Desdém, diferenças política e filosófica: a rivalidade por trás de Barça x Espanyol
Em dois jogos nos últimos seis dias, ficou claro o clima de rivalidade que envolve Barcelona e Espanyol. As duas principais equipes da Catalunha protagonizaram cenas polêmicas que repercutiram além dos 90 minutos. Na partida do último sábado (2), Neymar foi vítima de ofensas racistas por parte da torcida do Espanyol, e na última quarta-feira (6), as equipes fizeram partida tensa, cheia de confusões que culminou em um bate boca acalorado nos vestiários do Camp Nou.
Embora tenham trajetórias diferentes na história do futebol, Barcelona e Espanyol cultivaram uma rivalidade que agita a Catalunha e que nem mesmo a disparidade econômica e de títulos consegue diminuir.
Elementos como a diferença de filosofias na fundação dos clubes e as posições políticas criaram um clima hostil que até os dias atuais esquentam o derbi catalão.
As diferenças de filosofias
Fundados no mesmo período (Barcelona em 1889, Espanyol em 1900), os rivais, desde suas origens, foram símbolos de duas ideias diferentes: enquanto o Barcelona, criado pelo suíço Joan Gamper, era clube recheado de estrangeiros, o Espanyol foi a primeira agremiação formada predominantemente por catalães e nos primórdios só aceitava atletas espanhóis. Enquanto dividiam o protagonismo do futebol catalão, adeptos da equipe azul e branco chamavam os barcelonistas de “time de estrangeiros”.
Posições políticas
O campo político foi mais um que ampliou as diferenças entre os rivais catalães. Ícone da resistência da região separatista na Espanha, o Barcelona se tornou um símbolo do orgulho catalão durante a Guerra Civil Espanhola e a ditadura do general Franco que dominou a Espanha entre os anos 30 e 70. Já o Espanyol carregou em sua filosofia a integração espanhola, apoiou Franco durante a Guerra Civil e, ao longo da ditadura, clube e seus torcedores passaram a ser vistos como cúmplices do regime autoritário de Madri.
Desdém barcelonista
Principais clubes da região, os rivais catalães seguiram caminhos diferentes ao longo dos anos. Enquanto Barça cresceu, enriqueceu, conquistou 23 títulos nacionais, 5 europeus além de 27 Copas do Rei, o Espanyol sofreu com problemas financeiros, chegou a vender o estádio Sarriá para sanar dívidas e acumulou apenas 4 Copas do Rei em sua história. A disparidade entre os clubes fez com que dirigentes do Barça diminuíssem a importância do clássico. Presidente azul-grená entre 2000 e 2003, Joan Gaspart chegou a afirmar que “o Espanyol não é um rival do Barcelona”, e se tornou persona non grata no clube do estádio Cornellà-El Prat. Outro presidente culé, Joan Laporta, comandante do clube de 2003 a 2010, diminuiu o clássico afirmando que Barça e Espanyol tinham uma “rivalidade metropolitana”.
O caso Saviola
Atacante do Barça no início dos anos 2000, Saviola despertou interesse do Espanyol em 2005. O time do Camp Nou, porém, optou por emprestar o argentino para o Sevilla, negando o pedido dos “periquitos” que contavam com a contratação. Na época, Laporta chegou a dizer que havia propostas melhores pelo jogador, mas os dirigentes do Espanyol acusaram o presidente barcelonista de enganar o clube e desdenhar da proposta por Saviola. O episódio esquentou o clima entre os clubes, e o presidente azul e branco na época, Daniel Sánchez Llibre, cortou relações com o Barcelona.
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