66 anos do Maracanazo: e se houvesse outro em vez do 7 a 1?

  • Por Jovem Pan
  • 15/07/2016 14h59

Maracanã em 1950 e em 2014: 64 anos separam as duas derrotas mais dolorosas do Brasil em Copas do Mundo

Reprodução Maracanã em 1950 e em 2014: 64 anos separam as duas derrotas mais dolorosas do Brasil em Copas do Mundo

Final da Copa do Mundo de 2014, no Maracanã. Brasil supera a Alemanha na semifinal e enfrenta a Argentina na decisão. Bernard, substituto de Neymar após a lesão sofrida contra a Colômbia, marca seu único gol na Copa. Porém, Messi consegue empatar a partida e o Higuain vira o jogo a favor da seleção argentina, alcançando assim seu tricampeonato mundial em cima e na casa do maior rival.

Esse seria o roteiro improvável de um Maracanazo que, diante do que aconteceu no Mineirão, chega a ser difícil de ser imaginado. Sem Uruguai, que mesmo se avançasse para as quartas de final teria pelo seu caminho o Brasil, coberia à Argentina o papel de ser o nosso carrasco na final. Neste cenário, Bernard ficaria com o papel de Friaça para abrir o placar, enquanto Messi encarnaria Schiaffino e empataria o jogo. Já Higuain conseguiria marcar o impressionante gol que perdeu contra a Alemanha e, assim como Chiggia, viraria o jogo para os visitantes.

Há exatos 66 anos, completados neste sábado, o Brasil chegaria como um real favorito ao título, e, por um deslize marcado por gerações, perderia a final para o Uruguai. Décadas depois, tendo novamente a chance de sediar uma Copa, o time comandado por Luiz Felipe Scolari não conseguia mostrar o futebol que extasiava a torcida em 1950. O elenco comandado pelo treinador Flávio Costa naquela copa foi devastador em todas as fases até chegar à decisão. Foram 22 gols marcados, com direito a um 7 a 1 em cima da Suécia, e 6 sofridos numa campanha de 6 jogos. Já o time de 2014, passou por sete partidas com 11 gols marcados e 14 sofridos.

O clima antes da final no Rio de Janeiro de 1950 era de certeza na vitória. Já em 2014, a Seleção marcada pelo 7 a 1 chegaria marcada pela superação, após dificeis classificações em cima de Chile, Colômbia e Alemanha. Entretanto, uma derrota na final exporia tanto a fragilidade e os problemas da Seleção quanto ocorrido na semifinal contra os alemães?

Para o comentarista da Jovem Pan, Mauro Beting, sim. O jornalista afirmou que acreditava que o roteiro de um segundo Maracanazo diante da Argentina era o mais provável para a Copa de 2014: “era a minha final antes da Copa começar, Brasil e Argentina. Não só pela Argentina, pela equipe que tinha, mas pelo Messi. Eu morria de medo do ‘Maracanazo Parte 2’, era quase que uma história cantada. Não porque era o Maracanã, fosse o Mineirão. Não seria demérito só do Brasil, seria muito mérito da Argentina, que fez uma copa competente, foi crescendo de produção e pegaria um Brasil desajustado e mereceria a conquista do tricampeonato”, afirmou o comentarista.

Já para Wanderley Nogueira, comentarista e apresentador do Esporte em Discussão, um possível vexame na final não diminuiria o tamanho das críticas que a Seleção tem recebido nos últimos dois anos: “a dor seria até um pouco maior, por ser uma final, por ter aquela expectativa, de não poder perder em casa e esse discurso todo. Mas eu acho que a repercussão seria a mesma, nós jamais superaríamos, foi traumático o resultado, foi doloroso. Qualquer assunto que surge a gente se lembra dessa cacetada que tomamos. A única mudança é que chegaríamos à final e tomaríamos um cacete na final, só isso”, disse Wanderley.

Em 1950, a consequência mais impactante do Maracanazo foi a aposentadoria da camisa branca para a Seleção, que seria substituída pela tradicional Amarelinha. Entre os jogadores, somente o volante Bauer esteve na Copa seguinte, em 1954 na Suíça. 66 anos depois, muitos jogadores que estiveram em campo durante o 7 a 1 seguem atuando pela Seleção. Na estreia brasileira nas Eliminatórias para a Copa de 2018, na derrota por 2 a 0 para o Chile, nove jogadores que atuaram na semifinal de 2014 foram convocados por Dunga. No último jogo da Seleção, contra o Peru pela Copa América, somente Willian e Hulk eram os remanescentes do 7 a 1 em campo.

Para Joseval Peixoto, apresentador do Jornal da Manhã e que narrou a conquista do tricampeonato mundial em 1970, o Maracanazo se atribuiu a uma falha dos jogadores, enquanto o 7 a 1 é consequência de falhas na estrutura do futebol brasileiro.

“Eu atribuo a derrota por 2 a 1 diante do Uruguai até por um acidente, uma espécie de leviandade brasileira. Os que narram os fatos da época dizem que o Brasil foi leviano, festejou a noite toda na noite anterior. Agora o 7 a 1 contra a Alemanha deixou as claras a impossibilidade de o Brasil construir uma estrutura séria no seu futebol. É o salto alto, é achar que é o maior campeão do mundo, que é o único país que participou de todas as copas, enquanto a Alemanha fez uma preparação histórica e muito responsável. A leviandade agora é estrutural, não é dos jogadores, enquanto que em 1950, na derrota pro Uruguai, foi dos jogadores, uma festa da madrugada, um fato isolado. Do 7 a 1 o Brasil não se curou até hoje, no 2 a 1 estava curado dias depois, porque era a melhor seleção, sem dúvida, embora tenha perdido a Copa. Agora contra a Alemanha não, a gente viu que merecia perder, essa é a diferença”, explicou Joseval.

As promessas de melhoras em 2014 foram muito além da troca de cor de camisa, porém poucas coisas realmente foram feitas. As quedas prematuras nas duas recentes edições da Copa América e o sexto lugar nas Eliminatórias não tem feito o torcedor crer numa melhora da Seleção, muito menos que repetiremos o feito de ser campeão mundial anos após aquele Maracanazo.

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