AI acusa Catar de descumprir promessas contra exploração de imigrantes
Londres, 20 mai (EFE).- A Anistia Internacional (AI) acusou nesta quarta-feira o governo do Catar de descumprir suas promessas de melhorar a situação dos trabalhadores imigrantes do país, entre eles os que contribuem nos preparativos para a Copa do Mundo de 2022.
A organização de defesa dos direitos divulgou o relatório “Prometendo pouco e cumprindo menos: Catar e o abuso da força de trabalho imigrante às vésperas da Copa do Mundo de futebol de 2022”, no qual adverte o país do Oriente Médio que “as esperanças de progresso estão se desvanecendo”.
Um ano após se comprometer a fazer uma reforma “limitada”, “pouco mudou na legislação e na prática para os mais de 1,5 milhão de trabalhadores imigrantes que seguem à mercê de seus patrocinadores ou empregadores”, aponta a AI.
Essas pessoas vivem em condições sub-humanas e sem direitos básicos, pois carecem de permissões para entrar ou sair do país ou para mudar de empresa ou empregador, e não podem se filiar a sindicatos, têm documentos de identidade confiscados e frequentemente não recebem o pagamento previsto.
“O Catar está falhando com os trabalhadores imigrantes”, declarou o porta-voz da AI para o Golfo, Mustafa Qadri, que atribui ao governo catariano ter feito as promessas mais por “imagem” do que por proteger os trabalhadores.
“Se não forem tomadas medidas em breve, as promessas feitas pelo Catar no ano passado correm o risco de ser vistas como um mero ato de relações públicas para garantir que o país da região do Golfo organize a Copa de 2022”, afirmou.
Qadri pediu ao novo presidente da Fifa, que será eleito no próximo dia 29, que “mostre um compromisso real” para evitar que o Mundial seja organizado “sobre uma base de exploração e abuso”.
Entre outros aspectos, o Catar se comprometeu em maio do ano passado a introduzir um sistema eletrônico de remuneração dos imigrantes para evitar falta de pagamentos ou atrasos nos salários, algo que ainda não foi cumprido, como também não entraram em atividade os 300 fiscais trabalhistas prometidos para 2014.
As únicas promessas cumpridas, parcialmente, segundo a Anistia, foram a introdução de melhorias na segurança das obras, mudanças nas agências de contratação e no acesso à justiça por parte das vítimas.
A AI considera que mesmo se fossem implementadas todas as reformas prometidas, ainda seriam insuficientes para solucionar “as causas da exploração de imigrantes estrangeiros”, tanto no setor da construção como no serviço doméstico, entre outras atividades.
Em novembro de 2013, a Anistia publicou um primeiro relatório no qual denunciou as condições nas quais vivem e trabalham estes imigrantes, em sua maioria naturais do sul e sudeste da Ásia, que em alguns casos equivalem a “trabalhos forçados”.
Em seu comunicado de hoje, a organização também denuncia que os defensores dos direitos humanos e os jornalistas que investigam os abusos cometidos no Catar são frequentemente detidos e interrogados pelas autoridades.
“Tentar silenciar os que documentam as condições dos trabalhadores imigrantes por meio de detenções e intimidações envia a mensagem de que o governo está mais preocupado com sua imagem do em combater a horrível realidade de dezenas de milhares de homens e mulheres que são explorados no Catar”, afirmou Qadri. EFE
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