César Maluco ‘desafia’ atletas atuais e detona 7 a 1: “ou 3 a 0 ou fechava o pau”

  • Por Bruno Bataglin/Jovem Pan
  • 18/05/2015 21h27
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Segundo maior goleador do Verdão Facebook/reprodução César Maluco

Muitas comparações são feitas entre o futebol atual e o de antigamente. Alguns defendem a tese de que Pelé, Pepe e Ademir da Guia, só para citar alguns grandes nomes, não resistiriam ao esporte de agora, pautado pela grande demanda física e correria. Uma grande bobagem tudo isso, na visão de César Maluco, segundo maior artilheiro da história da Sociedade Esportiva Palmeiras.

Depois de dizer que “falta porrada” nos jogadores de hoje, e criticar Paulo Nobre na presidência do Palmeiras (clique aqui para ler), César Maluco, na segunda parte da longa entrevista concedida ao Jovem Pan Online, agora fez questão de ressaltar que a preparação física de antigamente era mais rígida, desafiou os atletas do futebol atual a subirem o Pico do Jaraguá, detonou o 7 a 1 sofrido pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo e ainda falou sobre sua mais do que frustrante passagem pelo Corinthians.

JP: No campo da especulação, há quem diga que o jogador de antigamente não conseguiria jogar hoje em dia, pela demanda física. O que acha?

CM: Eu acho o seguinte: pega essa garotada em uma terça-feira de manhã e fala ‘vamos subir no Pico do Jaraguá’. Nenhum deles sobe. Você conhece o Pico do Jaraguá (lugar mais alto da cidade de São Paulo)? Eu subia ali e voltava trotando. À tarde, subia e descia vinte vezes a arquibancada do Palmeiras, dez correndo e dez trotando. A gente descia para o campo e tinha aquelas barreirazinhas, passava 20 de um lado e vinte do outro e era 100 no pique e 50 trotando. A gente fazia 500 abdominais. Era tipo militar mesmo. Eu sinto falta. Nunca tive distensão e, na nossa turma, dificilmente dava estiramento. E se tivesse jogava assim mesmo. Era o amor pelo clube. A gente era obrigado a fazer, tinha uma fiscalização.

Outro negócio: em 1972 eu tinha um Mustang Mach 1 zero. Comprei. Pouco jogador compra hoje um Mustang zero. Não é fácil, não. Quero ver comprar hoje. Então são coisas que a gente fala pra quem diz ‘quero ver jogar no futebol de hoje’: se fosse hoje, Pelé faria 15 mil gols. O único cara que foi jogador que não deu certo na linha e deu certo no gol foi Rogério Ceni. Ele sentiu que não dava para jogar no meio e disse ‘vou pro gol, porque eu quero jogar bola’. O jogador é de dois a onze, em campo. Goleiro não é jogador de futebol. A maioria chuta mal. Se você joga com o Pelé perto, assusta. Quantas falhas não teve desde que teve essa regra, de não poder pegar com a mão? O Garrincha foi o melhor jogador do mundo. Ele dava tanto drible que até o torcedor ficava tonto. Futebol era muito bonito. Não tinha pontapé. De cinco em cinco anos alguém quebrava uma perna. Hoje, você liga em um fim de semana, um jogador quebrou a perna e o outro passou mal dentro do campo. Na nossa época jogador tirava até o dente para jogar, e hoje não pode, porque tem as gatinhas, que botaram o nome de “maria chuteira”. Hoje tem muito cara que se não fosse jogador de futebol estaria trocando telha, não estava desfilando por aí.

Eu sei que vivi minha vida romântica da bola, foi maravilhoso. Joguei na era Pelé, que é muito importante. Muitos não acreditam no que Pelé fez. Se teu pai conversar com você e falar que Pelé fez isso, pensa dez vezes mais. Pelé, Garrincha, Ademir da Guia, Rivellino… não é brincadeira não. Porque era muito cobrado. Jogador não é cobrado hoje. O Valdivia ficou três meses sem treinar e, de repente, Valdivia vai jogar.

JP: Em termos de atacante, como vê o futebol de hoje?

CM: Eu acho que daqui a dois ou três anos, vão acabar com centroavante e só vai ter meia. Já acabaram com os pontas. E hoje quem souber treinar bastante e ter um grande professor que oriente e treine bem, o cara vai morrer de ganhar dinheiro. É como o Santos. O Robinho não é centroavante, é meia, de ponta, e faz uma fortuna.

JP: E agora, sobre o 7 a 1, talvez a participação mais catastrófica da Seleção Brasileira em Copas, qual a sua opinião?

CM: Olha, a opinião minha é a seguinte: depois do 3 a 0, já sabia que não ia adiantar nada. Ou terminava 3 a 0 ou fechava o pau. E o Brasil não pode estar em uma situação dessa. Quando o time da Alemanha começou a fazer três gols com facilidade no primeiro tempo, já tem que parar e lembrar que está em casa. Eu acho que deram muito palpite e faltou comando. O Felipão, com aquele grito dele, na verdade foi tudo para chamar a atenção, mas ele foi uma ‘mãezona’ para os jogadores. Para os atletas foi aquilo de: ‘estamos aqui em casa e vamos ser campeões mesmo, porque somos melhores que os outros’. Não tem nada a ver. A bola é diferente: quem chegar primeiro ganha o jogo. E foi o que a Alemanha fez. Sabe quando vai recuperar isso? A mesma coisa que o 2 a 1 para o Uruguai no Maracanã (Maracanaço). Vai ficar na história.

JP: Como seria o impacto na sua época de jogador? É imaginável esse resultado em sua época de Seleção?

CM: Não. Na nossa época não existia isso. Era outra situação a nossa, porque era uma profissão marginalizada. Jamais seria um resultado desse. Em uns 3 a 0, a coisa já ia quebrar o pau. Tanto na minha época quanto nas décadas de 1950, 1960. A Seleção Brasileira, jogando em casa ainda? Não existe um negócio desse. Eu acho que o próprio torcedor esperava uma reação do Brasil. Cai uns três jogadores, quatro. Seria feio isso. Mas quebrava o pau ali.

JP: Parece que os jogadores não sentiram a derrota…

CM: Você tem que ter amor pelo que está fazendo. Para o torcedor, ninguém tem reação de nada, ninguém faz nada. A Alemanha tocando a bola e todo mundo olhando. Aí que vem um pensamento do brasileiro: ‘Brasil não pode perder para a Alemanha de 7 a 1’. E aconteceu. Por que eles ficaram chorando? Porque tem que ter uma reação. Não poderia chegar aos sete. E dizem que sete é conta de mentiroso. Então é mentira, não aconteceu (risos).

JP: Dá para falar que o Palmeiras é oito vezes campeão do Brasil?

CM: O Palmeiras é oito vezes campeão do Brasil, junto com o Santos. Eu, Ademir da Guia e Dudu temos cinco títulos brasileiros.

JP: Como foi sua passagem pelo Corinthians?

CM: Foi triste. Porque contrataram o Rivellino e eu jamais esperava sair do Palmeiras. E, em uma quarta-feira, o Palmeiras já ia para a final do Campeonato Paulista e, três jogos antes, o presidente me chamou e disse que fui vendido para o Corinthians. Falaram: ‘vocês vai fazer dez anos no Palmeiras e a gente quis te dar um presente’. Eu disse: ‘eu não quero esse presente’. Ele disse que eu tinha sido suspenso, que minha imagem estava queimada. Estava queimada para ele, não para a torcida. Depois fui saber que ele conversou com o Vicente Matheus (ex-presidente do Corinthians) e ele queria me contratar antes da final (do Paulista de 1974). Como já estava acertado que o Rivellino ia embora para o Fluminense. Na final, ele não queria que eu jogasse. Eu saí do Palmeiras três jogos antes da final. O Rivellino jogou a final e foi para o Fluminense. Foi rolo deles, fiquei sabendo quando cheguei. Levei três semanas para chegar no Corinthians, porque eu não queria ir mesmo. Fui ocupando o lugar do Rivellino, praticamente. Os caras me chamaram de ‘porco’. Subi na arquibancada, fechei o pau com os caras. No primeiro treino me deram a meia rasgada. Fui reclamar e falaram que não tinha outra. Aí peguei meu tênis, coloquei sem meia e fui treinar. Ficaram puto com isso. No primeiro jogo lá, eu perdi um pênalti. Perdi só quatro pênaltis na minha vida.

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