Brasil aproveita habilidade indígena para promover talentos do tiro com arco
Léo Valente.
Maricá (RJ), 10 nov (EFE).- A habilidade e a familiaridade de jovens indígenas com o arco e a flecha vêm sendo usada a favor do desenvolvimento e preparação de novos talentos do tiro com arco no país.
No Amazonas, estado considerado o segundo polo de formação de atletas depois do Rio de Janeiro, adolescentes de tribos indígenas têm a oportunidade de conhecer as técnicas de um esporte similar, na ideia, àquilo que praticam com outros objetivos no dia a dia de suas comunidades.
Nelson Moraes, o Inha (Coração), de 14 anos, é um dos jovens atletas que praticam o esporte por meio do projeto Arqueria Indígena, da Fundação Amazonas Sustentável de Manaus, no Centro de Alto Rendimento do Amazonas (CTARA), em parceria com a Federação Amazonense de Tiro com Arco (Fatarco).
Descoberto por uma caça-talentos que viajou durante três meses por tribos do Amazonas em busca de jovens com potencial para o esporte, ele agora vive na capital amazonense, onde treina para competições. A última, o 7º Campeonato Brasileiro Infantil, Cadete e Juvenil Outdoor, realizado em outubro em Maricá, a 50 quilômetros do Rio de Janeiro, rendeu ao jovem a medalha de ouro no Arco Recurvo Infantil.
Habituado ao arco nativo, o garoto diz que a adaptação ao modelo usado em Jogos Olímpicos foi fácil. “Muda só o peso e a mira que tem no arco”, compara. Na tribo Kambeba, onde vivia, ele conta que brincava e pescava com o instrumento nativo antes de participar da seletiva em que conquistou uma das oito vagas para treinar em Manaus.
Técnico dos jovens, Roberval dos Santos diz que, apesar de semelhantes à primeira vista, os dois arcos são diferentes, e que a vantagem dos jovens em relação aos demais é que são bastante fortes, por causa da origem indígena.
O adolescente e outros três colegas – Graziela Santos, a Yacy (Lua), de 19 anos; Drean Silva, o Iagoara (Cachorro do Mato), 17; e Gustavo Santos, o Ywytu (Vento), 18, que já estavam no Rio para participar de outra competição – foram convidados pelo técnico da seleção brasileira de tiro com arco, o italiano Renzo Ruele, para treinar na sede da confederação nacional da modalidade (CBTARCO), em Maricá.
Durante uma semana, os quatro puderam treinar com os atletas da seleção. “Eles tiveram um pouco de experiência de um treino semiprofissional”, explica Ruele à Agencia Efe. “Assim se pode testar o quanto o atleta pode avançar e, se tiver chance, ir mais adiante. Esse era o objetivo de fazer um treino aqui (no centro de treinamento) com os atletas. Assim se vai experimentando e eu posso ver quem pode ir para frente”, acrescenta.
Segundo o técnico da seleção, a experiência começou com uma avaliação, repetida no fim da semana de treinos. “Eles melhoraram de 20% a 30%, o que é muito bom dentro de um treino um pouco pesado, mas foi bom. A resposta deles foi muito boa”, avalia Ruele.
Para Roberval, eles têm a oportunidade de ver uma forma diferente de trabalhar. Além disso, diz que houve uma evolução da pontuação dos atletas durante a semana em que estiveram na confederação. “Com certeza o trabalho já está rendendo bastante”, considera.
Não é comum para a confederação fazer um intercâmbio com jovens promessas, como explica a coordenadora técnica Dilma Miranda, mas a expectativa é de que os resultados vão melhorar gradualmente.
Em Manaus, a rotina de treinos só para no domingo. “Nós treinamos na vila olímpica, todo dia, de segunda a sábado. Treinamos sábado pela manhã. De segunda a sexta, de manhã e de tarde. Começamos às 8h, paramos meio-dia. Descansamos. Das 15h às 18h, a gente começa de novo. É assim a nossa rotina”, conta Graziela, que, da mesma forma que os outros colegas de projeto, precisou se mudar da tribo Karapãno para se dedicar ao tiro com arco.
“Esses oito atletas são de três aldeias diferentes, distantes mais ou menos 60 a 80 quilômetros de Manaus, não tenho certeza, mas são em torno de três a quatro horas de barco. Então, eles estão morando na vila olímpica de Manaus conforme uma parceria que foi feita entre a Fundação Amazônia Sustentável, que idealizou o projeto, juntamente com a Federação Amazonense de Tiro com Arco; o CTARA, que é o Centro de Treinamento de Alto Rendimento da Amazônia; e a Secretaria de Esportes do Estado do Amazonas, que também nos apoia”, explica Roberval.
Terminado o intercâmbio, os jovens agora voltam para a rotina de treinos na capital do Amazonas pensando nas futuras competições e no sonho olímpico de defender a seleção brasileira do esporte nas olimpíadas de Tóquio, em 2020, quando já terão atingido a maturidade suficiente para a competição. EFE
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