E se existisse o Prêmio Gordon Banks, o “Puskás” para a melhor defesa do ano?
Por que goleiros não têm os seus melhores lances reconhecidos pela Fifa?

Escândalos de corrupção, prisões, afastamentos, queda de presidente, investigações e mais investigações. Em pouco tempo, a Fifa perdeu toda a credibilidade que um dia já teve. Mas nem tudo o que a entidade fez nos últimos anos merece ser condenado. Vide o Prêmio Puskás…
A condecoração do gol mais bonito do ano, que teve a sua primeira edição realizada em 2009, tornou-se um verdadeiro sucesso em todas as partes do planeta. Primeiro, porque trata diretamente com o que há de mais popular no futebol: o gol. Depois, porque não distingue craques de perebas, timaços de sacos de pancada, arenas de pastos.
Se foi o Messi ou o Wendell Lira, pelo Barcelona ou pelo Goianésia, no Camp Nou ou no Serra Dourada… Não importa. O objeto de julgamento é o gol. Avalia-se apenas o valor estético de uma bola que cruza a linha de fundo – nem a rede precisa ser balançada, olha só que curioso.
O prêmio é entregue ao autor, mas o vencedor é o lance. Premia-se o abstrato, algo que só existiu naquele instante e que nunca mais se repetirá. Trata-se, portanto, do reconhecimento do passado; da reverência à verdadeira essência do futebol; da valorização do efeito mais genuíno provocado pelo esporte mais praticado do planeta: o divertimento.
Mas não são só gols que divertem. Não são apenas bolas que cruzam linhas de fundo que emocionam, fazem rir, dão vontade de socar o ar. Dribles, desarmes, cruzamentos e até mesmo chutões para as arquibancadas podem ser capazes de entreter. Tanto quanto um gol? Não. Há, por um acaso, algum sentimento comparável com aquele produzido por um gol? Há. O ocasionado por uma grande defesa.
Na frieza dos números, evitar que um time marque gols vale tanto quanto fazê-los. E, aqui, não se trata de um pensamento conservador. É pura matemática. Ou vai dizer que um 1 a 1 vale mais que um 0 a 0? – ignore, aqui, a esdrúxula regra dos gols qualificados em torneios de mata-mata.
E sim. É, sim, necessário apelar ao extremo didatismo para deixar claro que a intervenção de um goleiro deve ser tão reverenciada quanto o gol de um jogador de linha – ou até mesmo de um arqueiro, quem sabe. Os sujeitos que ficam 90 minutos debaixo das traves, imersos numa quase irrestrita solidão, pressionados a nunca falharem, também têm o seu valor.
E merecem, sim, ser valorizados.
Se um gol pode ser tão bonito a ponto de receber um prêmio, por que não se congratula, também, uma linda defesa? Fica, aqui, o pedido, Dona Fifa: espelhe-se no sucesso do Prêmio Puskas e promova, também, a eleição da defesa mais bonita do ano.
Se estiver sem tempo para pensar em um homenageado, lembre-se do que fez um goleiro inglês na Copa do Mundo de 1970, diante de um atacante negro, vestido de amarelo, com um 10 nas costas – tal de Pelé.
Crie, para ontem, o Prêmio Gordon Banks. Os milhões de goleiros espalhados pelo mundo agradecem. Eles também são gente.
Abaixo, veja dez defesas que poderiam concorrer ao Prêmio Gordon Banks de 2016:
1 – Franco Armani (Atlético Nacional) x Rosário Central
2 – Hugo Lloris (Tottenham) x Bayer Leverkusen
3 – Joe Hart (Inglaterra) x Eslovênia
4 – Gianluigi Buffon (Juventus) x Milan
5 – Igor Akinfeev (Rússia) x Inglaterra
6 – Jan Oblak (Atlético de Madrid) x Tottenham
7 – David De Gea (Manchester United) x Liverpool
8 – Sebastián Torrico (San Lorenzo) x Huracán
9 – Rui Patrício (Portugal) x França
10 – Jeff Bedenik (Vannes OC) x Rennes TA