“O flamenco foi, é e sempre será puro”, afirma o bailaor Farruquito
Carlos A. Moreno.
Rio de Janeiro, 20 nov (EFE).- O bailaor espanhol Farruquito afirma que seu espetáculo “Improvisao”, que será exibido em três cidades brasileiras neste mês, não significa um retorno ao flamenco puro porque esta arte nunca deixou de ser pura.
“Para quem é flamenco desde o início de seus dias, o flamenco sempre será puro. Se vai fazê-lo melhor ou pior, isso depende da constância, da dedicação ou da facilidade de cada um. Mas o flamengo foi, é e sempre será puro”, disse nesta quinta-feira em entrevista à Agência Efe o neto do lendário bailaor cigano Farruco.
Juan Manuel Fernández Montoya, popularmente conhecido como Farruquito, filho do cantador Juan Fernández Flores, o Moreno, e da bailaora Rosario Montoya Manzano, a Farruca, acredita que as representações artísticas que saem do flamenco tradicional apenas o desvirtuam e não podem ser consideradas flamenco.
“As misturas (de artes) são bonitas quando se tem conhecimento de ambas as coisas, mas, se já é difícil ter conhecimento sobre um flamenco puro, imagina se também for preciso ter conhecimento de outras coisas”, afirmou Farruquito após dar uma aula a estudantes de flamenco na sede do Instituto Cervantes, no Rio de Janeiro.
Como diz o nome, “Improvisao”, que o espanhol apresentará na sexta-feira na capital fluminense, no domingo em Porto Alegre (RS) e na segunda-feira em São Paulo (SP), é um espetáculo em que os participantes improvisam o canto, a dança e o violão.
“A proposta é simplesmente um espetáculo que tem uma estrutura. Sabemos o que vamos fazer, qual o programa que vamos fazer, mas logo depois, nada mais. Tudo o que acontece a cada noite é diferente. Eu conto com um elenco de flamenco que tem uma formação flamenca, ou seja, desde o berço, de casa”, explicou.
“Então podemos falar perfeitamente o mesmo idioma. Há alguns códigos, gestos, que nós, flamencos, temos para saber o que vamos fazer em cada momento”, acrescentou o bailaor que conquistou o Prêmio Giraldillo 2014, em Sevilha.
Apesar de ser considerado um dos bailadores mais consagrados do mundo, Farruquito afirma que ainda não alcançou sua maturidade artística e que ainda tem muito a aprender.
“Sou muito jovem. Tenho só 32 anos e o flamenco é muito difícil. Então, para ser maduro no flamenco é preciso ter muitos anos. Eu acho que agora é que estou aprendendo”, disse.
Farruquito avaliou os encontros que tem com estudantes e admiradores do flamenco em todas as cidades que visita, como o desta quinta-feira no Rio de Janeiro. Esses encontros permitem não só a divulgação a cultura que o flamenco representa, mas também conhecer as expectativas de outros admiradores.
“Os encontros me ensinam muito porque vejo a curiosidade que cada um tem. Eu mostro um pouquinho de motivação para que eles continuem a se interessar pela história do flamenco e não se conformem apenas em aprender alguns passos em um estúdio”, afirmou.
Farruquito acredita que, apesar de o flamenco ser mais presente na Espanha, nada impede que seja bem praticado em outros países e que inclusive ele possa aprender com a arte dos não espanhóis.
“Isso é muito relativo. No Brasil, vi gente dançando muito bem profissionalmente e já vi gente dançando muito mal na Espanha, com muito pouco conhecimento. Não quer dizer que você possa ser melhor porque mora em um lugar ou em outro”, comentou.
“É claro que na Espanha o flamenco é respirado um pouco mais de perto, mas depende da cidade. Na Andaluzia sim, mas fora da Andaluzia não se respira o flamenco igual. Então tudo o que estiver conectado ao flamenco, toda a ligação que você tiver com o flamenco, esse vai ser o carinho que você terá ou que o flamenco terá por você”, analisou.
Segundo o bailaor, para chegar a ser um flamenco com a mesma qualidade de um nascido em Sevilha, independentemente da procedência, é preciso ser apaixonado por essa cultura e se dedicar todo o tempo possível para se aprofundar.
Apesar do tempo perdido pela condenação que cumpriu pela morte que provocou em um acidente de trânsito, Farruquito diz que nunca se afastou da dança.
“Sempre estive dançando ao longo desse tempo. Sempre fui um bailaor de flamenco, sempre lutei pela minha profissão”, concluiu. EFE
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