A procuradora dos EUA que goleou a Fifa sem saber o que é impedimento

  • Por Agência EFE
  • 23/06/2015 10h44
EFE Procuradora-geral dos Estados Unidos

A primeira afro-americana nomeada procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, ganhou respeito mundial nos quase dois meses em que está no cargo por aplicar à Fifa a maior goleada de sua história mesmo sem saber o que é um impedimento dentro das quatro linhas.

Descrita por Barack Obama como “dura, mas justa”, “firme, mas bondosa”, Lynch se fez notar dentro e fora do país por “seu implacável enfoque” da Justiça, segundo destacou o próprio presidente americano na semana passada, na cerimônia de posse da procuradora.

Loretta Lynch chegou ao poder com o clima pesado pelo drama racial de Baltimore, deu seu primeiro soco na mesa com uma multa milionária a cinco dos maiores bancos do mundo e ganhou fama em maio, quando anunciou uma investigação por corrupção contra a – até então intocável – Fifa.

Como procuradora federal do Distrito Leste de Nova York, entre 2010 e 2015, Lynch se encarregou de ligar as provas obtidas pelo FBI, assim como de assinar e redigir muitos dos documentos de acusação que descrevem os crimes dos 14 dirigentes futebolísticos acusados.

Com seu grande discurso em maio no Brooklyn para denunciar o esquema de fraude, corrupção e subornos, Lynch, de 56 anos, aumentou vertiginosamente sua popularidade e despertou atenção midiática, principalmente dos amantes do futebol.

As buscas no Google para descobrir quem é Lynch alcançaram seu auge no momento de sua nomeação em abril e atingiram seu segundo pico mais alto em maio, quando, sem levantar a voz, denunciou a trama de compra e venda de influência e fez tremer a maior organização internacional de futebol.

A mão de Lynch chegou também à Copa América, realizada no Chile e marcada pela ausência dos principais dirigentes das federações sul-americanas de futebol, alguns detidos na operação de Zurique e outros tentando se poupar do escárnio público e da ira dos patrocinadores.

Em linha com o silêncio institucional da Copa América, o presidente interino da Fifa, o suíço Joseph Blatter, decidiu cancelar sua visita no último sábado à Nova Zelândia para presenciar a final do Mundial Sub-20.

“Este é só o começo de nosso esforço para erradicar a corrupção no futebol internacional”, avisou Lynch, cujo passo seguinte foi investigar a concessão das sedes da Copa do Mundo para a Rússia em 2018 e para o Catar em 2022, o que irritou o presidente russo, Vladimir Putin.

Com aspectos geopolíticos, a disputa judicial tem como cenários tanto a Suíça, onde fica a sede da Fifa, como os EUA, cuja Justiça no papel de “polícia do mundo” não conhece limites quando se trata de punir os que violam a lei e afetam o país, no qual o futebol está longe de ser o esporte mais popular.

Para justificar os pedidos de extradição dos líderes da Fifa, Washington argumentou que as negociações para trocar influências e dinheiro ilícito aconteceram em território americano e que, além disso, depois foram utilizados os bancos de Wall Street para lavar os subornos.

No entanto, o terremoto não se limita aos EUA ou à Suíça e as palavras contra a corrupção da Fifa são entoadas por diferentes líderes sul-americanos, europeus e até o parlamento europeu, que pediu a Blatter que cedesse seu posto a um dirigente provisório “imediatamente” após a explosão do escândalo.

Em maio ao fragor da batalha, resta ver qual será o plano “pós-guerra” de Lynch para conseguir que os acusados confessem e deem pistas sobre as “raízes profundas” de uma trama que transformou um esporte apaixonante em uma máquina de lavagem de dinheiro. 

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