De um clube belga à FIFA: como "Seven Nation Army" se tornou um hino do futebol mundial

  • Por Jovem Pan
  • 15/06/2018 13h17
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Reprodução/Facebook

Já se falou quase tudo que poderia ser falado sobre a cerimônia oficial de abertura da Copa do Mundo da Rússia. Show (com direito a um controverso dedo do meio) de Robbie Williams, vozeirão da soprana Aida Garifullina, Ronaldo Fenômeno em campo, carisma do mascote Zabivaka, Putin sendo Putin. Mas tem um detalhe que parece ter passado em branco: a execução de Seven Nation Army durante a entrada dos atletas em campo. Afinal de contas, porque a FIFA escolheria uma música de 2003 para representar os jogadores do mundial de 2018? Para responder a essa questão, precisamos voltar alguns anos na história.

Em 1997, os norte-americanos Jack e Meg White levaram a parceria que já tinham em vida como marido e mulher para a arte ao criarem o duo The White Stripes em Detroit, Michigan. Os discos de estúdio iniciais foram lançados em sequência em 1999, 2000 e 2001 (The White Stripes, De Stijl e White Blood Cells, respectivamente) e logo chamaram a atenção do público local pela simplicidade. Eram apenas dois músicos (ele na voz e na guitarra, ela na segunda voz e na bateria) apresentando composições e arranjos discretos de rock’n’roll inspirados pelo blues, pelo folk e pelo country. Mas foi ao assinar com as gravadores V2 Records e XL Recordings e soltar o quarto álbum, Elephant (2003), que a fama decolou. Especialmente por conta do primeiro single.

Com uma batida e um riff “pegajosos” que grudam e não saem mais da cabeça, Seven Nation Army rapidamente alcançou o topo das paradas mundiais e venceu alguns dos principais prêmios da indústria, entre eles o Grammy de Melhor Música de Rock e o NME de Melhor Faixa. O “boom” foi tanto que não demorou para chegar aos estádios.

O primeiro registro que se tem da música sendo cantada por uma torcida de futebol é de uma partida entre o Club Brugge, um dos clubes mais tradicionais da Bélgica, e o Milan. Surpreendentemente, o tímido belga venceu a imponente equipe italiana por 1 a 0 pela fase de grupos da Liga dos Campeões daquele ano, o que deixou os fãs em polvorosa. Não se sabe exatamente o porquê, mas, empolgados, eles começaram a cantarolar o riff com uma série de “ô ô ôs”, dando início a um fenômeno que aos poucos se expandiu para outros campeonatos.

No mesmo ano, inclusive, o Club Brugge enfrentou a Roma pela Copa da Uefa na Bélgica e perdeu a partida por 2 a 1, recebendo a revanche. Os italianos relembraram a provocação dos belgas ao compatriota Milan e fizeram o mesmo. “Eu nunca tinha escutado a música antes de ter entrado no campo do Brugges. Desde então, não consigo tirar da minha cabeça. Era fantástico e a torcida estava totalmente imersa naquilo. Assim que sai comprei um dos álbuns da banda”, disse, na época, Francesco Totti, capitão da Roma.

E aquilo ficou no inconsciente coletivo dos italianos. Na Copa do Mundo da Alemanha de 2006, quando a Seleção da Itália conquistou o título contra a França, os seguidores da Squadra Azzurra relembraram os acontecimentos anteriores e cantaram o mesmo trecho para celebrar pelas ruas do país. “Me sinto honrado que os italianos tenham adotado a música. Nada é mais bonito do que quando uma pessoa abraça uma melodia a deixando entrar no panteão da música popular. Como compositor é algo impossível de planejar. Eu amo a ideia de que a maioria das pessoas que cantam não tem a menor ideia de onde ela veio”, divertiu-se Jack White em uma entrevista na ocasião.

A partir daí a ampliação foi descontrolada. Seven Nation Army foi tocada em outros momentos na Eurocopa e na Liga dos Campeões e posteriormente invadiu jogos da NBA, partidas da NFL e até mesmo competições do futebol brasileiro. O The White Stripes lançou mais três discos de estúdio, Get Behind Me Satan (2005), Walking with a Ghost (2005) e Icky Thump (2007), e em 2011 anunciou o fim do grupo, ficando marcado na história do rock – e, porque não, do esporte.

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