Beltrame admite falha da inteligência em protesto contra tocha em Angra dos Reis

  • Por Estadão Conteúdo
  • 28/07/2016 19h36
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Paraty - A chama olímpica chegou ao estado do Rio de Janeiro depois de viajar por todo o Brasil. A primeira cidade fluminense a receber a tocha foi Paraty, no sul do estado (Tomaz Silva/Agência Brasil) Tomaz Silva/Agência Brasil Tocha Olímpica

O Secretário de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, reconheceu nesta quinta-feira que houve falha do setor de inteligência, que não detectou a preparação do ato que interrompeu o revezamento da Tocha Olímpica, em Angra dos Reis, no litoral Sul do Estado, na noite de quarta-feira. Ele avalia que haverá novos protestos na cidade durante os Jogos Olímpicos. 

Moradores protestaram logo na chegada da tocha à cidade, no bairro Japuíba, por volta das 19 horas, com os condutores já posicionados. Manifestantes vaiaram e interromperam a via, obrigando a escolta a acompanhar os condutores de volta aos ônibus da organização do evento. A Pira Olímpica não pôde ser acesa.

“O evento é federal e a Polícia Militar da localidade presta apoio. Ontem (quarta-feira) foi o 86º dia em que ela (a tocha) passou dentro do mesmo protocolo e em 85 dias não teve problema. Ontem teve problema porque foi uma situação em que as pessoas vieram de uma maneira muito rápida, a inteligência não detectou aquela movimentação e tivemos aquele problema. Daqui para frente nós vamos ter que fazer um acompanhamento mais forte. A gente tem a leitura de que vai haver protestos (no Rio)”, disse o secretário.

A manifestação ocorreu por causa do atraso de salários do funcionalismo municipal, suspensão do serviço de ônibus da cidade e fechamento de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Moradores fecharam as vias com cartazes como “Tocha da Vergonha” e os “Trabalhadores de Angra não vão pagar pela crise”. Houve queixas também a respeito dos gastos da prefeitura com a festa do fogo olímpico, que custaram R$ 45 mil.

A tocha chegou a ser conduzida pelas ruas do Centro, onde não havia tantos manifestantes, num trecho de cerca de cinco quilômetros dos 15 quilômetros previstos. Em alguns casos, duas pessoas a levaram, para não frustrar os que esperavam para participar do revezamento. Na chegada à Praia do Anil, onde seria o encerramento e a tocha seria acesa, houve nova manifestação. Desta vez, o Batalhão de Choque revidou com balas de borracha e bombas de gás. Houve correria entre o público que assistiria à passagem da tocha.

O fisioterapeuta Fabiano Affonso, de 39 anos, tricampeão brasileiro de canoagem oceânica, foi um dos que não conseguiu conduzir a tocha. Cego desde abril de 2012, quando foi baleado na cabeça num assalto, Affonso foi surpreendido com as pedradas lançadas contra o ônibus em que estava. “Eu não tinha noção do que estava acontecendo, tacaram coisas no ônibus. Meu irmão tentava explicar que era uma manifestação, eu ouvia os gritos, o som dos rojões, fiquei apreensivo.”

Para ele, foi frustrante não ter conduzido a tocha. “Era uma coisa que esperava há algum tempo. Eles confundiram as coisas. Não deviam ter feito o protesto ali.” Affonso disse que foi procurado pelos organizadores e havia a possibilidade de conduzir a tocha em outro local. A mãe do fisioterapeuta, Cleuza Affonso, esperava na praia com a nora e a neta de 4 meses. “Minha nora teve de correr para que a menina não ficasse no meio da fumaça. Achei ridículo o que fizeram. Estou revoltada”, criticou. Dos 53 condutores previstos, quatro não levaram a tocha.

Em vídeos postados nas redes sociais, moradores da cidade chegam a comemorar que a tocha foi apagada. Uma imagem mostra ainda um homem correndo com o que parece ser a tocha. A organização do evento informou que não houve roubo da tocha e que a chama não foi apagada pelos manifestantes, mas pelos próprios organizadores, como ocorre diariamente ao fim do revezamento.

A prefeitura de Angra reconheceu que “há um certo atraso” nos salários por causa da crise financeira que o Estado do Rio de Janeiro enfrenta, “o que ocasionou problemas em repasses, como royalties de petróleo e ICMS”. Essa demora nos repasses também teria provocado o fechamento da UPA, administrada pelo município

“A inclusão de Angra dos Reis na rota do revezamento não pretendia, em nenhum momento, desmerecer ou ocultar os desafios que o município e o Estado do Rio enfrentam. Ao contrário, foi concebida como oportunidade para valorização da cidade como destino turístico e em potencial para desenvolvimento”, afirmou o Klauber Valente, presidente da empresa de turismo do município, a TurisAngra.

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