“Não é a Academia que é racista, é o americano”, explica Rubens Ewald Filho sobre ausência de negros no Oscar

  • Por Amanda Garcia/Jovem Pan
  • 24/02/2016 14h54
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A cobiçada estatueta do Oscar tem pouquíssimos negros vencedores

EFE Oscar estatuetas

A festa estava pronta. A presidente da Academia é negra, o produtor e o apresentador são negros. No entanto, faltou avisar quem votaria para indicar os atores à principal premiação do cinema mundial. Resultado? Pelo segundo ano consecutivo, o Oscar ficou sem nenhuma indicação para atores negros.

Uma enxurrada de críticas foi feita e diversos famosos saíram em defesa de uma maior igualdade racial no Oscar. A campanha #OscarSoWhite tomou conta das redes sociais e falou-se até em boicote do evento.

Mas será que o problema se resume à Academia e seus métodos antiquados ou à indústria como um todo? Para o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, a questão é delicada e muito mais profunda: “não é a Academia que é racista, o americano é racista”.

Em entrevista à JP Online, Ewald explica que a cultura racista dos EUA se reflete até na corrida presidencial, com Donald Trump, candidato a representar o Partido Republicano nas eleições residenciais, defendendo a saída de todos os imigrantes do país.

Isso reflete no cinema. A indústria, que é o x da questão, de acordo com o crítico, é quem “rejeita não só negros, mas mulheres –são apenas 14% de diretoras, é muito pouco – e qualquer minoria”.

Para quem está à frente dessa indústria, o que importa é o lucro certo. “Eles não têm qualquer preocupação com arte ou cultura ou sociedade, apenas com dinheiro”, afirma.

A saída não será de uma hora para a outra. “Demanda tempo”, segundo Rubens. Uma das soluções que foram ventiladas após o fiasco das indicações foi a revisão completa de quem vota. O crítico destaca, porém, que se deve ter cuidado para não generalizar: “você não pode tirar de uma pessoa que trabalhou quarenta, cinquenta anos na Academia, ela pode ser genial aos 80 anos”.

Da mesma forma, é necessário “um equilíbrio” nas decisões. Rubens Ewald Filho lembra que atores negros devem ser votados quando de fato fizerem performances que merecem o Oscar, como aconteceu no SAG Awards.

TV à frente do Cinema

A TV vem desbravando caminhos na questão racial a passos largos. Cada vez mais negros protagonizam séries e conseguem papéis de relevância que chamam a atenção em premiações, caso de Viola Davis, de “How To Get Away With Murder”, no Globo de Ouro.

“A TV está sendo melhor que o cinema não só nisso, mas em produção, tem coisas melhores que o cinema”, define Rubens. E confessa: “é triste constatar isso”.

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