A vez dos singles: como eles se tornaram protagonistas no cenário musical

  • Por Jovem Pan
  • 10/05/2018 13h28
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Singles. Você já deve ter ouvido muito essa palavra por aí, principalmente nos últimos tempos. Foi assim que Anitta acertou com o CheckMate, Alok emplacou hits e entrou para o top 10 de maiores DJs do mundo e Luis Fonsi conseguiu uma indicação ao Grammy com “Despacito”.

Os singles não são novidade. Pelo contrário: eles sempre estiveram no meio musical, afinal é com eles que os artistas conseguem se promover ao divulgar aquela música que leva toda a sua expressão artística. Mas não é difícil perceber que a presença deles aumentou e quase dominou a indústria da música.

Antes, a regra era simples: lançar um álbum e escolher até 3 músicas para trabalhar como single por alguns meses. Dessa forma, um mesmo disco durava até 1 ano sendo trabalhado sem parar. Agora o disco ficou em segundo plano. A estratégia é acertar em um single, depois em outro e em mais outros para ficar sempre em destaque e, depois, pensar em um álbum.

Mas como passamos de uma época em que corríamos comprar um CD – muitos ainda guardados em casa como relíquias – para uma era em que nossas playlists são, em sua maioria, singles? A resposta curta é simples: a internet.

Pirataria e streaming: música acelerada

Lembra quando surgiram os MP3s e a chance de colocar várias músicas de diferentes artistas em um mesmo lugar? Essa invenção foi o ponto de virada na forma como consumimos música e ela passou a ser trabalhada nos estúdios.

“O MP3 destruiu as vendas do CD. A música começou a se piratear e as vendas do CD começaram a baixar. Com os sistemas de baixar música pela internet, como o Napster, as pessoas deixaram de valorizar o CD e o material do artista da mesma maneira”, explica a manager Roxy Sozio, que atua há 25 anos com artistas na Espanha, Portugal, Estados Unidos e Brasil.

O poder cada vez mais forte da internet, as redes sociais e a posterior criação dos streamings só fez intensificar essa preferência pela forma de ouvir música. De repente, comprar um disco inteiro não era mais tão divertido quanto ter todos os hits da época.

“Com a rapidez da música e do negócio da internet, a música tem que acompanhar. As pessoas se interessam pela música bombada do artista. Ele sai com um single e as pessoas querem aquela música que se transforma em um hino”, diz Roxy.

O grande exemplo dessa estratégia é justamente “Despacito”, de Luis Fonsi. O porto riquenho com mais de 15 anos de carreira estourou com o hit depois da parceria com Daddy Yankee e Justin Bieber e, agora, seu nome está em todos os mercados musicais do mundo. 

O produtor e DJ Rick Joe, que já trabalhou com Anitta e Ludmilla, reforça: “os artistas que não sabem acompanhar esse crescimento, não conseguem competir no mercado”.

Singles: resultado rápido

Para o produtor Rick Bonadio, os singles são a melhor forma de se trabalhar na era digital – tanto para os artistas novos quanto para os veteranos – e os streamings devem ser vistos como aliados nessa nova era. Além da possibilidade de serem lançados com mais rapidez do que um disco completo, os singles conseguem colocar os artistas em destaque em várias plataformas e até gêneros musicais.

“As pessoas estão consumindo mais rapidamente e fica mais ágil lançar singles e ter sempre uma novidade do que esperar um álbum inteiro. A possibilidade de produzir uma música e subir imediatamente para deixar disponível é tentadora para artistas e produtores. A gente gosta de ver resultado logo. Com um single novo você consegue estar em destaque nas plataformas digitais a todo momento e tem mais exposição e maiores chances de se acertar um hit”, afirma.

Além do destaque musical, o retorno econômico é muito mais rápido com um single atrás do outro, com a chance de trabalhá-los com diferentes formas de marketing.

“É claríssima a rapidez do income de dinheiro e resultado na vida dos artistas, autores e compositores. E se um single funciona menos, daqui a duas semanas você pode resgatar o projeto com o lançamento do próximo single”, explica o produtor e DJ Rick Joe.

Explosão das parcerias

Com os singles, abrem-se também as portas de parcerias cada vez mais frequentes entre artistas de diferentes estilos musicais. Parcerias e singles andam lado a lado para, mais uma vez, promover o nome do artista e colocá-lo sempre entre os mais comentados.

Anitta é o maior exemplo disso com sua investida no mercado latino. Com J Balvin como aliado, ela lançou “Downtown” e “Machika” em um espaço de 4 meses. A parceria com Alok, que sai ainda neste ano, é outro lado da versatilidade e dominação dos dois artistas em campos diferentes dos seus originais.

O resultado é quase instantâneo: o nome de Anitta cresceu para o mercado colombiano, entre os fãs de música latina e reggaeton e não foi ignorado pela imprensa internacional. Ela já acumula performances no Premio Lo Nuestro 2018 e no festival LOS 40 Primavera Pop, na Espanha.

Singles e CDs: rivais ou aliados?

Apesar da dominação dos singles no mercado latino e nacional, esses lançamentos não substituem um álbum. Mas no novo cenário, os discos acabam se tornando uma consolidação do talento de cada artista, e não a forma principal de se promover.

“O disco é na realidade mais um instrumento de consagração dos grandes artistas que já tem seu nome na mídia”, diz Rick Joe. O público e base de fãs já fortalecido garante que o álbum não seja um flop.

“Até que um artista novo consiga essa solidez com a sua própria marca, deve seguir injetando sua música passo a passo, single por single, e trabalhando fã a fã até conseguir uma base com a qual trabalha”, afirma.

Rick Bonadio não só concorda como segue essa mesma estratégia com seus artistas. “É a melhor forma de desenvolver um público sem correr o risco de queimar um álbum todo. Amadurecer melhor o repertório e o próprio artista. Acredito que o álbum seja cada vez mais o resultado de vários singles trabalhados”, afirma.

Exemplos disso são Iza e J Balvin. A brasileira que se destacou com o hit “Pesadão”, se consolidou com vários singles antes de lançar o disco de estreia “Dona de Mim” neste ano. Já o cantor colombiano anunciou seu 3º disco, “Vibras”, para 25 de maio – mas desde seu último álbum, em 2016, foram mais de 10 singles: “Mi Gente”, “Machika” com Anitta e Jeon, “Familiar”, com Liam Payne, “X” com Nicky Romero e “I Like It” com a rapper Cardi B foram apenas alguns dos lançados neste ano.

Os singles são os melhores aliados para todos os lados: artistas novos, veteranos e fãs. A rapidez com que o público aguarda novidades, as chances de “testes” antes de um álbum e até mesmo para mostrar a versatilidade sem se comprometer inteiramente com um estilo – tudo isso é atendido pelos singles, que acabam tomando a dianteira dos álbuns, mas sem a força de substituí-los. Com a explosão dos singles e a consolidação dos álbuns com os trabalhos mais fortes, nossas playlists e coleções de CDs agradecem.   

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