Brazilian Storm continua: foco e conexão “sobrenatural” definem campeão mundial

  • Por Lucas Reis / Jovem Pan
  • 22/01/2016 09h01
Facebook/Reprodução Campeão Mundial Pro Junior de 2016

Jovem, corajoso, talentoso, dedicado e, agora, campeão do mundo. Lucas Silveira é uma das grandes promessas do surfe brasileiro, mas para muitos já se tornou realidade. Carioca radicado em Santa Catarina, o surfista de 19 anos conquistou o Mundial Pro Junior no último dia 13, em Portugal, e mostrou ao planeta que a Brazilian Storm tem mais um representante pedindo passagem.

Buscando ser um surfista completo, Lucas conversou com exclusividade com o Jovem Pan Online e, com um sorriso sincero ao final de cada resposta, destacou a intimidade com ondas grandes, fato que lhe dá destaque no cenário mundial.

“Me sentir à vontade em onda grande se dá ao fato de ter começado a viajar bem cedo. Desde os 11 anos eu venho para o Hawaii, vou para o México quase todo ano. Fiquei habituado com isso e desde pequeno, quando comecei a viajar, para a idade que eu tinha, acho que eu era diferente da maioria da minha idade, me ‘tacava’ mais do que o normal, e sempre tive vontade de ser completo, surfar ondas de dois pés até vinte pés ou mais. Tenho isso na cabeça e acho que estou conseguindo fazer bem. Vou para os campeonatos, quando tenho tempo faço viagem em busca de onda boa e grande. Consigo conciliar os dois e gosto muito disso”, declarou.

É justamente a intimidade com ondas grandes que pode explicar o sucesso brasileiro no surfe atualmente. País com os dois últimos campeões mundiais no WCT (elite do surfe mundial) e com dez atletas confirmados no Circuito em 2016, o Brasil viu seus novos surfistas desenvolverem o bom desempenho em ondas maiores e, consequentemente, festejou grandes resultados.

“Ficou claro que para ser um surfista completo e disputar com os caras de fora, precisa saber surfar ondas grandes, tubo e reef break. Isso foi ficando claro com o tempo para todos os moleques: se quisesse ser surfista profissional tinha que viajar e ganhar experiência nesse tipo de onda. Isso influenciou bastante, a gente vê que todos os brasileiros do WCT estão surfando muito bem em todas as condições”, disse Silveira.

Segundo Silveira, os brasileiros têm um talento e uma capacidade de adaptação diferente dos demais: “ainda assim, alguns moleques não têm a condição de viajar desde muito cedo, então passam por essa transformação quando entram no CT, mas têm tanto talento que se adaptam. Você vê o Filipinho, o Gabriel (Medina), o Ítalo Ferreira, não viajaram para esses lugares desde tão cedo, mas entraram lá e são tão talentosos que se adaptaram rápido e já estão tendo grandes resultados nesse tipo de onda também”.

A pouca idade não foi capaz de atrapalhar o brasileiro na luta pelo título do Mundial Pro Junior. Com personalidade e confiança de sobra, e se dizendo pronto para desafios maiores, Lucas mostra que a maturidade que o ajudou a conquistar o caneco em Portugal pode ser seu diferencial no futuro.

“O campeonato tinha uma chave bem difícil. O que me fez sobressair lá foi meu jogo mental que estava bem forte. Na minha cabeça eu estava acreditando mesmo que iria ganhar, que eu era o melhor ali, que não tinha como não ganhar e acho que é desse jeito que tenho que competir qualquer campeonato. Mesmo que em outros eu não seja favorito para ganhar uma bateria, eu tenho que acreditar que sou favorito e que posso ganhar de qualquer pessoa. Me sinto pronto sim, esse ano meu plano é ir com tudo no WQS para, se tudo der certo, no final do ano estar com a vaga no WCT”, declarou o campeão.

A magia e o elemento “sobrenatural” do surfe

Acostumado a surfar em diferentes picos, o jovem, como todo surfista, tem seus lugares favoritos. Mais do que praias onde se sente à vontade, Lucas tem lugares sagrados, onde se conecta com fatores “sobrenaturais” do surfe para buscar o melhor desempenho.

“Tenho alguns lugares em que entro na água e sinto ‘aqui é o lugar’. Aqui no Hawaii é um desses lugares, o Taiti é um lugar mágico que você consegue sentir a vibração. No México também tenho uma conexão bem grande, a melhor onda da minha vida eu peguei lá”, disse.

Torcedor do Fluminense, Lucas compara o surfe ao futebol, especialmente por envolver “elementos inexplicáveis”. A diferença, segundo ele, é que no surfe é apenas o atleta e a natureza. “Tem o barulho do mar e ao mesmo tempo é muito silêncio. Você tem que se conectar com a natureza. No futebol tem o fato da torcida no estádio, é diferente, eu acho. E no surfe tem esse fato do silêncio profundo, ao mesmo tempo barulhento, você está ali, só com a natureza, nesse momento calmo em que vêm um milhão de coisas na cabeça. É um fato, podemos dizer, sobrenatural mesmo”, destacou o surfista carioca.

A influência dos ídolos e amigos Mineirinho e Ricardinho

Influenciado por seus amigos surfistas, Lucas mostra a humildade para observar e absorver ensinamentos de atletas de todo o planeta. Dois em especial ditam o desempenho e o foco do carioca: o atual campeão Mundial, Adriano de Souza, o Mineirinho, e Ricardo dos Santos, surfista morto há pouco mais de um ano, amigo de Lucas que lembra da coragem de Ricardinho.

“Ultimamente, acho que minha inspiração no surfe são meus amigos mesmo. Ver meus amigos ganhando campeonato e indo bem, me faz querer ir melhor ainda. Tem alguns caras que surfam muito e fico olhando para evoluir, mas em questão de idolatrar são meus amigos mesmo. O Ricardo dos Santos, que faleceu exatamente um ano atrás, era meu amigo e minha inspiração em questão de ondas grandes e pesadas, era um dos caras mais destemidos. Antes de falecer ele já me influenciava muito. Depois disso, ficou marcado para sempre. E em questão de competição, o Adriano de Souza é uma inspiração: exemplo de foco e de querer ganhar mais que todos os outros”, disse.

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