Debate e pacto após “pesadelo dos infernos”: o que Seleção fez no intervalo do 7 a 1?

  • Por Jovem Pan
  • 07/07/2016 13h53 - Atualizado em 30/06/2017 17h10
Agência EFE Dante classificou o primeiro tempo de Brasil x Alemanha como um "pesadelo dos infernos"

“Isso não deve estar acontecendo. É uma loucura. É mentira. Um pesadelo dos infernos! Pô… Temos que entrar o mais rápido possível no vestiário para consertar o time, escutar o que o treinador tem a dizer, ver se arruma“.  

Escolhido por Luiz Felipe Scolari para substituir o suspenso Thiago Silva na partida mais fatídica da história da Seleção Brasileira, Dante parou, respirou, olhou para frente e se afundou em pensamentos depois de dançar de um lado para o outro e ver Khedira balançar as redes de Júlio César.  

Eram 28 minutos do primeiro tempo, e o Brasil, pentacampeão mundial de futebol, acabava de levar o quinto gol da Alemanha em plena semifinal de Copa do Mundo. Nas arquibancadas do Mineirão, crianças choravam, adultos se beliscavam e idosos coçavam as vistas.  

Aquilo estava, mesmo, acontecendo? 

Estava. 

Mas a ficha de Dante só caiu quando o apito do mexicano Marco Rodríguez soou e pôs fim, ao menos momentaneamente, àquele “pesadelo dos infernos”. Sob vaias ensurdecedoras e uma gigantesca incredulidade, o zagueiro ergueu a camisa mais célebre do futebol, limpou o suor do rosto e desceu as escadas do maior estádio de Minas Gerais. 

Começava, ali, o intervalo mais estranho e inimaginável da história da Seleção Brasileira. Com um prejuízo de cinco gols e mais 45 minutos por jogar, o time mais vencedor da história do futebol ainda teria de voltar a campo para terminar de enfrentar a poderosa Alemanha. Como se comportaria no segundo tempo da partida que, em menos de meia hora, havia se transformado em uma tragédia?

Dante contou o que Luiz Felipe Scolari e os 22 jogadores brasileiros fizeram durante os 15 minutos que separaram as metades do 7 a 1. Exatamente dois anos depois do resultado mais surpreendente da história das Copas, o zagueiro abriu o coração e, em entrevista exclusiva a Raphael Thebas para o Plantão de Domingo, da Rádio Jovem Pan, viajou no tempo para reviver o que aconteceu no vestiário do Mineirão naquele inesquecível 8 de julho – a entrevista, na íntegra, vai ao ar neste domingo, na Rádio Jovem Pan. 

“Nós estávamos acostumados a lidar com a pressão. Isso não foi um problema naquele dia. O que aconteceu ali foi uma série de erros que não estávamos acostumados a cometer. O fato de o Neymar não jogar, de termos levado um gol muito rápido… Foram muitas situações que aconteceram e para as quais não estávamos preparados”, avaliou Dante, que, ao lado de David Luiz, formou a zaga que, num piscar de olhos, caiu em desgraça dentro de um campo de futebol. 

Foram cinco gols no primeiro tempo. Quatro em seis minutos – algo que nem mesmo o mais surrealista dos roteiristas cinematográficos poderia imaginarO vazio que, ao término da etapa inicial, habitava a mente dos jogadores brasileiros se transformou em nervosismo assim que as portas do vestiário se fecharam. Coube ao pentacampeão mundial Luiz Felipe Scolari esfriar os ânimos no intervalo do 7 a 1.

Jefferson Bernardes/VIPCOMM

“Ele estava calmo, foi bem lúcido. Estava tranquilo… Tranquilo entre aspas, é claro. Naquele momento, todos nós estávamos muito nervosos, então, ele, como treinador, tentou passar um pouco mais de tranquilidade, mesmo sabendo que aquela era uma situação muito difícil”, revelou Dante.

Embora inexplicável e injustificável, a crença em uma possível virada (pasmem!) ainda existia. Por isso, os atletas fizeram uma espécie de pacto nos vestiários do Mineirão: não parariam de correr até o apito final. Na melhor das hipóteses, cada jogada poderia abrandar em partes o vexame que, àquela alturajá se desenhava irreversível – não à toaOscar se esforçou como nunca para, nos acréscimos do segundo tempo, superar Neuer e anotar o gol de honra do Brasil.  

“Não deixamos de acreditar…. Todo nós procuramos falar o que tínhamos achado do primeiro tempo, o que poderíamos melhorar e definimos que deveríamos e precisávamos continuar trabalhando e tentando… Foi um momento muito complexo. Falamos bastante, mas, psicologicamente, estávamos muito abalados”, admitiu o zagueiro.

Ainda absorvendo o massacre alemão, Felipão decidiu fazer duas mudanças antes da volta para o segundo tempo. Para desafogar a iniciação das jogadas e ganhar intensidade no meio de campo, tirou Fernandinho e Hulk para colocar Paulinho e Ramires. Perto da subida ao gramado, voltou a reunir o grupo para, mais uma vez, enfatizar que ainda restavam 45 minutos. Tudo, então, poderia acontecer.  

E o Brasil melhorou. Antes de Schürrle entrar em campo e dar novo gás à já satisfeita seleção alemãNeuer se agigantou e, por que não, garantiu o seu espaço na história do jogo em que o setor ofensivo germânico foi mais perfeito do que nunca. Foram alguns minutos de pressão brasileira até que a Alemanha voltasse a se arriscar no ataque. Dali em diante, bastaram apenas algumas investidas no campo brasileiro para que mais dois gols fossem marcados.


Os hoje campeões mundiais pisaram no freio na segunda etapa? Dante tem certeza de que não. Ele joga na Alemanha há nove anos e, dias depois do 7 a 1, conversou com muitos dovencedores da partida. Seis titulares daquela seleção germânica eram companheiros do defensor no Bayern de Munique – hoje, Dante atua pelo Wolfsburg. 

“Muita gente fala que a Alemanha tirou o pé, mas, para mim, isso aí é agravar ainda mais o que aconteceu. Eu conversei com os jogadores alemães depois do jogo, e eles não tiraram o pé coisa nenhuma. O combinado deles, no intervalo, foi de não fazer gracinha. Só isso. Logo depois do intervalo, o Brasil cresceu, sim… Se tivéssemos feito um gol no início do segundo tempo, poderíamos ter ganhado mais confiança para continuar diminuindo a desvantagem”, lamentou, ainda magoado com a péssima repercussão daquela partida. 

“Se Brasil e Alemanha se enfrentarem mais 50 vezes, não vai acontecer aquilo de novo. É uma pena que as pessoas achem que o 7 a 1 aconteceu devido à falta de qualidade dos jogadores. Elas são muito negativas, falam que ali foi uma lição, mas não foi nada disso. Até mesmo os alemães se surpreenderam com o que aconteceu. Foi uma situação em que nós nos desorganizamos e não soubemos reagir… Quando isso acontece contra uma equipe que está voando, com a confiança lá no alto, pode acarretar numa goleada daquelas. Aquele Brasil tinha muita qualidade, sim”, encerrou, insistindo em defender a Seleção que, há exatos dois anos, protagonizava a derrota mais emblemática da história das Copas.

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