No show do Pearl Jam em SP, Vedder mostra preocupação com o público

  • Por Jovem Pan
  • 16/11/2015 07h48
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Flavio Hopp / Brazil Photo Press/Folhapress

Eddie Vedder, vocalista da veterana banda Pearl Jam, repetia sobre o palco que tinha apenas uma preocupação: a segurança de todos que ali estavam para vê-los. O músico sempre foi cordial, simpático e atencioso nas passagens pelo Brasil. O mundo, até então, vivia um período anterior a 13 de novembro de 2015. Os atentados que atingiram Paris, em especial o massacre ocorrido casa de shows Bataclan, na noite de sexta-feira, 13 de novembro, responsável por matar 129 pessoas e deixar 352 feridos, durante o show da banda Eagles of Death Metal, deixou profundas cicatrizes até mesmo em quem estava a quilômetros de distância. 

Em português, em inglês, Vedder repetia que a segurança de todos ali presentes no estádio do Morumbi, na noite de sábado (14) era a prioridade total da banda. “A qualquer momento, se algo acontecer com algum de vocês, avisem as pessoas próximas. Temos um código para saber que devemos parar de tocar”, explicou. 

“Sentimos que precisávamos estar em companhia de pessoas nesta noite”, disse Vedder logo entre as primeiras músicas. Ele segurava folhas de papel com as frases em português. “Estamos felizes de estar com vocês em São Paulo. Nosso amor vai todos em Paris. Nós ainda temos muito o que superar juntos.” 

Eddie é ovacionado. E emenda Love Boat Captain, faixa do álbum Riot Act, cujo verso final traz uma descarada citação aos Beatles. A primeira da noite. “I know it’s already been sung, it can’t be said enough / Love is all you need, all you need is love”, diz a canção. “Eu sei que isso já foi cantado, mas nunca é demais. Tudo o que você precisa é amor”, em tradução literal.

A chuva também era uma preocupação de Vedder e companhia. Em Porto Alegre, primeira apresentação da trupe por terras brasileiras nesta nova turnê, a água caiu impiedosamente. Em São Paulo, tudo estava abafado demais até pouco mais da primeira metade da performance. Em Better Man, no momento mais explosivo da canção, gotas pesadas e frias caíram do céu impiedosas. Uma tempestade atingiu o Morumbi para rivalizar com o furacão chamado Pearl Jam que estava no palco.

Foi como um duelo de titãs: de um lado, o peso das guitarras de Mike McCready e Stone Gossard, o baixo audacioso de Jeff Ament, a bateria impiedosa de Matt Cameron, além da impressionantemente boa voz de Vedder; do outro, o clima paulistano. Pearl Jam contra os céus. E, simbolicamente, a banda veterana do grunge saiu-se vitoriosa. 

Ao fim de mais de três horas de show – sim, você leu certo -, as capas de chuva, vendidas ali dentro por abusivos R$ 10, já tinham sido sacadas pelo público e Vedder saboreava as poças d’água deixadas pela chuva no palco com mergulhos, correndo de um lado para o outro. 

Uma rápida dica para os namorados e namoradas que, abraçados nos seus companheiros, viram o grupo cantar a plenos pulmões a música Better Man: prestem atenção nos versos da canção e, eventualmente, proponham uma conversa sobre o relacionamento de vocês. “Ela mente e diz que o ama, mas (a verdade é que) não consegue encontrar um homem melhor que ele”, canta Vedder. Se escorreu uma lágrima pelo rosto do cônjuge, meu caro e minha cara, as situação pode ser ainda mais grave.

Foram mais de 30 músicas, três horas e três bis. O último, aliás, pareceu ser completamente improvisado, já que a banda já tinha terminado o segundo retorno, deixado os instrumentos de lado e se reunido na beirada do palco para se despedir. Todos os refletores do estádio já estavam acessos quando Vedder se virou para os demais, fez uma expressão de quem diz: “olha, esses caras não vão embora”. Em seguida, pediu para que todos voltassem a seus postos para tocarem mais uma. 

O Pearl Jam é daquelas bandas que, sim, fazem essas três horas passarem rapidamente. Peso grunge de mais de 20 anos de estrada, voz impecável de Vedder, e uma entrega que impressiona no palco. Se os discos mais recentes não atingiram os números astronômicos de venda e aceitação da crítica quanto Ten ou Vs., Sirens, do mais novo Lightning Bolt, é tão bela e impactante no palco quanto qualquer um dos hits da banda. 

Porto Alegre, no dia 11, testemunhou Comfortably Numb, cover do Pink Floyd, executado pelo Pearl Jam pela primeira vez na história. São Paulo, por sua vez, teve uma cover executada outras 10 vezes na carreira da banda. Imagine, de John Lennon, já tinha sido inclusive tocada nesta turnê pela América Latina, no Chile. 

Não doía ou sangrava tanto quanto a versão exibida em São Paulo, contudo. O mundo se divide entre antes e depois do dia 13. Pouco mais de 24 horas depois do massacre, emocionou ouvir Vedder dar voz ao pedido de Lennon. “Imagine all the people living life in peace.” O arrepio que percorre o corpo (até agora), com a lembrança do estádio lotado, do coro de 65 mil pessoas entoando esses versos, não tem conexão com a garoa fria e fina que ainda caía naquele momento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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