Cacá Diegues recebe indicação ‘como troféu’, mas faz ressalva: ‘Oscar não é juiz supremo de qualidade’

  • Por Eduardo F. Filho / Jovem Pan
  • 12/09/2018 07h16
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Marcos Arcoverde/Estadão Conteúdo Seu mais novo filme, "O Grande Circo Místico", disputa vaga em 2019

A espera finalmente acabou. “O Grande Circo Místico” foi escolhido entre 22 títulos para representar o Brasil na disputa por uma indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar 2019. O diretor Cacá Diegues – que virou imortal da Academia Brasileira de Letras em agosto deste ano – disse em entrevista exclusiva à Jovem Pan que está “honrado” com a indicação, mas fez algumas ressalvas àqueles que consideram o prêmio um “juiz supremo de qualidade”.

“Eu estou vivendo um momento áureo no cinema brasileiro. Ser escolhido já é um troféu (…). É muito difícil você prever o que vai acontecer. Em geral você não sabe o que eles querem. Esses concursos e festivais são muito volúveis”, disse.

“Mas você não pode fazer do Oscar ou de Cannes o juiz supremo de qualidade do seu filme. É claro que eu preferia ganhar, mas não ganhar não vai mudar em nada. Acho que os cineastas brasileiros deveriam ter esse mesmo sentimento. O fato dele não ser amado no Oscar ou em Cannes não quer dizer que o filme seja ruim. Quem tem o direito e capacidade de julgar a qualidade de um filme feito no Brasil é o público brasileiro”, completou.

Ao comentar o assunto, negou que sinta qualquer tipo de frustração por não ter levado nenhuma estatueta com “Bye Bye, Brasil”, longa que recebeu indicação em 1980.

Cinema brasileiro em alta

Cacá, que estava em sua gravadora quando o telefone tocou trazendo a boa nova nesta terça (11), não sabe o que fez a comissão escolher seu filme, mas aposta na qualidade. “Todos eram realmente bons, havia muitos filmes, devo ter assistido metade deles”.

Para ele, o mercado cinematográfico brasileiro cresceu muito nas últimas duas décadas trazendo novos nomes, cineastas “de grandes valores e grandes qualidades”, para a direção. “Acompanho todos, gosto de ver e conhecer novos diretores. Felipe Bragança e Felipe Barbosa, por exemplo, têm uma qualidade imensa”, pontuou.

E afirmou ainda que a representação cada vez maior em festivais internacionais é resultado disso. “Antigamente você pegava o jornal e nas bilheterias os gêneros eram drama, comédia, romance e ‘nacional’. Desde quando ‘nacional’ é um gênero? Hoje o cinema brasileiro mostra isso, temos muitos gêneros dentro da gama nacional”, explicou.

Participação de animais nas gravações gera preocupação

Um dos assuntos que preocupa a produtora do filme (e mulher de Cacá) Renata Magalhães é o uso de animais durante as gravações. Mergulhados no projeto há 10 anos, desde que compraram os direitos do poema de mesmo nome do surrealista brasileiro Jorge de Lima em 2008, o uso de leões, camelos, elefantes e cavalos foi pauta de várias discussões. Acontece que, de acordo com ela, o aluguel desses bichos no Brasil era muito caro e criá-los em computador traria uma série de limitações.

A solução veio em solo internacional, mais precisamente em Portugal, quando alugaram o tradicional circo de Victor Hugo Cardinali. Lá, o uso de animais em atrações circenses é legal. “Não fiz nada de ilegal e posso garantir que nenhum animal sofreu abuso ou maus tratos. Aliás, fiquei amiga íntima do elefante Samba, tiramos várias fotos”, alegou Renata. “Os leões ainda comem carne de peru, porque não tem colesterol”.

Outro ponto que deixa a produtora orgulhosa é o elenco de peso que integra o filme. Mariana Ximenes, Jesuíta Barbosa e Bruna Linzmeyer estão entre eles. Renata disse que esse tempo prolongado para fazer o filme foi essencial para a montagem e preparação dos personagens. “Quase não usamos dublê. A Bruna fez aulas de contorcionismo por seis meses, a Mariana fez aulas de trapézio. Foi absolutamente incrível, o elenco é maravilhoso”.

“O Grande Circo Místico” estava previsto para estrear em 6 de setembro, porém foi adiado para 15 de novembro. O esvaziamento do mercado cinematográfico do Rio de Janeiro, principalmente depois das 20h por conta da violência, foi a principal razão.

“Depois das eleições, talvez, os ânimos estejam mais calmos. Se a gente eleger alguém que der esperança ao povo, as pessoas talvez fiquem mais afim de sair, de ir ao cinema, ver um filme lúdico que tem a ver com arte, fantasia, realismo mágico, afim de viajar um pouco e sair desse mundinho que vivemos”, concluiu.

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