Unesco lança alerta para salvar patrimônio de Síria e Iraque
Paris, 3 dez (EFE).- Construir sistemas educacionais baseados na tolerância e conter o tráfico ilegal de arte são os eixos da ação da Unesco para a Síria e o Iraque, países para os quais o organismo viu como “imperativo político” a proteção do patrimônio cultural milenar.
A diretora geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Irina Bokova, afirmou na abertura da conferência “Patrimônio e Diversidade Cultural em risco no Iraque e na Síria” que a segurança requer maior compromisso dos atores locais. O encontro foi realizado nesta quarta-feira na sede da entidade localizada em Paris (França).
“A diversidade cultural e a tolerância começam nos bancos escolares”, disse Irina, que há um mês visitou as cidades iraquianas de Bagdá e Abril.
Alguns exemplos de joias da Humanidade que estão sendo destroçadas pela violência extremista são os santuários de Jonas e Daniel, no Iraque, e a Cidade Antiga de Aleppo, na Síria.
“Esses ataques se baseiam na estratégia da limpeza cultural, detalhadamente planificada e, eu diria, de uma violência extrema”, declarou Irina.
A conferência, financiada pelo Kuwait e pela Arábia Saudita, aconteceu horas depois de 60 países acertarem em Bruxelas seu apoio ao Iraque para lutar contra as milícias jihadistas do Estado Islâmico (EI).
A reunião contou com representantes de instituições, como o Museu de Arte Metropolitano de Nova York, o Museu Pergamon em Berlim e o Instituto Smithsoniano em Washington, assim como das Nações Unidas, que debateram possíveis soluções para proteger o futuro cultural desses dois países imersos na violência.
O representante especial da ONU do Secretário-Geral para o Iraque, Nikolay Mladenov, destacou como pilares dessa tarefa a educação, que é “talvez a tarefa mais difícil” para qualquer país em transição, e a escolarização das crianças que se encontram entre os dois milhões de deslocados pelo conflito.
Já o enviado especial da ONU do Secretário-Geral para a Síria, Staffan de Mistura, se referiu aos 7,2 milhões de deslocados na Síria e fez um discurso para tentar “reduzir a violência” sem julgar qual lado tem razão.
“Todos dizem que não há solução militar (…), que só há solução política. E o único que vemos é que continua a atividade militar”, lamentou Mistura, que se referiu ao EI como “o novo ebola político”.
Esse alto funcionário lançou a ideia de “congelar os combates em Aleppo, como laboratório de paz”, com a esperança de que a experiência favoreça para que o exemplo se estenda no resto do país. Uma das iniciativas comentadas nas mesas-redondas passa por continuar elaborando inventários de patrimônio cultural da Síria e do Iraque, com a ajuda de sistemas de imagem de satélite, e compartilhar esses dados com as forças armadas americanas, que lideram a campanha de bombardeios contra o EI.
Por sua vez, o diretor do Museu Pergamon (Museu Antigo do Oriente Médio), Markus Hilgert, defendeu a averiguação maior e com mais profundidade da origem das coleções de arte provenientes desses dois países.
Nesse sentido, foi reiterada a necessidade de que as instituições culturais continuem trabalhando com organizações, como a Interpol, para impedir que o patrimônio depredado nas regiões em conflito possa ser vendido no mercado negro internacional.
“Não é tarde demais para atuar”, concluiu a diretora geral da Unesco. EFE
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