “El Sur” e que foi achado por acaso nos depósitos da Biblioteca Nacional em 2013.

Borges costumava trabalhar frequentemente na Biblioteca Nacional, pedia emprestados muitos livros, escrevia anotações neles e os devolvia aos depósitos, segundo relatou Grimson.

Um casal de pesquisadores que segue os passos de Borges achou nos depósitos da Biblioteca mil desses livros, de diversos autores, com anotações alheias do autor de “O Aleph”.

Os manuscritos de Cortázar expostos no Rio são alguns que o autor recopilou enquanto escrevia “Rayuela”, nos quais inclui o desenho de um jogo da amarelinha, cuja estrutura “é muito parecida” ao do próprio romance, segundo Grimson.

Em seus papéis, Cortázar também faz anotações sobre vários temas e, por exemplo, enumera características que atribui aos argentinos, algumas positivas (gente muito querida, leal) e outras que julga negativas (auto-suficiência e comportamento).

A Biblioteca Nacional também encontrou manuscritos inéditos de David Viñas, repletos de rabiscos em montões de cores e setas que saem de um lugar para o outro, e que serão editados e publicados quando os pesquisadores terminarem de desemaranhar o texto.

Segundo Grimson, esses manuscritos inéditos, que se referem à vida do político e militar Lúcio Victorio Mansilla, poderão ser publicados em 2016 sob o título “Mansilla, entre Rosas e Paris”.

A Argentina é o país homenageado na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, a feira literária mais importante do Brasil, que começou na quinta-feira e se estende até o dia 11.

A programação organizada pela Argentina para destacar sua cultura durante a Bienal inclui quatro exposições, entre elas uma com os manuscritos literários e outra sobre a obra da poetisa Alejandra Pizarnik que será exibida em seu consulado no Rio de Janeiro.

As outras duas mostras são “O que se vê”, composta por fotografias de Adriana Lestido e que é exibida no Museu Nacional de Belas Artes, e “Mafalda em sua sopa”, dedicada à personagem de Quino e disponível para o público carioca na Biblioteca Parque Estadual. EFE

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