Brad Pitt diz que ideia de masculinidade é ‘prisão’ que impede homens de se abrirem

Em entrevista, Brad Pitt discutiu o conceito da masculinidade e seu novo filme, ‘Ad Astra’

  • Por Jovem Pan
  • 18/09/2019 19h13
EFE/ETTORE FERRARI Brad Pitt Brad Pitt estrela 'Ad Astra', que estreia em 26 de setembro no Brasil

Depois de ter superado várias crises pessoais e dependências, Brad Pitt volta a demonstrar, aos 55 anos, por que é uma das maiores estrelas do cinema mundial.

Com o último filme de Quentin Tarantino, “Era uma Vez em… Hollywood” ainda em cartaz, estreia no dia 26 de setembro “Ad Astra“, uma odisseia espacial de James Gray, que questiona os valores associados à masculinidade.

“Crescemos com esta ideia da masculinidade que consiste em ser forte, não mostrar fraqueza, que não te faltem ao respeito… Mas essa ideia é uma prisão que nos impede de aprender com os nossos passos em falso, das nossas áreas mais frágeis, é uma barreira que nos impede de nos abrirmos com os que mais amamos”, disse o ator em entrevista durante a sua passagem pelo Festival de Veneza.

Vestido com camiseta e boné e o braço cheio de pulseiras, Pitt se mostrou amável e próximo com os jornalistas, apesar dos efeitos do ‘jetlag’, que ele disse tentar combater com um refrigerante de cola na mão.

Em “Ad Astra”, o astro de Hollywood interpreta um astronauta que viaja para os limites do sistema solar para buscar o pai (Tommy Lee Jones), que está desaparecido no espaço exterior há anos em uma missão que está colocando a perigo toda a espécie humana.

Pitt é também o produtor do filme, uma faceta que ele vem desenvolvendo há mais de uma década e com a qual conseguiu inclusive mais reconhecimentos que como intérprete: “12 Anos de Escravidão” (2013) e “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (2016), produzidas pela Plan B, sua empresa, levaram o Oscar de melhor filme.

Leia abaixo a entrevista:

“Ad Astra” é um filme de ficção científica espacial, mas o que conta é a história de um homem com um forte bloqueio emocional.
Brad Pitt: Essa era a ideia, usar a ficção científica para entregar um filme muito íntimo, que é uma viagem obscura da alma de um personagem que, ao se encontrar completamente sozinho, não tem alternativa que não seja enfrentar a si mesmo, sem distrações, se reconciliar com a sua própria luta, sua dor, os seus remorsos e a vergonha que sente de si mesmo.

Atualmente, estamos falando muito sobre feminismo, mas o interessante é que este filme põe sobre a mesa a outra cara da moeda, a crise de valores masculinos.
Pitt: James (Gray) e eu falamos muito sobre como crescemos com esta ideia da masculinidade que consiste em ser forte, não mostrar fraqueza, que não te faltem ao respeito… Mas essa ideia é uma prisão que nos impede de aprender com os nossos passos em falso, das nossas áreas mais frágeis, é uma barreira que nos impede de nos abrirmos com os que mais amamos.

Nos últimos anos, você superou várias crises pessoais. Isso o ajudou a entender este papel? Você se imagina desempenhando-o em outro momento da vida?
Pitt: Em todos os filmes, colocamos um toque pessoal. Temos que fazer isso, senão não funciona. Sempre penso no que posso fornecer a um filme. Este chegou neste momento porque tanto James quanto eu estamos muito interessado nesses temas.

O que você acha do empenho humano para conquistar o espaço?
Pitt: O ser humano sempre foi um pioneiro aventureiro, que deseja explorar o desconhecido, e continuaremos sendo assim, mas o que o filme vem dizer é que, enquanto isso, não podemos nos esquecer de cuidarmos uns dos outros.

Você disse que a motivação do seu trabalho como produtor é promover o talento. Um físico como o seu não lhe serviu também para se fazer respeitar na indústria?
Pitt: Não, não acho. Acho que o respeito é uma consequência do bom trabalho. Sempre amei a narração de histórias e em particular através do cinema. Produzir é uma maneira de participar de histórias nas quais não necessariamente encaixo como ator, mas que sinto que têm um poder, um peso e que dizem algo sobre o tempo que vivemos.

Com a bilheteria dominada por super-heróis, cinema de gênero e familiar, parece cada vez mais difícil fazer esse tipo de filmes. Qual é a sua experiência como produtor nesse sentido?
Brad Pitt: As coisas mudaram muito, os filmes são cada vez mais caras, especialmente a promoção, de modo que os grandes estúdios se veem forçados a se voltarem para superproduções-espetáculo, enquanto as histórias mais íntimas ou verdadeiras parecem condenadas a pequenos orçamentos. Com filmes como “Ad Astra”, combinamos as duas coisas. É uma aposta cada vez mais complicada, pelo menos para a telona, mas eu continuo empenhado nisso.

*Com EFE

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