Retorno de ‘O Rei Leão’ a São Paulo prova que musical também virou um clássico
Espetáculo, que está em cartaz no Teatro Renault, ganhou um toque atual na tradução, mas segue o mesmo molde da produção que há 25 anos faz sucesso na Broadway
Transformar uma animação em um espetáculo musical é desafiador por si só. Agora, transportar para os palcos um clássico da Disney com leões, pássaros, hienas e outros tantos animais é, sem dúvidas, um plano ousado e arriscado. Julie Taymor topou correr o risco e, com máscaras, fantoches e muitas referências africanas, conseguiu fazer um clássico da animação se tornar um clássico do teatro musical. Prova disso é que “O Rei Leão” está há 25 anos em cartaz na Broadway, soma um público de 112 milhões de pessoas ao redor do mundo e pela segunda vez é montado no Brasil. Novamente no palco do Teatro Renault, em São Paulo, o espetáculo reforça aquele velho ditado que diz: “Em time que está ganhando, não se mexe”. Para garantir a excelência do show criado há mais de duas décadas, uma equipe internacional, incluindo a própria Julie, acompanhou de perto o nascer da atual montagem. O resultado final apenas reforça que o musical não precisa se reinventar para continuar atraindo o público.
As exigências de uma produção réplica foram todas seguidas à risca, mas é interessante notar que, mesmo mantendo o padrão do show original, o musical busca conversar não só com a atualidade, mas também com o público brasileiro. A tradução permitiu que Louro José e Pelé fossem introduzidos no texto e que o Timão de Lucas Cândido arranque risos da plateia ao sair correndo gritando: “Senhora, senhora, senhora…”. O elenco também traz um ar de novidade. Ao todo, são 51 atores em cena, sendo 11 estrangeiros. Além de fortalecerem o coro, esses artistas internacionais ajudam a introduzir no espetáculo músicas e diálogos que acontecem em línguas africanas originárias. Vale destacar que duas atrizes sul-africanas assumiram papéis centrais na produção brasileira.
Como Rafiki, Zama Magudulela precisou aprender a cantar em português Ciclo da Vida — música que embala uma das cenas de abertura mais impactantes do teatro musical. Neste início de temporada, ainda é difícil compreender algumas palavras ditas pela atriz, mas no decorrer do espetáculo seu sotaque passa a soar como natural, e até parece proposital, visto que a personagem não tem falas apenas em português. Nokwanda Khuzwayo não tem a mesma sorte com Nala, isso porque não há uma justificativa para o sotaque da leoa. Dá para ver que a atriz está concentrada para falar e cantar em português, mas isso não atrapalha a experiência, pelo contrário, é bonito ver a dedicação da artista que substituiu Jeniffer Nascimento às pressas.
Já Simba é defendido por um brasileiro, Thales Cesar. O ator entra em cena quando o famoso leão chega à vida adulta e passa a lidar com os fantasmas do seu passado. Protagonizando seu primeiro musical Broadway, Thales não impressiona apenas com a voz; ele consegue expressar os conflitos vividos pelo sucessor de Mufasa (Drayson Menezzes) após Scar armar para matar seu pai. Essas nuances de Simba ficam claras na reprise de Está em Ti, um dos números mais envolventes do musical. Vivendo o grande vilão da trama, Marcel Octavio apenas reforça o talento já mostrado em produções como o premiado musical “Assassinato Para Dois”. Entre uma cena e outra de Scar, o ator faz quem está plateia agradecer Julie por ter criado máscaras que não impedem o público de ver a desenvoltura dos atores em cena. A tática também torna as marionetes do show mais interessantes. Zazu, por exemplo, fica desnorteado em certo momento do musical ao ser separado propositalmente do seu intérprete, Rafael Canedo. Esse tipo de manobra é algo que só o teatro é capaz de realizar com tanto encanto e verdade.
Serviço:
- Local: Teatro Renault (Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 – Bela Vista, São Paulo, SP)
- Sessões: Quarta, quinta e sexta-feira às 20h/ Sábado e domingo às 15h e às 20h
- Valores: A partir de R$ 80,00 (meia-entrada)
- Ingressos: https://www.ticketsforfun.com.br/
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