Cacá Bueno desabafa e detona CBA: “é incapaz de melhorar o automobilismo”
Pentacampeão da Stock Car
Pentacampeão da Stock CarApenas dois pilotos na Fórmula 1, e longe de posições de destaque. Somente dois jovens na Fórmula 3 Europeia e na F-V8 3.5. Um único atleta na Fórmula Renault Europeia 2.0. Nenhum representante na GP2 e na GP3. Coloque na balança, ainda, o quase inexistente trabalho nas categorias de base. A conclusão à que se chega? O automobilismo brasileiro vive uma de suas piores crises.
O momento do esporte a motor no terceiro País mais vencedor da história Fórmula 1 é desolador. E, segundo um dos pilotos brasileiros mais importantes dos últimos anos, tem um culpado bastante específico. Em entrevista exclusiva ao Jovem Pan Online, Cacá Bueno abriu o coração, mostrou por que é considerado um dos esportistas mais sinceros de sua geração e não teve medo de apontar a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) como principal vilã da crise da modalidade no País.
“O nosso grande problema, assim como de muitos esportes no Brasil, é a confederação. Tem muita gente que está ali apenas pelo poder, para poder mandar. Eu não estou dizendo que as pessoas que estão na confederação roubam, mas afirmo que elas são incapazes de melhorar o automobilismo brasileiro. Muitas estão ali por motivos que não sejam a busca pela melhoria do esporte“, criticou o pentacampeão brasileiro de Stock Car, sem hesitações.
“A nossa confederação não defende os autódromos, não cria categorias de base, não apoia pilotos no exterior… Não é de se estranhar que, daqui a pouco, a gente esteja sem pilotos na Fórmula 1. O Brasil sempre foi um País que, tradicionalmente, deu muito apoio ao automobilismo. Mas, hoje, está cada vez menos representado internacionalmente“, acrescentou.
Em 2016, o Brasil completará as Bodas de Prata de seu último título na Fórmula 1. No dia 20 de outubro, o tricampeonato mundial de Ayrton Senna, faturado em Suzuka, no Japão, fará aniversário de 25 anos. De 1991 para cá, somente Rubens Barrichello e Felipe Massa fizeram o hino brasileiro tocar em um pódio da F1. A última vitória verde e amarela na maior categoria do planeta? Aconteceu no longínquo 13 de setembro de 2009, com Rubinho, em Monza.
Por que a fase é tão ruim?
Cacá Bueno tem a resposta na ponta da língua. Para ele, o automobilismo brasileiro está abandonado pela entidade que, na verdade, deveria geri-lo da melhor maneira possível. De acordo com o atleta de 40 anos, a CBA não investe em categorias menores, falha em fazer parcerias para a formação de pilotos e não se mexe para conseguir incentivos fiscais que facilitem a importação de equipamentos de competição. Além disto, a confederação sequer ajuda na exportação de jovens valores – que, com o atual cenário, são obrigados a sair do País para competir em alto nível.
“A nossa confederação praticamente não faz nada“, detonou Cacá Bueno. “Não tenho nenhuma dúvida de que, no futuro, o Brasil vai ter uma crise internacional ainda maior a nível de pilotos. Vamos depender cada vez mais de famílias tradicionais que invistam no automobilismo. Vamos ter, talvez, os sucessores do Felipe Massa e do Felipe Nasr, o Pietro Fittipaldi e o Pedro Piquet… Não vai ser como era no passado. Antes, o Brasil tinha 60 pilotos correndo no exterior e quatro deles em grandes equipes da Fórmula 1. Hoje, não é assim“.
Para o pentacampeão da Stock Car, até mesmo os Jogos Olímpicos de 2016 expuseram a fragilidade da CBA. Tudo porque o Parque Olímpico foi construído no lugar que antes era ocupado pelo Autódromo de Jacarepaguá – sede do GP Brasil de Fórmula 1 em 1978 e entre 1981 e 1989. A pista foi demolida para que a principal obra da Rio-2016 fosse erguida na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. O problema foi que, até hoje, nenhum outro autódromo foi construído no Rio de Janeiro.
“Tudo bem, teve uma Olimpíada, o Parque Olímpico foi construído no lugar do autódromo, mas… Era a área do autódromo. Havia um contrato que dizia que o Parque Olímpico só poderia ser construído depois da inauguração do novo autódromo do Rio de Janeiro, mas ele sequer foi feito ainda. Não souberam defender o patrimônio da própria confederação“, cutucou o piloto, descrente com relação ao futuro da modalidade pela qual é apaixonado desde a infância.
Segundo Cacá, somente uma limpa geral e a elaboração de um novo estatuto na CBA resolveriam o problema do automobilismo brasileiro. “Só se tiver uma intervenção do Ministério e se rasgarem o estatuto da confederação. Apenas isso. Eu não vejo outra saída“, avisou. “Há alguns pilotos tentando fazer uma associação para fortalecer a classe… Pode ser um caminho, mas eu acredito muito mais em uma mudança geral do estatuto da confederação. Ele é todo errado. Nenhum piloto ou equipe vota em seus representantes, por exemplo. Os presidentes das confederações e o presidente da federação estão lá para governar para eles, e não para o automobilismo em si“, encerrou.
Retaliação?
Não faz pouco tempo que Cacá Bueno descobriu ter sido vítima direta da incompetência da Confederação Brasileira de Automobilismo. Campeão da Stock Car em 2006, 2007, 2009, 2011 e 2012, o carioca foi prejudicado propositadamente por comissários da entidade em provas recentes da competição nacional.
Uma reportagem publicada pela Folha de S. Paulo em março deste ano revelou que fiscais da CBA mantinham um grupo de WhatsApp em que ironizavam punições e desclassificações de pilotos da Stock Car. Entre eles, Cacá Bueno – em algumas das mensagens, os comissários comemoravam, inclusive, ter impedido o carioca de conquistar mais títulos.
“Eu sempre tive a sensação de que era prejudicado, mas não podia afirmar, só reclamar. Hoje, posso afirmar. E digo que há um tratamento desigual não só comigo, mas com outros pilotos, também. Este escândalo casou perfeitamente com a minha percepção de anos de automobilismo“, disse Cacá, que acredita que, por sempre ter reclamado publicamente da atuação dos fiscais, pode ter sido vítima de retaliações por parte da CBA.
“[Fui prejudicado] ou por falar demais, ou por me posicionar contra as coisas erradas, ou por ser quem eu sou, pelos títulos que tenho… Não interessa o motivo. Eu sofria, sim, retaliação em alguns momentos, assim como outros pilotos também. Tomara que, com este escândalo, as coisas diminuam. Se não conseguirmos chegar à fonte, que pelo menos eliminemos os maus elementos do automobilismo brasileiro. Eu prefiro que o tempo esclareça os motivos reais... Vamos rezar por dias melhores”, encerrou o filho de Galvão Bueno, com uma frase um tanto quanto simbólica.
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