Como ano sabático ajudou Tite a reinventar o criticado Paulinho na Seleção
Na Seleção de Tite
Na Seleção de TiteDois mil e catorze. O ano que ficou marcado pelo 7 a 1 foi de fundamental importância para o técnico que recolocou a Seleção nos trilhos. Enquanto os torcedores brasileiros lamentavam a derrota mais chocante da história do esporte, Tite cruzava o Atlântico e embarcava rumo à Espanha, onde arejaria a mente e renovaria as ideias sobre futebol.
Um estágio de alguns dias com Carlo Ancelotti, então técnico do Real Madrid, oxigenou o trabalho do brasileiro e o ajudou a entender os motivos que o fizeram ter um 2013 tímido com o Corinthians.
O principal legado da viagem? O aprimoramento da execução do 4-1-4-1, esquema que, em 2011/12, era usado por Tite apenas como variação do 4-2-3-1.
O técnico aproveitou o ano sabático para entender as nuances da nova formação e, quando retornou ao Corinthians, colocou-a em prática da melhor maneira possível: o futebol mais vistoso da temporada foi coroado com o inquestionável título brasileiro de 2015.
Meses depois, Tite realizaria o sonho de comandar a Seleção.
Dentre todos os méritos do técnico no time nacional, o maior deles talvez tenha sido a reinvenção de Paulinho, volante que ficou marcado pela má campanha brasileira na Copa de 2014. “Escondido” na China, o jogador de 28 anos sequer era cogitado para a Seleção quando Tite o convocou pela primeira vez. Menos de um ano depois, no entanto, Paulinho se tornou peça indispensável para o esquema do treinador.
Titular absoluto do time verde-amarelo, o jogador do Guangzhou Evergrande anotou três gols na goleada sobre o Uruguai e distribuiu duas lindas assistências na vitória sobre o Paraguai. Mais do que isso: consolidou-se como um dos líderes da Seleção que mais encantou o torcedor brasileiro nos últimos anos.
Mas a reinvenção de Paulinho não foi mera obra do acaso. O sucesso se explica pela função que o meia passou a exercer depois do ano sabático de Tite.
Entenda abaixo!
De “elemento surpresa” a exímio “leitor” do jogo
Entre 2011 e 2012, Paulinho era um dos volantes do 4-2-3-1 que ganhou tudo sob o comando de Tite. O jogador atuava ao lado de Ralf e, embora tivesse bastante liberdade para atacar, quase sempre ocupava a mesma linha do jogador de contenção. Foi assim, por exemplo, que, já no Tottenham, o ex-corintiano disputou a Copa do Mundo de 2014 – mas tendo Luiz Gustavo como companheiro.
A função permitia a Paulinho jogar nas costas dos meias adversários e subir ao ataque com liberdade, aparecendo no setor ofensivo como “elemento surpresa”. “O Paulinho era um dos volantes do 4-2-3-1 e tinha o diferencial de infiltrar, entrar muito na área”, explica Bruno Prado, comentarista da Rádio Jovem Pan.
“Ele apresentava algumas dificuldades no passe, é verdade, mas era caracterizado por usar força e velocidade para conduzir a bola e aparecer como elemento surpresa no ataque. Como ele vinha de trás, dava muito certo, porque quase sempre atacava sem nenhuma marcação”.
Hoje, a função de Paulinho na Seleção é outra. Casemiro faz a contenção sozinho, e Renato Augusto o ajuda na saída da defesa para o ataque. Mais avançado, Paulinho joga praticamente como um meia, associando-se aos homens de frente e flutuando pelo campo ofensivo com maior frequência.
“No 4-1-4-1, o Paulinho joga mais à frente e tem uma liberdade ainda maior para atacar, porque o cara que joga ao lado dele, que é o Renato Augusto, tem a característica de segurar mais a bola. O Renato ajuda na saída, dita o ritmo, é um construtor de jogadas… Então, o Paulinho fica mais tempo no ataque do que ele“, disseca Bruno Prado.
Na Seleção de Tite, portanto, Paulinho funciona menos como “elemento surpresa” e mais como meia ofensivo. A mudança exige novas habilidades do jogador, mas, ao menos por enquanto, tem dado certo – muito por causa do nível alcançado por Tite no estágio com Ancelotti.
“O Paulinho não tem sido tão surpreendente quanto era no Corinthians, porque não sai mais tão de trás assim”, explica Bruno Prado. “Neste 4-1-4-1, ele joga mais avançado, então, precisa ser mais assertivo no momento de chegar na frente. E está conseguindo. Está sabendo ler muito bem o jogo, acompanhar o raciocínio dos companheiros. O Paulinho evoluiu muito“.
A inteligência tática e a capacidade de adaptação tornaram Paulinho um dos pilares da Seleção Brasileira de Tite. Hoje, parece ser impossível imaginar o time canarinho sem ele. Giuliano, Lucas Lima e Diego são os seus principais concorrentes. Tchê Tchê, Fabinho, Allan e Willian Arão podem entrar na lista. Nenhum deles, no entanto, parece ter condições de superá-lo e barrá-lo da equipe que vai buscar o hexa em 2018.
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