Como ano sabático ajudou Tite a reinventar o criticado Paulinho na Seleção

  • Por Bruno Landi/Jovem Pan
  • 29/03/2017 15h50
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Na Seleção de Tite Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação Na Seleção de Tite

Dois mil e catorze. O ano que ficou marcado pelo 7 a 1 foi de fundamental importância para o técnico que recolocou a Seleção nos trilhos. Enquanto os torcedores brasileiros lamentavam a derrota mais chocante da história do esporte, Tite cruzava o Atlântico e embarcava rumo à Espanha, onde arejaria a mente e renovaria as ideias sobre futebol.

Um estágio de alguns dias com Carlo Ancelotti, então técnico do Real Madrid, oxigenou o trabalho do brasileiro e o ajudou a entender os motivos que o fizeram ter um 2013 tímido com o Corinthians.

O principal legado da viagem? O aprimoramento da execução do 4-1-4-1, esquema que, em 2011/12, era usado por Tite apenas como variação do 4-2-3-1.

O técnico aproveitou o ano sabático para entender as nuances da nova formação e, quando retornou ao Corinthians, colocou-a em prática da melhor maneira possível: o futebol mais vistoso da temporada foi coroado com o inquestionável título brasileiro de 2015.

Meses depois, Tite realizaria o sonho de comandar a Seleção.

Dentre todos os méritos do técnico no time nacional, o maior deles talvez tenha sido a reinvenção de Paulinho, volante que ficou marcado pela má campanha brasileira na Copa de 2014. “Escondido” na China, o jogador de 28 anos sequer era cogitado para a Seleção quando Tite o convocou pela primeira vez. Menos de um ano depois, no entanto, Paulinho se tornou peça indispensável para o esquema do treinador. 

Titular absoluto do time verde-amarelo, o jogador do Guangzhou Evergrande anotou três gols na goleada sobre o Uruguai e distribuiu duas lindas assistências na vitória sobre o Paraguai. Mais do que isso: consolidou-se como um dos líderes da Seleção que mais encantou o torcedor brasileiro nos últimos anos.  

Mas a reinvenção de Paulinho não foi mera obra do acaso. O sucesso se explica pela função que o meia passou a exercer depois do ano sabático de Tite.

Entenda abaixo! 

De “elemento surpresa” a exímio “leitor” do jogo 

Entre 2011 e 2012, Paulinho era um dos volantes do 4-2-3-1 que ganhou tudo sob o comando de Tite. O jogador atuava ao lado de Ralf e, embora tivesse bastante liberdade para atacar, quase sempre ocupava a mesma linha do jogador de contençãoFoi assim, por exemplo, que, já no Tottenham, o ex-corintiano disputou a Copa do Mundo de 2014 – mas tendo Luiz Gustavo como companheiro.

A função permitia a Paulinho jogar nas costas dos meias adversários e subir ao ataque com liberdade, aparecendo no setor ofensivo como “elemento surpresa”. “O Paulinho era um dos volantes do 4-2-3-1 e tinha o diferencial de infiltrar, entrar muito na área”, explica Bruno Prado, comentarista da Rádio Jovem Pan.

“Ele apresentava algumas dificuldades no passe, é verdade, mas era caracterizado por usar força e velocidade para conduzir a bola e aparecer como elemento surpresa no ataque. Como ele vinha de trás, dava muito certo, porque quase sempre atacava sem nenhuma marcação”.

Hoje, a função de Paulinho na Seleção é outra. Casemiro faz a contenção sozinho, e Renato Augusto o ajuda na saída da defesa para o ataque. Mais avançado, Paulinho joga praticamente como um meia, associando-se aos homens de frente e flutuando pelo campo ofensivo com maior frequência.  

“No 4-1-4-1, o Paulinho joga mais à frente e tem uma liberdade ainda maior para atacar, porque o cara que joga ao lado dele, que é o Renato Augusto, tem a característica de segurar mais a bola. O Renato ajuda na saída, dita o ritmo, é um construtor de jogadas… Então, o Paulinho fica mais tempo no ataque do que ele“, disseca Bruno Prado. 

Na Seleção de Tite, portanto, Paulinho funciona menos como “elemento surpresa” e mais como meia ofensivo. A mudança exige novas habilidades do jogador, mas, ao menos por enquanto, tem dado certo – muito por causa do nível alcançado por Tite no estágio com Ancelotti.

O Paulinho não tem sido tão surpreendente quanto era no Corinthians, porque não sai mais tão de trás assim”, explica Bruno Prado. “Neste 4-1-4-1, ele joga mais avançado, então, precisa ser mais assertivo no momento de chegar na frente. E está conseguindo. Está sabendo ler muito bem o jogo, acompanhar o raciocínio dos companheiros. O Paulinho evoluiu muito. 

A inteligência tática e a capacidade de adaptação tornaram Paulinho um dos pilares da Seleção Brasileira de Tite. Hoje, parece ser impossível imaginar o time canarinho sem ele. Giuliano, Lucas Lima e Diego são os seus principais concorrentes. Tchê Tchê, Fabinho, Allan e Willian Arão podem entrar na lista. Nenhum deles, no entanto, parece ter condições de superá-lo e barrá-lo da equipe que vai buscar o hexa em 2018.

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