Alemanha lembra seus atletas judeus: do sucesso à perseguição

  • Por Agencia EFE
  • 28/07/2015 06h20
  • BlueSky

Berlim, 28 jul (EFE).- Alfred Flatow e seu primo Gustav Felix Flatow foram peças-chave da equipe de ginastas alemães que dominou as provas das barras paralelas e da barra fixa em 1896 nos primeiros Jogos Olímpicos da época moderna, em Atenas. No entanto, décadas depois, ambos morreriam no campo de concentração de Theresienstadt, na atual República Tcheca.

Uma pequena exposição ao ar livre, organizada em Berlim com o título “Do sucesso à perseguição: estrelas judaicas no esporte alemão até 1933 e depois”, conta a história dos Flatow e de outros grandes atletas que acabaram se tornando vítimas do regime nazista.

A homenagem, que fica em frente à estação central de trem, foi inaugurada nesta semana, quando também acontecem as Macabíadas Europeias, que reúnem em Berlim 2.300 atletas judeus de 38 países em uma competição que ganhou ares simbólicos, 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.

A mostra, que é organizada pelas universidades de Potsdam e Hannover e pelo Centro da História do Esporte Alemão, é formada por 17 silhuetas de atletas de destaque, com suas histórias narradas em pequenos textos informativos nas suas costas.

Através deles se documenta a trajetória de milhares de atletas judeus que, com a chegada de Hitler ao poder, foram expulsos das federações e clubes e destituídos de seus títulos e medalhas.

Muitos foram deportados e morreram nos campos de concentração erguidos pelo regime nazista, enquanto outros fugiram da Alemanha e continuaram suas carreiras esportivas no exterior.

Uma das figuras mais particulares é Helene Mayer, campeã alemã de esgrima de florete em 1925, com apenas 14 anos, um título que revalidou em quatro ocasiões consecutivas, além da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Amsterdã, em 1928.

Transformada em uma estrela no país, “a loira He” foi estudar nos Estados Unidos e viveu de longe os primeiros passos do regime nazista, que em 1933 lhe retirou a bolsa de estudos que tinha após a comprovação de que era “meio-judia”, filha de um médico judeu.

Para ilustrar sua suposta tolerância, o regime nazista a convidou para fazer parte do time nacional de esgrima nos controvertidos Jogos de 1936, em Berlim, e ela o aceitou como um desafio esportivo, um gesto que gerou grande polêmica e que diminuiu os argumentos do movimento que reivindicava um boicote à Alemanha.

Naqueles Jogos, Mayer ganhou uma medalha de prata, antes de se estabelecer em 1937 de forma permanente nos Estados Unidos, onde obteve a nacionalidade em 1940 e foi oito vezes campeã de esgrima.

Um destino muito diferente tiveram os irmãos Julius e Hermann Baruch, campeões de luta e levantamento de peso em distintas categorias durante os anos 1920 e que acabariam morrendo, o primeiro em Auschwitz, na atual Polônia, e o segundo em Buchenwald, no estado da Turíngia, leste da Alemanha.

Já Walther Bensemann, nascido em 1873 em Berlim e considerado um dos pioneiros do futebol alemão, cofundador da Federação Alemã de Futebol em 1900, optou por fugir para a Suíça em 1933.

Muitos alemães não reconhecem seu nome, mas todos conhecem “Der Kicker”, revista esportiva de referência fundada por ele em 1920 e com a qual quis divulgar seu ideal do futebol como símbolo de paz: “O esporte é uma religião e talvez a única coisa capaz de conectar povos e classes”, disse Bensemann uma vez.

Como uma demonstração de reconciliação, a exposição também traz a figura de Sarah Poewe, nadadora nascida na África do Sul, que passou a competir a partir de 2002 com a equipe alemã, nacionalidade que herdou de seu pai.

Nos Jogos de Atenas, em 2004, Poewe se transformou na primeira atleta judia a ganhar uma medalha olímpica para a Alemanha, na prova dos 4×100 metros medley, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. EFE

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.