Língua e cultura diferentes não impedem coreanos do BTS de conquistarem fãs no Brasil
Jin, Suga, J-Hope, RM, Jimin, V e Jungkook. Pode parecer um pouco estranho e você talvez não reconheça esses nomes, mas provavelmente já ouviu falar do BTS. Os sete integrantes da boyband sul coreana desembarcaram no Brasil para dois shows da turnê “Love Yourself: Speak Yourself”: um neste sábado (25) e outro no domingo (26).
Coreografias, cores exuberantes e letras de empoderamento e amor próprio ganharam o coração de uma legião de fãs.
Em frente ao Allianz Parque, local onde os shows no Brasil acontecem, tem gente acampando desde fevereiro para garantir o melhor lugar perto do palco. Integrante da primeira barraca na fila, a Giovana Silva ainda nem acredita que o show está tão perto: “Ainda não caiu a ficha!”.
Pode parecer exagero tanto tempo de espera na fila, mas não é para menos. No total, mais de 90 mil ingressos foram vendidos. Os meninos do BTS conquistaram uma legião de fãs no Brasil e acumulam recordes no mundo todo. O fenômeno do K-pop se tornou o primeiro grupo a passar cinco semanas no topo da Billboard, lista com os artistas mais populares do momento. Também é o primeiro grupo desde os Beatles a emplacar três álbuns no auge das paradas em menos de um ano.
A Giovana, uma das primeiras da fila, tem 17 anos e reveza o lugar com outras amigas. De manhã vai às aulas na escola e à tarde já volta para o acampamento. Ela começou a gostar da banda depois que a irmã mais velha, ligada na cultura japonesa e coreana, apresentou o BTS a ela. Giovana conta que a banda ajudou a superar traumas difíceis da infância. E não está sozinha. A carioca Maria Luísa da Silva Gomes, de 14 anos, tem ansiedade e encontrou nas canções inspiração.
Ao lado da nova amiga, Maria Luísa conta que estar perto dos ídolos é um sonho: “Eu não estou acreditando, não dá para acreditar. É incrível! Vamos ver as coreografias pessoalmente, a gente vai ouvir as vozes sem efeito, vamos vê-los sem maquiagem, então é um sonho”.
Ela, inclusive, trocou uma festa de 15 anos pela oportunidade de estar frente a frente com os ídolos. “Eu cheguei para os meus pais e pedi a troca, mas fui colocando tudo na lista, avisei que teríamos que ir a São Paulo, comprar ingresso, passagem de avião, dormir na fila…”, relembra a estudante.
Maria Luísa conta que o pai apoiou a aventura: “Foi bem cansativo para ele, mas ele se diverte, entra na fila”.
O Rio de Janeiro está bem representado no acampamento. A estudante de pedagogia na UFRJ, Alejandra Rodrigues de Oliveira, também está entre as primeiras a cruzar os portões e garantir a grade perto do palco.
A língua não impede as meninas de aprenderem as músicas. A Alejandra conta que algumas fãs ajudam na “romanização” das letras, ou seja, quem sabe coreano escreve os fonemas das músicas no alfabeto latino, utilizado na maioria das línguas, como no português. Isso ajuda a memorizar mais fácil.
“Há também aplicativos de legenda nas lives deles e as fãs mesmo traduzem (…) Sempre tem como entender, sempre tem como você se sentir mais perto deles”, conta Alejandra.
No Brasil, a fanbase é grande. E gente do país inteiro fez de tudo para estar em São Paulo neste final de semana.
De Goiana, a Larissa Gabriela, de 23 anos, veio encontrar a melhor amiga Nathalia Dantas Cortes, 18, que está na fila desde fevereiro. As duas, inclusive, se conheceram na internet por causa de BTS.
E do Tocantins, a jovem Lauane Medrado, de 15 anos, precisou passar por muita burocracia para conseguir chegar, sozinha, em São Paulo. Ela largou tudo e vendeu até o celular para poder curtir o momento mais esperado da vida: ver um show da banda favorita.
“Eu chorei muito, é um sonho! Esperei três anos para ver esse show, em 2017 eu não consegui vir”, conta.
Lauane dança desde criança e no acampamento acaba ensinando as coreografias para as novas amigas.
Fãs de outros países também vieram para o Brasil. A argentina Lúcia Torres se desesperou quando viu que a turnê não passaria por Buenos Aires. Ela encarou duas jornadas de trabalho e vendeu a coleção de álbuns que tinha para poder acompanhar os dois shows do BTS em São Paulo: “Meus CDs do BTS? Vendi todos!”. Além de garantir um lugar bem pertinho dos ídolos, a Lúcia fez novas amigas e disse que no Brasil ganhou uma nova casa. “Muito lindo o seu país! Não quero ir embora”, afirma a argentina.
O ARMY, termo designado ao grupo de fãs, é bem diverso. A “vó”, como o pessoal do acampamento chama a dona Maria Ibid, de 66 anos, diz que a música é universal: “O amor também é universal e ser fã não tem idade”.
Ela e a neta de 11 anos adoram BTS, mas a “Vó” garante que estaria lá mesmo sem a companhia da menor.
Além dela, muitos pais estão virando noites em frente ao estádio por causa dos filhos. É o caso do Marco Aurélio da Silva Araújo que foi convencido pela filha.
O José Lopes da Rocha Neto, inclusive, saiu de Fortaleza em caravana: trouxe a filha, a sobrinha e mais uma turma. “Fizemos esse sacrifício porque elas são fissuradas em BTS”, conta Neto.
Nos dias que antecederam o primeiro show, o clima geral no acampamento era uma mistura de cansaço expectativa, mas nem a chuva tirou a animação.
As músicas, cantadas em coreano e inglês, falam principalmente sobre saúde mental, juventude, amor próprio e relacionamentos. E é isso que mais chama a atenção dos fãs.
A banda colaborou na campanha antiviolência da Unicef, no ano passado, e os integrantes se tornaram os primeiros astros do K-Pop a discursar nas Nações Unidas.
A turnê “Love Yourself: Speak Yourself” já lotou três grandes estádios nos Estados Unidos. Depois do Allianz Parque, o grupo se apresenta no Stade de France, em Paris, no dia 7 de junho.
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