Cocito lembra dia em que lesionou Kaká e detona: “hoje, pensam mais em tatuagem”
Ex-volante do Atlético-PR
Ex-volante do Atlético-PRTrinta e dois minutos do primeiro tempo. Então com 19 anos, Kaká se descola da marcação, recebe passe no meio de campo e domina sem muita precisão. A bola corre. Antes de tocá-la novamente, o jovem é parado por um caminhão sem freio. Nome? Thiago. Sobrenome? Cocito. Com um agarrão no shorts e uma tesoura nas pernas, o volante do Atlético-PR comete uma das faltas mais duras já sofridas pelo último brasileiro eleito o melhor jogador do mundo. Kaká sai de campo chorando, de maca, e vê, dos vestiários, o São Paulo eliminado do Campeonato Brasileiro de 2001.
Quinze anos se passaram desde aquela partida válida pelas quartas de final da competição nacional. De lá para cá, Kaká ganhou uma Copa do Mundo, faturou todos os títulos possíveis pelo Milan, vestiu a camisa do Real Madrid, foi agraciado com uma Bola de Ouro e se eternizou como um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro. Hoje, tem um fim de carreira digno, nos EUA.
E Cocito? Foi campeão brasileiro e disputou uma final de Libertadores pelo Atlético-PR; jogou, sem muito sucesso, pelo Corinthians; atuou por duas equipes modestas da Espanha; e foi campeão cearense pelo Fortaleza. Em 2009, após uma série de lesões no joelho, aposentou-se. Hoje, tem 39 anos e trabalha como empresário no ramo de construção civil, em Curitiba.
O futebol, no entanto, ainda corre pelas veias de Cocito. Seja durante as peladas que disputa pela capital paranaense, seja pelas lembranças que ainda guarda do esporte que lhe deu tudo o que conquistou na vida. O lance do qual mais se recorda, obviamente, é o daquele 5 de dezembro de 2001, envolvendo Kaká. Até porque o assédio não lhe permite desmemoriar a falta mais marcante da carreira.
“Eu já até perdi as contas de quantas vezes me perguntaram sobre esse lance com o Kaká. Até na Espanha, cinco anos depois, eu fui lembrado dessa jogada“, afirmou o ex-jogador do Atlético-PR, durante entrevista exclusiva ao repórter Zeca Cardoso que vai ao ar no próximo fim de semana, na Rádio Jovem Pan. “Foi falta, sem dúvidas, mas o árbitro não me deu cartão. Eu nunca neguei que quis, de fato, parar o lance“.
Cocito, porém, garante que em nenhum momento teve a intenção de machucar o então jovem meio-campista são-paulino. Segundo o ex-volante, um escorregão tornou a entrada mais forte do que o normal. “O Kaká estava escapando, eu escorreguei e acabei segurando ele com a mão. Foi diferente do que falam até hoje, que eu foi uma entrada maldosa, para tirar ele do jogo... Nunca fiz isso com ninguém na vida. Eu quis só segurar e parar a jogada. Fiz a falta com a mão, mas ele torceu o tornozelo no chão“, explicou.
“Hoje, pensam mais em tatuagem do que em ganhar o jogo”
Ainda durante a entrevista exclusiva com o repórter Zeca Cardoso, da Rádio Jovem Pan, Cocito esbanjou sinceridade ao fazer críticas ao novo perfil dos jogadores brasileiros. Para o ex-volante, a prioridade da maioria dos atletas de hoje em dia está longe dos gramados.
“Infelizmente, há uma inversão de valores. Não tenho nada contra, mas, atualmente, os jogadores pensam mais em tatuagens, brincos, relógios, correntes, mulheres e carros do que em ganhar o jogo. Tudo isso é válido, mas como consequência do trabalho. Primeiro, tem de honrar a camisa e ter comprometimento com o clube dentro de campo“, avaliou.
A declaração ilustra bem quem foi Cocito dentro de campo. Um sujeito que, se não se destacava pela técnica, compensava na vontade e no comprometimento. Por vezes agressivo, tinha no poder de marcação a sua maior qualidade. Tanto que recebeu o curioso apelido de “Coicito” depois da histórica falta cometida sobre Kaká.
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