O adeus ao palhaço mais triste de Hollywood

  • Por Agencia EFE
  • 11/08/2014 22h23

Mateo Sancho Cardiel.

Nova York, 11 ago (EFE).- Robin Williams fez várias gerações rirem com “Uma Babá Quase Perfeita”, sonhar com “Sociedade dos Poetas Mortos” e foi “o gênio mais genial” em “Aladdin”, mas sempre arrastou um ar de amargura que, de “Bom Dia, Vietnã” a “Gênio Indomável”, deu vida ao palhaço mais triste de Hollywood.

O falecido ator Christopher Reeve contou uma vez que a primeira pessoa que o tinha feito rir após ficar paraplégico ao cair de um cavalo tinha sido Robin Williams.

Tinham sido companheiros de estudos de interpretação na Julliard School e amigos durante toda a vida. Quando estava ainda internado no hospital, Williams se fez passar por um médico russo que queria fazer uma colonoscopia em Reeve.

Esse era o terreno do ator, o riso para ocultar o pranto, e hoje os rumores de suicídio recaem de maneira terrível sobre a morte de um dos grandes comediantes de Hollywood.

Williams, nascido em Chicago em 1951, tinha combinado desde bem jovem um gênio irresistível e uma verborragia sem igual com uma vida pessoal infestada de debilidades.

Antes de saltar à interpretação tinha começado a estudar Ciências Políticas, uma inquietação comprometida que nunca lhe abandonou em seus ácidos discursos, como quando em uma edição do Festival de Berlim disse: “Não sei o que fazemos buscando armas químicas no Iraque quando seria mais fácil olhar nas tabuletas do Pentágono”.

E antes de chegar à fama, que veio antes na televisão com séries como “Happy Days” e, principalmente, “Mork & Mindy” na segunda metade dos anos 70, já havia flertado perigosamente com a cocaína, que compartilhou com outro amigo vitimado pelas drogas, John Belushi.

“A cocaína é a maneira que Deus tem de dizer que você está ganhando dinheiro demais”, dizia com ironia.

O cinema demorou mais em dar-lhe as boas-vindas, mas foi em grande estilo com “Bom Dia, Vietnã”, de Barry Levinson, que tirou um partido único de sua rapidez verbal, seu engenho e sua capacidade para combinar um grande sorriso com um olhar triste.

Também lhe representou sua primeira indicação ao Oscar e abriu sua melhor época profissional e vital, continuada com “Sociedade dos Poetas Mortos”, de Peter Weir, o filme que fará com que hoje se levante toda uma geração de adolescentes a despedir-se com o grito de “Oh, capitão, meu capitão”.

O trio de ases (e de indicações ao Oscar) se arredondou com “O Pescador de Ilusões”, de seu ídolo, Terry Gilliam, um dos Monty Python.

Depois disso, a Disney pensou nele como o único capaz de dar voz ao gênio de “Aladdin”, seu gigantesco êxito comercial, e sua perícia foi tão bárbara que alguns inclusive pediram uma quarta indicação ao Oscar por um trabalho de dublagem.

Como dizia a música que ele mesmo cantava em infinitos tons e vozes diferentes, não havia no mundo “um gênio tão genial”.

Já Steven Spielberg pensou no contrário: em dar-lhe o papel de um Peter Pan enfastiado e amargurado em sua vida real e voltando a Terra do Nunca para solucionar sua insatisfação. Assim “Hook – A Volta do Capitão Gancho” reafirmou sua conexão com um de seus públicos mais fiéis: o infantil.

“Uma Babá Quase Perfeita”, na qual se transformou em uma adorável empregada doméstica britânica para passar mais tempo com seus filhos, lhe valeu um Globo de Ouro e mais um grande êxito comercial.

Seguiriam outros filmes como “Jumanji”, “Patch Adams” (não em vão, sobre o tratamento do riso) e a incompreendida “Jack”, raridade agridoce de Francis Ford Coppola.

O Oscar chegou finalmente na quarta indicação em 1997, dessa vez a ator coadjuvante, em um papel tão agridoce como ele mesmo: o psiquiatra viúvo de “Gênio Indomável”, de Gus Van Sant.

Pela primeira vez, Robin Williams ficou quase sem palavras ao subir ao palco perante a ovação de seus colegas. Porém, logo em seguida, se recuperou e começou a brincar.

Desde então, por outro lado, nunca voltou a conseguir um grande papel à altura de seu talento, apesar de ter participado de filmes notáveis como “Insônia”, do agora idolatrado Christopher Nolan, e sucessos de bilheteria como “Uma Noite no Museu”, além de ter emprestado sua voz a outra animação em “Happy Feet – O Pinguim”.

Em 2006 voltou a um centro de reabilitação após reconhecer seu alcoolismo e em 2009 sofreu problemas cardíacos. Mas nada parecia indicar que Robin Williams, que seguia mais no coração do espectador que na mente dos produtores, iria partir de maneira tão repentina.

Uma sequência de “Uma Babá Quase Perfeita” havia sido anunciada, assim como um terceiro “Uma Noite no Museu”. Na vida pessoal – um tanto caótica, da qual sobrevivem três filhos de seus dois primeiros casamentos -, o ator estava um casamento ainda curto, mas aparentemente estável com Susan Schneider.

“A vida só te dá uma pequena faísca de loucura. Não ouse perdê-la”, disse em uma ocasião. EFE

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