‘Numa democracia, ninguém deveria ter medo de se posicionar’, diz Tico Santa Cruz
Em entrevista à Jovem Pan, o músico falou sobre a importância do envolvimento da classe artística em questões políticas do país e a repercussão do single ‘Kit Gay’
No último dia 6 de novembro, a banda Detonautas divulgou o single ‘Kit Gay’ – faixa que satiriza as fake news divulgadas via WhatsApp e que tiveram forte participação no debate público durante as últimas eleições presidenciais no Brasil. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, Tico Santa Cruz, líder do grupo, falou sobre a importância do envolvimento da classe artística com questões políticas. “Numa democracia, ninguém deveria ter medo de se posicionar. O posicionamento público de um artista é importante para que possamos saber com que tipo de iniciativa esse artista se identifica”, disse. Apesar disso, o músico critica as ‘bolhas’ criadas com os algoritmos na internet, que limitam a discussão e podem reforçar a polarização online. “Isso prejudica muito o diálogo mais producente e precisa ser repensado”, completou.
‘Kit Gay’ chegou às plataformas digitais ilustrada por um clipe polêmico no qual Tico aparece seminu, coberto apenas por uma meia nas partes íntimas, e o restante dos Detonautas fantasiados. A música, segundo o cantor e compositor, é uma tentativa de combater as fake news, fazendo referências às acusações de Jair Bolsonaro contra Fernando Haddad. “O Kit Gay, mamadeira de piroca, a terra plana, artistas que ganharam dinheiro da Lei Rouanet para beneficiar partidos, são mentiras usadas até hoje. Entendemos que a melhor forma de desfazer esse tipo de informação falsa é tirando sarro com a cara de quem dissemina”, contou. “É claramente um deboche aos grupos que usam desse ou de qualquer outro artifício desonesto para impor sua visão política”, explicou. Em uma semana, o clipe ultrapassou a marca de 1 milhão de visualizações.
A resposta do público ao single, como os artistas já esperavam, foi bastante instantânea e recheada de polêmicas. Por conta do figurino do líder do grupo, e depois de denúncias, o Facebook bloqueou o clipe e restringiu, por três dias, a conta oficial do cantor, que usou sua conta no Twitter para dizer que, mesmo que tentem, não conseguirão censurar a música. “Postaremos mais e mais”, escreveu. Mas, afinal, qual é o objetivo dos Detonautas com o trabalho? À Jovem Pan, o músico contou que sua principal mensagem é de crítica ao governo, ao sistema político e alertar o eleitor. “É preciso deixar claro que político é para ser cobrado e não idolatrado como estão fazendo em todos os espectros. Político é servidor público, não é celebridade. E através da música a gente pode dar esse toque.”
Eles inventam as fake news, aí a gente faz uma música pra denunciar e satirizar a cara deles, o que o FB faz, bloqueia a gente por 3 dias!!! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
Não conseguirão censurar “kit Gay” – postaremos mais e mais!!! pic.twitter.com/thQeGTdbjX— Ticosantacruz 🇧🇷❤️🤘🏻 (@Ticostacruz) November 6, 2020
‘Kit Gay’ é a quarta música ‘politizada’ divulgada pelo Detonautas neste ano. Até o momento foram divulgados os singles ‘Cartãoo Ao Futuro’, em 14 de agosto, ‘Micheque‘, em 4 de setembro e ‘Mala Cheia’, lançada em 9 de outubro. A sequência de lançamentos, naturalmente, imprime o sentimento do grupo com o país e a realidade política, que, segundo Tico, é ruim para a democracia. “O país é imprevisível e isso é ruim pra todo mundo, porque quando se perde a esperança, se perde a referência de lutar por algo bom. As pessoas estão cansadas de tanta briga, polarização, confusão, mentiras. Espero sinceramente que em cinco anos, pelo menos, ainda estejamos num regime democrático e que possamos buscar diálogos. Caso contrário, estaremos vivendo em regime medieval”, disse.
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