“Sou uma gota no oceano”: a arte da revolução ucraniana

  • Por Agencia EFE
  • 07/05/2014 06h11
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Paula García Gómez.

Viena, 7 mai (EFE).- Máscaras de gás penduradas no teto, rodas de carros, fotografias e pôsteres artísticos são algumas das obras de artistas ucranianos criadas na recente revolução do país, que formam a exposição “Sou uma gota no oceano”, no Museu Künstlerhaus de Viena.

“O que podemos ver são verdadeiras peças de arte, documentos da revolução, da situação e dos sentimentos vividos pelos ucranianos”, contou Peter Zawrel, diretor do Künstlerhaus.

Esta exposição particular, aberta ao público até o próximo dia 25, relata, em forma de imagens e instalações plásticas, os protestos que sacudiram a Ucrânia entre novembro de 2013 e fevereiro deste ano, suscitadas pela recusa do então governo pró-Rússia de assinar o Acordo de Associação com a União Europeia.

“I am a drop in the Ocean” (título em Inglês) era o slogan que os manifestantes usavam durante os protestos na Praça da Independência (Maidan) de Kiev.

Conforme explicou Zawrel, em declarações à Agência Efe em Viena, a essência da exposição “é mostrar uma realidade” através de 30 obras produzidas por dezenas de artistas ucranianos que se negaram a ficar passivos em suas casas e decidiram ir às ruas para fazer a revolução.

“Os objetos e obras expostas são trabalhos originais cedidos pelos próprios artistas e cidadãos comuns de Kiev que transmitem sentimentos”, destacou o diretor do museu.

A situação vivida em Maidan foi “realmente grandiosa, se tratava da vida e da morte”, relatou Zawrel, acrescentando que é exatamente este sentimento que o visitante pode sentir depois de ver as obras.

Assim, uma das fotos mais impactantes do fotógrafo ucraniano Markiyan Matsekh é a de um pianista tocando Chopin na frente de 500 policiais antidistúrbios, comentou à Efe uma das guias do museu. Trata-se de uma imagem que se tornou, como um todo, um símbolo da paz e dos protestos.

Outra obra impactante é “Renúncia ao reino da escuridão” e mostra uma manifestação liderada por um grupo de pessoas que se intitulava Setor Civil de Maidan. Neste protesto, os manifestantes ficaram na frente da polícia com vários espelhos. A ideia era que os próprios agentes pudessem se enxergar refletidos, como as pessoas da cidade os viam.

Boris Mikhailov, um fotógrafo ucraniano radicado em Berlim, decidiu viajar para Kiev para conhecer por conta própria a situação em Maidan. Suas imagens mostram as barricadas de madeira e as rodas de carros que os manifestantes montaram para se proteger das agressões das unidades especiais da polícia ucraniana.

Nikita Shalennyi é a autora de “Onde está seu irmão?”, uma foto baseada no quadro “A Lição de Anatomia do Dr. Tulp”, do pintor Rembrandt, adaptada à realidade ucraniana de hoje.

Rembrant mostra em sua pintura uma aula de anatomia dada pelo doutor Tulp a um grupo de cirurgiões. Shalennyi substitui em sua obra o médico e os cirurgiões por policiais, e o paciente, por um manifestante civil morto.

A ideia para esta exposição surgiu depois que um dos organizadores artísticos da Künstlerhaus foi a Kiev, onde viu algumas das obras expostas agora em Viena. Apesar de a exposição estar na capital austríaca apenas até o dia 25, o diretor garante que esse é apenas o começo.

“Estamos trabalhando para levar a exposição a outros lugares. Os museus de Nova York, Polônia e Alemanha já expressaram interesse”, concluiu Zawrel. EFE

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