Conhecido no futebol, Marin tem denso passado político ligado à ditadura militar
José Maria Marin tem sido nos últimos meses uma das figuras mais conhecidas do futebol brasileiro, mas pelo lado negativo. Preso desde maio na Suíça, o ex-presidente da CBF entrou em acordo com a polícia americana e foi extraditado nesta quarta-feira (28) para os Estados Unidos, onde responderá por crimes cometidos quando geria a entidade. No entanto, o passado de Marin na política é longo e denso, conforme mostrou o repórter Thiago Uberreich, da Rádio Jovem Pan, em um perfil do ex-cartola.
Marin nasceu em 1932 e se formou em advocacia no Largo São Francisco. Nos anos 1960, se tornou vereador na capital paulista e, na década seguinte, se tornou deputado estadual pela Arena, o partido da ditadura militar brasileira. Seu perfil de ultradireita foi confirmado em 1976, quando ele fez um discurso em homenagem ao delegado Sérgio Paranhos Fleury, símbolo da repressão e da tortura do regime militar.
“Queremos prestar os nossos melhores cumprimentos a um homem que há muito vem prestando relevantes serviços à coletividade, mas nem sempre tem sido feita a devida justiça a seu trabalho. Nos referimos ao delegado de polícia Sérgio Fleury. Um policial desse quilate, um homem que vem dedicando a sua vida inteiramente ao combate do crime. Por que nós, paulistas, não devemos também reconhecer e fazer justiça a esse trabalho?”, disse Marin em discurso.
Um ano antes, Marin cobrou providências das autoridades paulistas contra acusações de ligação entre jornalistas da TV Cultura e o Partido Comunista. Dias depois do discurso, em 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog, chefe de jornalismo da TV Cultura, foi assassinado pelos militares enquanto estava preso no Doi Codi.
“Quero chamar a atenção do senhor secretário de cultura do Estado, do senhor governador, que venha a público esclarecer definitivamente essas denúncias que estão sendo levantadas pela imprensa de São Paulo e de forma particular, apresentando miséria, apresentando problemas, e tem de apresentar inclusive soluções. O que não pode durar é esta omissão, tanto por parte do secretário de cultura do Estado quanto do governador”, afirmou o futuro presidente da CBF.
Três anos depois, em 1978, Marin foi eleito vice-governador na chapa de Paulo Maluf de forma indireta, enquanto publicamente exaltava a democracia. “Sou favorável à eleição direta, mas acontece que eu jogo de acordo com as regras do jogo. As regras do jogo são essas, nós entramos dentro (sic) dessas regras, disputamos, vencemos e vamos, inclusive, corresponder à confiança daqueles que nos elegeram”, discursou.
José Maria Marin chegou ao topo de sua carreira política em 1982, quando o governador Paulo Maluf, do PDS, deixou o cargo para concorrer a uma cadeira de deputado, e foi governador de São Paulo por dez meses. No comando do Palácio dos Bandeirantes, Marin fez campanha em favor de Reinaldo de Barros, mas em vão, uma vez que seu candidato foi derrotado por Franco Montoro, do PMDB.
Em 2012, foi a vez de Marin dar sua “contribuição” ao futebol brasileiro ao assumir a presidência da CBF após a renúncia de Ricardo Teixeira. No entanto, na década de 1980, ele já havia dirigido a Federação Paulista de Futebol.
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