Ausência de “amigos” no circuito aumenta pressão sobre tenistas brasileiros

  • Por Agencia EFE
  • 23/02/2014 07h24

Douglas Rocha.

Rio de Janeiro, 23 fev (EFE).- Enquanto o espanhol Rafael Nadal e o ucraniano Alexandr Dolgopolov se preparam para disputar a final do Rio Open de tênis neste domingo, o Brasil se pergunta por que as chances de ver um tenista da casa na decisão não eram grandes e por que não há representantes do país entre os 100 melhores no masculino 13 anos após Gustavo Kuerten ter ocupado o topo do ranking.

Não há apenas um motivo, mas sim uma série de fatores, como apontou o próprio Guga em entrevista coletiva concedida durante o torneio. Mas um ponto que é ao mesmo tempo causa e consequência se destaca entre os vários outros: os principais tenistas do país não têm com quem dividir a responsabilidade e sentem a pressão exercida por uma torcida que gosta e entende de esportes, mas costuma ser bastante exigente.

“Seria importante uma quantidade maior de jogadores em busca de resultados mais expressivos, alguns jogadores entre os melhores do mundo tanto no masculino quanto no feminino”, disse o maior ídolo do tênis brasileiro.

“É preciso ter uma quantidade alta de bons atletas para não ficar dependendo de dois ou três, como acontece atualmente. Tem o Thomaz (Bellucci) e o Feijão (João Souza), o resto da turma está mais para o final da carreira, como o Rogerinho (Dutra Silva), ou muito no começo, como o Gui (Guilherme Clezar), que jogou aqui, e o Tiago Monteiro. Sempre contando nos dedos, quando o ideal seria termos 30 ou 40 opções”, detalhou.

Atleta do país com resultados mais expressivos no circuito atualmente, Thomaz Bellucci, que voltará a ser o número 1 do Brasil nesta segunda-feira, sabe que a situação nunca foi diferente, mas reconheceu que ela o atrapalha.

“O Brasil sempre viveu de poucos jogadores nos torneios grandes. Antes de mim, havia o Guga e o Meligeni. Logicamente, isso acaba causando uma pressão um pouco maior porque você acaba sendo o centro das atenções na maioria dos torneios, já que não tem outros jogadores para dividir isso. O tenista tem que saber lidar com pressão, mas é inevitável entrar numa quadra de tênis cheia, com torcida a favor, e sentir a pressão. Não adianta dizer que quer jogar solto”, admitiu.

No feminino, Teliana Pereira é a 98ª colocada do ranking mundial. Aos 25 anos, a pernambucana acredita que poderia estar mais longe na carreira, mas a atrapalha o fato de ser “pioneira” em diversos aspectos, já que há anos o Brasil não tem uma mulher fazendo sucesso no circuito.

“Tudo para o brasileiro acaba acontecendo mais tarde, e com isso eu creio que perdemos muito tempo. Eu joguei meu primeiro Grand Slam neste ano na chave principal. Foi tenso, eu entrei muito nervosa porque era a primeira vez Tudo está acontecendo agora para mim, com 25 anos. As coisas precisam acontecer antes para os brasileiros”, alertou Teliana, semifinalista do Rio Open.

Na opinião de Guga, o principal a ser feito para que surjam mais tenistas de destaque é investir na formação de atletas. Para o ex-número 1 do mundo, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) vem fazendo um bom trabalho, mas a falta de treinadores é um problema que precisa ser corrigido.

“É muito difícil formar um professor de tênis. É necessário o Cref (registro no Conselho Regional de Educação Física), aliado à experiência no esporte e interesse em trabalhar no tênis. Com esses três requisitos, você só acha um em mil profissionais. Eu tenho motivo para estar contente com algumas mudanças, mas na formação inicial estamos pagando um preço por não ter investido no professor”, criticou.

“Há também um número que é horrível. Acho que menos de 15% das crianças que experimentam tênis aqui no Brasil continuam no esporte”, continuou.

Para esse número ser ampliado, de acordo com o Guga, o país deve manter uma sequência de bons resultados. Nesse sentido, ele destacou a importância dos feitos realizados por Bruno Soares e Marcelo Melo nas duplas. O primeiro foi campeão do US Open nas mistas em 2012 e finalista no masculino em 2013, enquanto o segundo foi vice de Wimbledon, também no ano passado.

Elogiado pelo principal ídolo do país na modalidade, Bruno Soares reconheceu o próprio papel de destaque no tênis nacional e disse que aposta em uma evolução do Brasil no esporte nos próximos anos e nessa esperada aparição de novos atletas para “ajudar” Bellucci no individual.

“O torcedor quer ver vitórias, quer ver títulos, quer ver os jogadores conquistando os maiores torneios. Eles torcerão para quem estiver em destaque, e Marcelo e eu estamos num bom momento”, considerou.

“Em simples, o país vive fase de transição. O Thomaz se lesionou e está tendo dificuldades, mas o nível dele é de pelo menos top 50 e acredito que em breve ele estará de volta a este posto. O Gui (Clezar) e o Tiago Monteiro também vêm muito bem hoje, embora atualmente se leve um pouco mais de tempo para se consolidar no profissional, o funil está mais estreito. Mas eu confio nesses garotos e acredito que está vindo uma turma boa para acompanhar o Thomaz”, completou.

Quem também crê nesse crescimento é ninguém menos que o melhor tenista da atualidade, o espanhol Rafael Nadal. Segundo ele, o tênis será beneficiado pelos grandes eventos que o país sediará nos próximos anos.

“O tênis brasileiro vai crescer com todos os eventos esportivos que vêm sendo realizados, como o Rio Open, a Olimpíada e a Copa do Mundo (de futebol)”, previu. EFE

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