“Bola quadrada”, altura e esquecimento: brasileiro revela lado obscuro da China

  • Por Jovem Pan
  • 22/01/2016 18h31
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Leandro Netto foi ídolo e batizado de "Imperador da China" pela boa passagem que teve pelo Henan Jianye

Henan Jianye/Divulgação Leandro Netto foi ídolo e batizado de "Imperador da China" pela boa passagem pelo Henan Jianye

“Se tem jogador indo para a China achando que lá vai ser mais fácil, que vai se tornar artilheiro absoluto, não se iluda. Não vai ser assim”. Foi deste jeito, adotando tom bastante realista, que Leandro Netto aconselhou os muitos brasileiros recém-contratados pelo futebol chinês. Apesar de ter alcançado o auge da carreira e de até ter sido apelidado de “Imperador” durante os cinco anos em que jogou na Ásia, o atacante de 36 anos, atualmente sem clube, revelou o “lado obscuro” que um jogador de futebol pode encontrar ao se transferir para a China.

Em entrevista a Mauro Beting e Zeca Cardoso, da Rádio Jovem Pan, Leandro Netto relembrou a grande passagem que teve pelo futebol chinês, de 2009 a 2013, mas fez questão de ressaltar que, lá, nem tudo são flores. “No meu primeiro ano, a adaptação foi muito difícil, principalmente porque eu tive que levar a minha mulher e minha filha, e a gente tinha um tradutor que só falava inglês e chinês. Só que nós não falávamos inglês tão bem assim. Além disso, morávamos longe do supermercado, então foi bem complicado”, contou.

Essas barreiras de adaptação, contudo, foram rompidas com o passar do tempo. Mas o problema é que, segundo Netto, as dificuldades não acabam quando se entra em campo. “Esses jogadores brasileiros que estão indo para a China com certeza vão sentir uma grande diferença. Eles vão ter bastante dificuldade de receber a bola redonda”, brincou o atacante, que teve passagem brilhante pelo Henan Jianye e até ajudou a classificar para a Liga dos Campões da Ásia o time acostumado a brigar para não cair à segunda divisão.

O experiente jogador pediu para que os consagrados Jadson, Renato Augusto, Gil, Ralf, Geuvânio e Luís Fabiano não esmoreçam só porque estão chegando a um país com pouca tradição no futebol. “Já vi grandes jogadores irem para lá e se perderem”, contou Netto. “Porque eles vão com o pensamento de que lá é mais fácil jogar, de que lá não vão precisar treinar tanto, que vão ter mais tempo para descansar e conseguir dormir sem se preocupar com o futebol. Mas isso é um erro completo”.

Os motivos? Leandro Netto explicou: “primeiro, porque a bola não vai chegar como chega no Brasil. Segundo, porque não vai ter tantos jogadores de qualidade atuando ao seu lado para te ajudar quando você não estiver em um dia bom. Você precisa se preparar mais, treinar mais e se ambientar o mais rápido possível ao estilo chinês de jogar futebol, que é mais corrido”.

A diferença física entre jogadores chineses e brasileiros também foi destacada pelo atacante como potencial fator problemático. “Lá, os zagueiros são mais altos. Por ser atacante, eu não tive dificuldades, porque meu estilo sempre foi de muita luta, briga e raça. Mas me preocupei muito em estar bem preparado fisicamente, porque na China não tinha fisioterapeuta bom, não tinha um estrutura médica boa. Se eu me machucasse, sabia que ia perder tudo que tinha conquistado. A não ser que vá jogar no Guangzhou Evergrande, que tem jogadores chineses de bom nível e uma estrutura absurda, quem atua na China sempre encontra dificuldade”, relatou.

No caso de Renato Augusto, Gil e Jadson, que flertavam com constantes convocações à Seleção Brasileira nos tempos de Corinthians, Leandro Netto também se referiu ao “esquecimento” que a China deve provocar em Dunga, técnico canarinho. “Indo para a China, eles obviamente vão ter muito mais dificuldades de receber convocações para a Seleção. Porque vai ser complicado eles serem notados por lá”, constatou.

Mas e aí? Isso tudo quer dizer que os jogadores que deixaram o Brasil para jogar na China fizeram a escolha errada? Para Leandro Netto, de jeito nenhum. “Eu voltaria para lá de olhos fechados, sem pensar duas vezes”, afirmou. “Infelizmente, o futebol brasileiro não é constante. Você sempre corre o risco de não receber salários. Os jogadores de futebol também são seres humanos e têm família”, acrescentou. “Infelizmente, hoje em dia, o dinheiro fala mais alto. E não é pouco dinheiro. A China está massacrando, investindo pesado. Com o dólar a R$ 4, então, fica melhor ainda para o brasileiro sair”, sacramentou.

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