Um mundo pré-histórico perdido em plena Amazônia colombiana

  • Por Agencia EFE
  • 04/08/2015 10h38
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Gonzalo Domínguez Loeda.

Bogotá, 4 ago (EFE).- Um mundo perdido no coração da Amazônia colombiana. Assim é a Serra de Chiribiquete, o parque nacional que guarda uma joia arqueológica e antropológica: cavernas com pinturas rupestres que serviram de casas a indígenas há 19.500 anos.

Durante anos, exploradores experientes passaram por este lugar oculto até que uma forte tempestade em 1986 fez o então diretor do Sistema de Parques Nacionais Naturais da Colômbia, Carlos Castaño-Uribe, desviar o caminho e aterrissar de improviso nos arredores da Serra.

“Depois de uma hora de voo, comecei a ver com o piloto no horizonte uma formação geológica que jamais tínhamos visto. Muito pouca gente sabia disso porque a cartografia da época não era tão desenvolvida. Achei muito curioso e decidi explorar aquela coisa”, contou à Agência Efe Castaño-Uribe.

O antropólogo foi até o local e, ao entrar, observou as pinturas rupestres e ficou “absolutamente maravilhado” pela paisagem, mas não pôde avançar porque faltava gasolina para continuar a expedição.

Até então, nenhum representante do mundo atual havia entrado no Chiribiquete, que mantém as mesmas peculiares condições meteorológicas que o transformaram em refúgio no período Pleistoceno, com um microclima que lhe conferiu características mais quentes na flora e a fauna.

“Nunca tinha visto condições tão especiais quanto as do Chiribiquete”, resumiu Castaño-Uribe.

Mas a grande surpresa surgiu nas primeiras expedições organizadas por Castaño-Uribe entre 1990 e 1991 à frente de um grupo interdisciplinar de cientistas. Eles descobriram uma jazida cultural inédita na arqueologia americana por sua “intrinca, complexa, pródiga e superlativa arte rupestre” e por sua profundidade cronológica que data as pinturas mais antigas de 19.500 anos.

Entre as imagens desenhadas em Chiribiquete há milênios estão representações de animais, desenhos esquemáticos e mãos em dezenas de cavernas que ainda não foram completamente exploradas. Uma autêntica pedra preciosa de arte rupestre em plena floresta amazônica em uma área que, segundo Castaño-Uribe, foi um lugar de culto “de tipo xamânico” e que representou “um marco” para os habitantes da região.

Para chegar a esse lugar sagrado, que tem 2.782.353 hectares, o equivalente a área da Bélgica, os seres que viveram ali tiveram que se valer das conexões dos corredores especiais que permitiu a mobilidade na região, essencialmente por via fluvial. O mais surpreendente é que durante muitos séculos os indígenas continuaram utilizando os refúgios de Chiribiquete e provavelmente seguiram “utilizando até hoje”, segundo Castaño-Uribe.

Como se não tivessem passado por lá incas, espanhóis, libertadores e exploradores europeus, membros das nações indígenas continuariam usando esses abrigos para realizar seus cultos ancestrais como faziam há milhares de anos.

Esse é um dos grandes temores de Castaño-Uribe que, junto com as autoridades, decidiu não dar grande destaque sobre o que há por lá, por conta do nível de isolamento e a dificuldade de monitorar. Caso essas condições não sejam garantidas, a sobrevivência do local poderia correr risco. Em sua opinião, é necessário “cercar este tesouro que é muito vulnerável e frágil”.

Ante a expectativa de que essa região seja incluída entre as novas áreas de patrimônio mundial da Unesco, Chiribiquete continua isolado e misterioso para o mundo, mas seus segredos são revelados aos poucos. EFE

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