Estudantes brigam por autoria de ‘O Sétimo Guardião’ e estreia pode ser suspensa; entenda

  • Por Eduardo F. Filho
  • 17/10/2018 14h40 - Atualizado em 17/10/2018 16h51
Gabriel Cotta/Globo Folhetim será estrelado por Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa

Desde outubro do ano passado, a nova novela das 21h da TV Globo, “O Sétimo Guardião”, de Aguinaldo Silva, prevista para estrear em novembro, passa por imbróglios judiciais. Começou quando um dos alunos das “master class” do novelista, Silvio Cerceau, falou publicamente que a ideia original do folhetim, o primeiro capítulo e a sinopse eram, na verdade, dos 26 estudantes da turma de roteiristas e não do professor. Na época, Aguinaldo se defendeu nas redes sociais e abriu um processo contra o Cerceau.

Porém, assim como nas novelas do escritor, nesta semana houve uma reviravolta no caso: outros seis estudantes (Ariela Massotti, Danilo Castro, Ryllberth Ribeiro, Valtair Barbosa, Washington Duque e Weber Lasaro Oliveira) escreveram uma carta aberta à imprensa reforçando que a autoria é deles. Foram, inclusive, além de Cerceau, dizendo que não só a sinopse e o primeiro capítulo, mas toda a trama principal e a secundária (incluindo cerca de 50 personagens) foram criados por eles.

Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, Silvio Cerceau e Washington Duque explicaram os detalhes dessa briga judicial – que está longe de ter um término. Aliás, o fim pode estar próximo para a própria novela. Cerceau revelou, em primeira mão, que nas próximas semanas deverá entrar com uma liminar pedindo a suspensão da estreia do folhetim até que saia uma decisão do juiz.

Como o enredo foi criado

O objetivo das “master class” de Aguinaldo Silva é apresentar o tipo de escrita para novelas ao aprendiz de roteirista. Nas primeiras aulas da turma em questão, os 26 alunos foram solicitados, como parte de um exercício, a reescrever cenas de novelas passadas do novelista. Audaciosos, no entanto, pediram para fazer algo diferente. Em vez de recriar cenas, queriam apresentar ao mestre uma narrativa criativa totalmente nova.

Colocaram, então, as mãos à obra. A narrativa se passaria em uma cidade do interior (Serro Azul, nome criado em homenagem a Aguinaldo) e teria uma fonte de água mágica guardada por sete guardiões e um gato. Era o início do enredo de “O Sétimo Guardião”.

“Ele não é autor da sinopse nem do primeiro capítulo da novela. Eu quero apenas os meus direitos. Quero ver o meu nome escrito na abertura da novela diariamente ao lado do Aguinaldo como co-autor e meu direito patrimonial. A minha ideia foi vendida para a Globo para o horário nobre, o produto mais caro do mercado televisivo brasileiro. Estamos falando de mais de seis dígitos de cifras”, explica Cerceau.

Segundo ele, o processo reúne mais de 700 páginas e está “em cima da mesa da juíza, só esperando uma audiência”. Enquanto aguarda a decisão, vai entrar com um pedido de liminar para suspender a exibição. “Houve posse indevida desse material. O Aguinaldo está enganando as pessoas”, diz. “Se a novela começar e acabar sem o resultado, nós vamos perder os nossos direitos, ela não pode ser exibida com esse processo em andamento.”

“A confiança se quebrou”

Outro estudante que não está contente é Washington Duque, um dos autores da carta. Indagado sobre a demora para o posicionamento, disse que “nunca é tarde para lutar pelos seus direitos”. Diferentemente de Cerceau, porém, seu plano não é suspender a veiculação. “Queremos que a nossa obra seja exibida para o maior número de pessoas possíveis”, diz.

Duque disse que tinha respeito e admiração pelo novelista e que, por isso, saiu de sua cidade e investiu “todas as expectativas e recursos atrás de um sonho”. “Depois de ver as manifestações dele na imprensa, nas redes sociais e na Justiça, fiquei profundamente decepcionado. A confiança se quebrou. Hoje o vejo como uma pessoa sem palavra. Eu confiei na palavra de Aguinaldo Silva de que nosso trabalho seria reconhecido.”

A reportagem tentou entrar em contato com Aguinaldo Silva, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

A carta: “O começo da luta contra o direito tirado”

Na carta, os alunos dizem que ficaram surpresos com o início da produção da novela e que “Aguinaldo Silva e seus representantes passaram a utilizar a imprensa, as mídias sociais e a Justiça para afastar os roteiristas da Master Class 3 da obra e convencer a todos ser ele o único criador da história e, portanto, o único detentor de direitos sobre a mesma. Tal movimento, naturalmente, causou indignação, uma vez que o autor e seus representantes passaram a propagar inverdades sobre a criação da obra e declarações desrespeitosas, alegando que os co-autores seriam pessoas sem experiência, sem competência profissional e teriam contribuído de forma ínfima”.

Os amigos disseram também que sentiram medo de enfrentar o novelista na Justiça, mas que a busca pelos seus direitos e estar “do lado da verdade” foi maior do que os anseios. Eles acreditam que as portas da Globo estão abertas para esses futuros roteiristas e novelistas, pois eles tem “potencial criativo”, e que a carta aberta foi apenas “o começo da luta contra o direito que foi tirado de cada um dos 26 alunos”.

Leia a íntegra da carta: 

Os roteiristas abaixo nominados, alunos do curso Master Class 3 ministrado por Aguinaldo Silva em novembro e dezembro de 2015, vem a público esclarecer a verdade em torno da criação da sinopse que deu origem à novela O SÉTIMO GUARDIÃO.

A sinopse foi criada por um grupo de 26 roteiristas que, durante 15 dias, se dedicaram a desenvolver uma história, com trama principal e tramas secundárias, mais de 50 personagens e o primeiro capítulo da referida novela a partir de uma ideia original nascida em uma primeira reunião de trabalho, da qual participaram todos os alunos do curso.

Em que pese a ideia inicial de Aguinaldo Silva fosse criar um remake para sua novela O OUTRO, os roteiristas sugeriram uma trama original: uma história passada em uma cidade fictícia do interior cuja grande riqueza e segredo fosse uma fonte de águas curativas protegida por um gato e sete guardiões.

A partir dessa ideia, que encantou Aguinaldo, os roteiristas criaram toda a história, as tramas, os personagens e o primeiro capítulo da obra. Por sugestão dos alunos, inclusive, a cidade foi batizada de Serro Azul, como homenagem ao escritor na época.

Aguinaldo Silva havia comprovadamente anunciado que, caso a sinopse fosse produzida por uma emissora de TV e virasse uma novela, os direitos seriam devidamente reconhecidos em favor dos co-autores e os valores monetários provenientes seriam repartidos de forma equitativa entre os mesmos. Não faltam provas de tais alegações.

No entanto, para a surpresa de todos, com o início da produção da novela pela Rede Globo, Aguinaldo Silva e seus representantes passaram a utilizar a imprensa, as mídias sociais e a Justiça para afastar os roteiristas da Master Class 3 da obra e convencer a todos ser ele o único criador da história e, portanto, o único detentor de direitos sobre a mesma.

Tal movimento, naturalmente, causou indignação, uma vez que o autor e seus representantes passaram a propagar inverdades sobre a criação da obra e declarações desrespeitosas, alegando que os co-autores seriam pessoas sem experiência, sem competência profissional e teriam contribuído de forma ínfima.

A Rede Globo já está ciente da situação e foi notificada extrajudicialmente inúmeras vezes. Por razões que desconhecemos, a emissora prefere se omitir. Diante do exposto e fartos de sermos lesados sem que providências sejam tomadas para resolver a situação, decidimos tornar pública a nossa posição e deixar claro que não deixaremos de reivindicar nossos direitos.

Por fim, pedimos licença para utilizar uma frase do próprio Aguinaldo Silva quando, em uma situação anterior em seu início de carreira, se sentiu desvalorizado: “Nesse instante, do que estou mais precisando é de incentivos, e não que venha alguém minimizar o meu trabalho.”

As palavras de Aguinaldo contemplam exatamente o nosso sentimento em relação a essa história. Nesse instante, do que mais precisamos é de incentivos e não que venham minimizar o nosso trabalho.

Atenciosamente,
Ariela Massotti
Danilo Castro
Duque Ólliver
Ryllberth Ribeiro
Valtair Barbosa
Weber Lasaro Oliveira

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