Brilha como “zebra”, frustra quando favorito: Brasil inverte a lógica na Rio-2016

  • Por Jovem Pan
  • 17/08/2016 14h00

Favorita ao ouro Michael Reynolds/EFE Favorita ao ouro

As seguidas eliminações no vôlei, handebol e futebol feminino confirmaram: a Rio-2016 não tem premiado os atletas brasileiros que chegaram ao evento como favoritos. 

Se, hoje, o País-sede dos Jogos tem um razoável número de pódios (11) e já beira o top-10 do quadro de medalhas, deve muito às sempre imprevisíveis e surpreendentes “zebras”. 

Até aqui, quando o assunto é medalha, há mais frustrações do que confirmações de favoritismo no Time Brasil que disputa os Jogos do Rio. 

Seja pela pressão por estar em casa, seja pela maior competência dos adversários, seja pela falta de sorte, as “barbadas” da delegação brasileira, em geral, não têm conseguido corresponder às expectativas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Por outro lado, esportistas que desembarcaram no Rio sem grandes alardes, com menos chance de medalha, têm tido aproveitamento melhor – a ponto de, em alguns casos, até mesmo compensarem a falta de pódio dos astros. 

As exceções foram: Felipe Wu (tiro), Isaquias Queiroz (canoagem), Arthur Zanetti (ginástica artística), Mayra Aguiar (judô), Rafael Silva (judô), Robson Conceição (boxe), Ágatha/Bárbara (volêi de praia) e Alison/Bruno Schmidt (vôlei de praia). Todos eles chegaram aos Jogos como favoritos e, sem decepcionar, já garantiram um lugar no pódio. 

Larissa/Talita e futebol feminino ainda têm chances de ganhar o bronze, é verdade, mas, ainda assim, vão deixar a Olimpíada devendo.  

A dupla do vôlei de praia iniciou o ano como líder do ranking, era a grande favorita ao ouro e tinha uma chave aparentemente acessível. No entanto, não manteve o nível de todo o ciclo olímpico e caiu na semifinal – neste caso, a compensação pode vir de Ágatha/Bárbara, que surpreendeu o forte time americano formado por Walsh/Ross e já garantiu no mínimo uma prata. 

Já a Seleção feminina de futebol não começou a Olimpíada como maior candidata ao ouro, mas ganhou tal status durante o evento, depois de duas goleadas na primeira fase. A precoce eliminação dos EUA também ajudou a alçar a equipe de Marta ao favoritismo, mas tudo ruiu na semifinal, contra a mesma Suécia que havia levado 5 a 1 do Brasil na segunda rodada.

Abaixo, veja outros casos que corroboram a tese de que, nos Jogos do Rio, o Brasil tem brilhado mais como “zebra” do que quando favorito. 

Potenciais medalhistas que não subiram ao pódio:

Sarah Menezes 

A judoca foi a responsável pela primeira frustração brasileira na Rio-2016. Medalhista de ouro em Londres-2012, chegou à capital carioca após um ciclo olímpico claudicante, mas que se encerrou com vitória no Grand Prix de Havana. A Confederação Brasileira de Judô (CBJ) não esperava um ouro de Sarah, mas contava com no mínimo um bronze. No entanto, ela foi derrotada nas quartas de final, perdeu também na repescagem e deixou o evento sem medalha.

Érika Miranda 

Cabeça de chave da categoria meio-leve, a judoca desembarcou no Rio depois de faturar três medalhas consecutivas em Mundiais. Ouro no Pan de Toronto, era uma das apostas da CBJ antes dos Jogos Olímpicos, mas também foi eliminada precocemente. Aos 29 anos, caiu nas quartas de final, pecou na repescagem e não subiu ao pódio. 

Thiago Pereira 

Medalhista de prata nos 400m medley em Londres-2012, optou por competir apenas nos 200m justamente para ter mais chance de medalha. Aos 30 anos, tinha Michael Phelps, Ryan Lochte e Kosuke Hagino como principais rivais e era forte candidato a subir ao pódio dentro de casa. Porém, não conseguiu. Até brigou pela liderança com Phelps durante dois terços da prova, mas perdeu o gás nos 50m finais e terminou em sétimo.

Basquete masculino 

Chegou à Rio-2016 jogando em alto nível, com cinco jogadores da NBA e muitas expectativas. O objetivo era faturar no mínimo um bronze para consagrar uma geração extremamente talentosa, mas pouco vencedora. Uma chave forte, porém, complicou a Seleção, que até venceu Espanha e Nigéria, mas perdeu para Lituânia, Croácia e Argentina antes de dar adeus ainda na primeira fase. Foi frustrante.

Ana Marcela Cunha 

A maratonista aquática foi medalhista de ouro, prata e bronze no Mundial de Kazan e, em 2015, tornou-se a mulher brasileira mais condecorada em campeonatos mundiais de esportes olímpicos. Ganhou o Prêmio Brasil Olímpico de melhor atleta do ano e era quase certeza de um lugar no pódio no Rio. Porém, ficou na décima posição e admitiu que o resultado havia sido decepcionante.

Fabiana Murer 

Campeã mundial em 2011, a saltadora chegou ao Rio cercada de expectativas após duas frustrações em Jogos Olímpicos. Ganhou a prata no Mundial de 2015, em Pequim, e alcançou a melhor marca da vida a menos de dois meses dos Jogos Olímpicos. Além disto, contou com a ausência da lendária Yelena Isinbayeva, que não pôde disputar a Rio-2016 por causa da suspensão ao atletismo russo. Mesmo assim, não conseguiu passar dos 4,55m e foi eliminada ainda nas eliminatórias, reclamando de dores provenientes de uma hérnia de disco.

Handebol feminino 

Campeã mundial em 2013, a Seleção já havia decepcionado no Mundial do ano passado, quando fora eliminada nas oitavas de final, mas desembarcou no Rio com enormes chances de medalha. Jogava em casa e tinha à disposição todas as atletas de sua principal geração para, enfim, subir ao pódio olímpico. Teve um início arrasador, vencendo as fortes Noruega e Romênia, mas caiu para a boa seleção holandesa nas quartas de final. O choro na saída de quadra denunciou a frustração pela precoce eliminação.

Vôlei feminino 

Bicampeã olímpica, a Seleção apresentou desempenho irretocável na primeira fase e pintava como maior favorita ao ouro nos Jogos do Rio. No entanto, caiu para a forte China nas quartas de final. A equipe asiática havia se classificado na quarta posição do Grupo B, enquanto o Brasil passara na liderança do Grupo A, sem perder sets. Foi o pior resultado do vôlei feminino brasileiro em 28 anos e a primeira vez desde 1992 que a Seleção deixou uma Olimpíada sem medalha. Tudo isso, dentro de casa.

Não eram favoritos, mas ganharam medalha:

Rafaela Silva 

A judoca foi campeã mundial em 2013, mas vinha de um irregular ciclo olímpico e, definitivamente, não era favorita a subir ao pódio nos Jogos de 2016. Sarah Menezes, por exemplo, gozava de muito mais confiança da CBJ. No entanto, Rafaela, então 11ª colocada no ranking, surpreendeu ao eliminar a líder da lista e faturar o ouro. Foi emocionante.

Diego Hypólito 

Uma medalha de Diego Hypólito no solo nunca é inesperada, mas, na Rio-2016, ela era pouco cogitada. Aos 30 anos, o ginasta deu um show, superou as quedas de 2008 e 2012 e levou a prata quando quase ninguém imaginava. Esperava-se o pódio em Pequim e Londres, quando ele era um dos melhores do mundo e estava no auge físico. No Rio? Definitivamente, não.

Arthur Nory 

Aos 22 anos, o ginasta paulista tinha como principal resultado da carreira uma medalha de prata por equipes no Pan de 2015. Apesar disto, era forte no individual geral e nutria esperanças por um pódio na barra fixa. Nunca no solo. Mas Nory surpreendeu: ficou de fora da final de sua principal prova, conseguiu uma vaga na decisão do solo graças a uma brecha do regulamento (que impedia a participação de três atletas do mesmo país em uma prova) e superou favoritos para beliscar o bronze. Incrível!

Poliana Okimoto 

Bicampeã pan-americana, a maratonista aquática ganhou a Copa do Mundo em 2009, mas não desembarcou no Rio como principal nadadora brasileira da prova. Tal status pertencia a Ana Marcela Cunha. Porém, mesmo aos 33 anos, Poliana terminou a maratona aquática em quarto e, depois de uma punição à segunda colocada, herdou o bronze. A medalha que se esperava em Pequim e Londres veio quando o favoritismo não existia.

Thiago Braz 

Chegou à capital carioca como recordista sul-americano do salto com vara, mas nem a mais otimista das projeções cogitava uma medalha de ouro. Ela, aparentemente, já era de Renaud Lavillenie, campeão olímpico em 2012 e recordista mundial da prova. Um simples lugar no pódio já seria espetacular para o brasileiro. Porém, ele desafiou o francês, superou a marca dos seis metros pela primeira vez na vida e ganhou o título olímpico de maneira inacreditável. Foi uma das maiores surpresas dos Jogos.

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