Como ex-goleiro pode inspirar Follmann a seguir carreira esportiva mesmo amputado

  • Por Jovem Pan
  • 26/12/2016 13h34

Ex-goleiro do São Paulo Facebook/Reprodução Ex-goleiro do São Paulo

Dentre os três jogadores que sobreviveram ao desastre aéreo que vitimou praticamente toda a delegação da Chapecoense, no mês passado, na Colômbia, apenas um já tem descartado o retorno ao futebol. O goleiro Jackson Follmann, de 24 anos, sofreu importantes lesões na coluna cervical e teve de amputar parte da perna direita depois do acidente. Ele nunca mais jogará futebol profissionalmente. Mas, não necessariamente, precisará abandonar a carreira esportiva. 

Bruno Landgraf é a prova disto.  

Há dez anos, o então promissor goleiro do São Paulo, campeão mundial com a Seleção Brasileira sub-17, viu a sua vida virar do avesso com um gravíssimo acidente de carro. Então com 20 anos e considerado o sucessor natural de Rogério Ceni, Bruno perdeu o controle de um Golf no quilômetro 311 da Rodovia Régis Bittencourt e capotou, caindo em um desnível da pista. 

O goleiro e mais quatro amigos voltavam da casa do pai de Bruno, em São Lourenço da Serra, e estavam na pista em direção ao Paraná, na divisa entre Itapecirica da Serra e São Lourenço da SerraWeverson, também arqueiro do São Paulo, e Natália, jogadora de vôlei do Osasco, morreram. Bruno? Sofreu um grave trauma na região cervical, ficou oito meses no hospital e saiu dele em uma cadeira de rodas, com quadro de tetraplegia. Ou seja: sem conseguir mexer nem braços, nem pernas.

O sonho de ter uma carreira longeva no futebol se encerrou precocemente. Mas Bruno encontrou no esporte paralímpico uma saída para melhorar a qualidade de vida. Hoje velejador, o ex-goleiro de 30 anos já consegue mexer os membros superiores e tem no currículo duas participações em Jogos Paralímpicos, em Londres-2012 e Rio-2016 – ele foi 11º colocado na Inglaterra, e nono no Brasil.

“O esporte paralímpico me ajudou muito. Eu fiquei oito meses no hospital e, quando saí, não conseguia fazer nenhum movimentoComecei a fazer natação mais para tentar ganhar movimento e fortalecer a musculatura. Só conheci a vela em 2008. No início, não conseguia ficar nem 20 minutos treinando sozinho. E, hoje, já consigo ficar cinco horas dentro do barco sem me cansar. O esporte ajudou muito a melhorar a minha qualidade de vida. Eu só consigo comer sozinho graças a ele”, exemplificou, em entrevista exclusiva a Felipe Altarugio, da Rádio Jovem Pan. 

Engana-se, contudo, quem pensa que foi a perda dos movimentos que mais chateou Bruno. O ex-goleiro se abalou, mesmo, com a morte dos amigos – situação que também terá de ser encarada pelos sobreviventes do acidente da Chapecoense. De acordo com o ex-jogador do São Paulo, o fato de sobreviver a um acidente que custou a vida de outras pessoas pode provocar um sentimento de culpa a quem não morreu.

“A princípio, eu tentava não pensar muito que jogava bola antes do acidente. Não comparava as situações. Só pensava em melhorar a cada dia. Mas a minha perda maior não foi a dos movimentos, e sim a dos meus amigos Weverson e Natália, que nunca mais vão voltar. Com o tempo, pode ser que eu recupere mais alguns movimentos do corpo, afirmou. 

“Não tem um dia que eu não pense nos dois. Eu treinava todo dia com o Weverson. Ele era como um irmão para mim. E a Natália também era uma grande amiga. Foi muito complicado para mim tê-los perdido no acidente. No caso dos sobreviventes do acidente da Chapecoense, vai ser mais difícil ainda, porque praticamente todos os funcionários do clube morreram. Isso vai ficar para sempre na cabeça deles. No início, a família vai ter de ajudar muito“, finalizou. 

Jackson Follmann é o único sobrevivente do acidente da Chapecoense que ainda não recebeu alta. O goleiro de 24 anos vai passar por uma cirurgia no tornozelo esquerdo nos próximos dias e, daqui a algumas semanas, também deve ser submetido a uma intervenção para colocação de prótese na perna direita, amputada. A Chapecoense já manifestou o interesse de contar com Follmann em um cargo diretivo, mas ainda não se sabe se ele vai aceitar o convite. O que se sabe é que, se quiser continuar competindo em alto nível, o goleiro tem no paradesporto uma linda possibilidade de vida.

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