Ele viveu “o pior” do futebol e foi de time de desempregados. Hoje, brilha em Gales

  • Por Jovem Pan
  • 14/06/2017 12h11 - Atualizado em 29/06/2017 00h14

Rodrigo Branco Arquivo Pessoal Rodrigo Branco

Você conhece o atacante Rodrigo Branco? É muito provável que não. Mas não se preocupe… Hoje com 25 anos, o jogador, que tem passagens por times de menor expressão da Inglaterra e até por Malta, atua no País de Gales – nação que atraiu os holofotes do futebol mundial ao sediar a final da última Champions League, entre Real Madrid e Juventus. Branco tem 1,87m, 73kg e é destro. Um centroavante como tantos outros. No Brasil, no entanto, o futebol lhe fez mais chorar do que sorrir. 

Em entrevista exclusiva a Zeca Cardoso que vai ao ar no próximo fim de semana, na Rádio Jovem Pan, Rodrigo Branco abriu o coração e relatou uma incrível história de vida.  

Da melancólica passagem pelo Grêmio Barueri  clube no qual lidou com fome e até manipulação de resultados  à curiosa atuação no Expressão Paulista  time criado pelo Sindicato dos Atletas de São Paulo para dar ritmo a jogadores desempregados , Branco “sobreviveu” e agora brilha no País de Gales. 

No menor país da Grã-Bretanha, o atacante se tornou o primeiro brasileiro a balançar as redes na primeira divisão galesa – foram cinco gols em 22 jogos. Não bastasse isso, ainda ajudou o modesto Bangor City a se classificar à próxima edição da Europa League – um feito e tanto. 

“Apareci pro pessoal de País de Gales por ter jogado no Floriana, de Malta, em 2013. O dono do time assumiu o Bangor City, uma equipe de Gales, e, como eu o conhecia, apareceu a oportunidade. Eu topei, e está dando certo, celebrou.

Em tese, o sucesso em um país de pouca expressão no futebol não seria motivo de tanto orgulho para um jogador nascido no Brasil – única nação com cinco títulos mundiais. A trajetória de Rodrigo Branco, no entanto, justifica tamanha alegria…

Revelado pelo São Bernardo, o atacante passou pelo sub-20 do Corinthians e deixou o Brasil cedo, ainda aos 21 anos, para jogar na Inglaterra. Mas esqueça os poderosos Arsenal, Chelsea, Manchester United e Liverpool… Rodrigo foi contratado para atuar no desconhecido Fleetwood Town – hoje na terceira divisão inglesa. De lá, rodou pelos quase amadores Lancaster City, Horsham e Hastings United, todos também da Inglaterra, antes de voltar ao Brasil, quando quase abandonou o esporte. 

Sem clube, o atacante teve de conviver com uma realidade ingrata, comum a tantos outros brasileiros: o desemprego. Não fosse o Expressão Paulista, time montado pelo Sindicato dos Atletas de São Paulo para dar ritmo a jogadores desempregados, e o então jovem centroavante teria se aposentado antes mesmo de completar 25 anos. 

“Foi difícil, porque todo jogador que já atuou em time grande ou teve oportunidade fora do País sabe como é a realidade. É completamente diferente. Como eu joguei fora, na Inglaterra, foi duro ter ficado um tempo parado no Brasil. Sofri poucas e boas. Pensei em parar. Comecei a fazer faculdade, trabalhar, mas, por algo que caiu do céu, tive uma chance muito boa no País de Gales e aproveitei.” 

Antes de voltar à Europa, no entanto, Rodrigo Branco penou no futebol paulista. “Eu jogava no Expressão e fiz um teste no Água Santa para atuar na Série A1 do Campeonato Paulista. Estava em uma sequência muito boa, mas, como tinha ficado um ano sem jogar profissionalmente, foi difícil acompanhar o ritmo dos outros atletas... Eles chegaram com um nível físico muito acima do meu. Então, fui para o Grêmio Barueri, clube no qual vi coisas que jamais imaginaria ver na minha vida“.

Foi no Barueri que o atacante viveu o pior momento da carreira. “Foram problemas de combinação de resultado… Coisas que ninguém deveria passar. Só quem tem muita força de vontade“, definiu. “O Barueri estava, de fato, quebrado. Não tinha café da manhã, almoço, janta... Então, era muito mais fácil chegar uma máfia e oferecer dinheiro para o clube perder o jogo. Eu achei isso extremamente ridículo, e presenciei tudo. Foi um dos motivos que me fez pensar em pararPô, os caras não me pagavam salário, comida, mas vinham me oferecer dinheiro para perder um jogo? Muitos meninos aceitavam, porque não tinham nada“, relembrou.

Nesta época, Rodrigo Branco chegou até mesmo a dormir no clube – apenas para economizar dinheiro e ter como bancar a alimentação do restante do elenco. “Tive de ficar alguns dias lá, sem poder ir para casa, porque peguei o único dinheiro que eu tinha, da passagem, para poder comprar mistura para a gente poder jantar. Eu morava perto do clube, podia ir para casa. Mas tinha meninos de outros estados, cidades, que vivam no clube, não tinham para onde ir. Eles ficariam sem comer. Então, decidi ficar ali para ajudar“. 

Não ter pendurado as chuteiras depois da traumática passagem pelo Barueri foi praticamente um milagre. “Ali, foi a última situação para mim, a gota d’água. Eu pensava assim: ‘eu não mereço isso… A minha família me deu estudo, condição de vida bacana, então vou partir para outro caminho, estudar…’. Essa foi a pior experiência que eu tive na minha vida. Espero nunca mais ter de passar por isso“, relatou. 

A “salvação” veio do Bangor City, clube galês que passou a ser comandado por um dirigente que já havia trabalhado com Branco em Malta. O atacante recebeu o convite inesperado, cruzou o Atlântico e novamente desembarcou na Grã-Bretanha. Hoje, tem a certeza de que está melhor no País de Gales do que estaria no Brasil. 

“No Brasil, tem muito jogador para pouca vaga, empresário tomando conta, clube cobrando atleta para poder jogar… São coisas que não existem em outros países. Muitos jogadores de qualidade acabam ficando pelo caminho. Se você não tem empresário e ele não tem contato com diretores, você acaba ficando sem clube. Tenho vontade de voltar ao Brasil, sim, mas a organização é muito complicada. Hoje, estou feliz em Gales”, finalizou.

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