De goleiro de futebol a jihadista na Síria
Susana Samhan.
Beirute, 15 jan (EFE).- Quase quatro anos de guerra na Síria bastaram para que uma das estrelas do futebol local em Homs, Abdel Baset al Sarut, trocasse as chuteiras por fuzis AK-47 e agora querer se juntar ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
A história de Sarut, considerado o “herói da revolução” em uma das cidades mais contestadoras do regime, Homs, pode ser considerada uma metáfora da evolução do conflito.
Suas passagens pela prisão e o fato de que tenha sobrevivido a vários ataques contribuíram para transformar em lenda este jovem, nascido em 1992, que passou para o lado dos extremistas.
Um de seus antigos vizinhos no bairro de Al Bayada, Abu Abdu, ainda lembra quando ele era uma celebridade como goleiro da equipe Al Karama. “Na época eu o conhecia de vista, ele não era visto muitas vezes porque na maior parte do tempo treinava no clube”, disse.
No entanto, sua promissora carreira esportiva se viu truncada com o início da revolta popular, em março de 2011.
Sarut se uniu aos protestos e, por seu carisma, em breve se tornou um de seus líderes. As redes sociais estão repletas de vídeos deste jovem com microfone em mãos liderando os cânticos dos manifestantes.
Abu Abdu o conheceu pessoalmente durante uma manifestação de Al Bayada até a praça do Relógio em Homs, que acabou reprimida pelo Exército.
As autoridades “sabiam quem era Sarut, fugimos por um beco e nos cercaram perto da mesquita de Khaled bin Walid”, lembrou Abdu, que a partir daquele dia se tornou seu amigo.
Meses depois, os soldados invadiram Al Bayada e demoliram a casa em que estava um de seus irmãos junto com outros opositores. “Derrubaram a casa sobre suas cabeças, ninguém se salvou, eram 15”, lamentou Abdu.
Esta perda afetou Sarut, que junto com outros jovens do bairro decidiu se unir à luta armada e formou seu próprio grupo, a “Brigada dos Mártires de Al Bayada”, com cerca de 60 membros.
A facção permaneceu no distrito de Al Khalidiya na maior parte do cerco militar ao centro velho de Homs, depois que os uniformizados entraram em Al Bayada.
A vida de Sarut durante o cerco e sua transformação de manifestante a rebelde foi exibida no documentário de 2013 “Retorno a Homs” do diretor Talal Derki, que recebeu o prêmio do júri no festival de Sundance.
Uma das pessoas que estiveram com Sarut durante o cerco é o ativista Zaer al Khalidiya, que o descreve como um homem otimista “a quem todo mundo adora e que não tem inimigos”.
Apesar de agora viver na Turquia, Khalidiya segue em contato pela internet com Sarut, que “não é absolutamente um fanático religioso”.
O ativista explica que a maior parte dos combatentes da Brigada de Sarut, entre eles vários de seus irmãos, faleceram, a maioria há um ano na “Batalha dos Moinhos”, entre o regime e os opositores.
O próprio Abdel Baset se salvou milagrosamente e, em maio, saiu junto com o resto dos rebeldes da parte antiga de Homs, após um acordo com as autoridades, para se dirigir ao norte da província, à região de Izz al-Din e Deir Ful.
Lá, um de seus companheiros é o ativista Mahmoud al Louz, que afirmou à Efe que Abdel Baset se juntou ao EI e que já jurou lealdade ao grupo extremista.
“Após sua chegada, esteve com a Legião de Homs, mas a deixou há um tempo. Depois, passou para o EI”, afirmou Louz, que não entende esta decisão porque os jihadistas “são inimigos da revolução”.
Mesmo assim, ele acredita que seu amigo pode ter se sentido atraído pelo poderio dos radicais e que Sarut pediu ao EI para desempenhar tarefas militares porque quer trabalhar contra o regime.
“Ele é consciente dos crimes (do EI) e deseja dar as costas à sua parte ruim”, opinou Louz.
O ex-goleiro confessou recentemente a Khalidiya que adeririu ao EI “pela fraqueza da comunidade internacional com relação à Síria e o corte dos fornecimentos (aos rebeldes) em Homs”.
O futuro de Sarut é uma incógnita, mas uma coisa é certa: ele não não vai retroceder, já que prometeu não sair da província de Homs até que seja “livre”. EFE
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