Em condições precárias, técnica do São José critica organização da Libertadores

  • Por Jovem Pan
  • 31/10/2015 16h29
Reprodução/Facebook Para Emily Lima

O São José Esporte Clube é uma potência no futebol feminino sul-americano. Tricampeão da Libertadores, a equipe está em Medelín disputando a edição 2015 do torneio, mas não tem sido tratado como um campeão (e nenhum time) merece. Em entrevista a Bruno Prado, da Rádio Jovem Pan, Emily Lima, técnica da equipe paulista, contou sobre as dificuldades que estão enfrentando na Colômbia, boa parte delas imposta pelo tratamento nada adequado dos anfitriões.

“Nossa chegada já foi um pouco estranha. Nós chegamos com mais duas delegações, da Argentina e da Ferroviária, do Brasil, e as duas entraram em ônibus grandes, o nosso era um micro-ônibus. Tivemos de colocar a delegação nos ônibus das outras equipes e colocar o material no micro-ônibus junto com a comissão técnica. Depois, na chegada ao hotel, soubemos que as atletas só poderiam comer um pedaço de carne, pequeno ou grande. É bastante complicado”, disse Emily Lima.

“Fui perguntando para as outras delegações como estava a alimentação deles, e eles disseram que estavam à vontade, que não tinha problema nenhum com comida. Nós fizemos um jogo ontem num campo totalmente sem padrão de Libertadores, foi bem vergonhoso. Da metade do segundo tempo até acabar o jogo, nós jogamos no escuro. Nosso gol saiu aos 41 minutos e eu não vi, não conseguia enxergar a bola”, continuou a treinador. Para ela, a organização do torneio pode estar deliberadamente prejudicando sua equipe.

“Eu tenho um amigo que trabalha na organização do torneio e ele me disse ‘em off’ que o sorteio foi totalmente direcionado para nos prejudicar. (Isso aconteceu) Por que nós somos os atuais campeões da Libertadores? Não sei. Está tudo muito estranho. Nenhuma equipe que foi ao Brasil passou por isso, lá tinha comida à vontade, tinha gelo para as equipes, aqui estão regulando gelo, temos de comprar do próprio bolso. Está bastante diferente do que estamos acostumados”, completou. Todas as outras edições da Libertadores feminina, de 2009 a 2014, foram realizadas no Brasil.

Emily Lima também fez uma análise do cenário do futebol feminino no país. “Sempre melhora um pouquinho, mas é tão pouco que a gente acaba não vendo muita diferença. A gente tem que mudar a forma de ver o futebol feminino, as pessoas que estão à frente na CBF devem tentar ver a modalidade como se fosse um novo produto e conseguir vender esse novo produto. Eu espero que essas pessoas que estão à frente da modalidade tenham o prazer de trabalhar com ela e não somente, por exemplo, na Seleção principal. Não vai ser uma medalha olímpica que vai mudar tudo; já conseguimos medalha de prata, que é muito difícil, e nada melhorou”, criticou.

“Do nada deixaram de convocar a Seleção Sub-15. Se a gente não dá valor à base, que é o que precisamos para colher fruto lá na frente, é complicado de entender. É muito fácil ficar na frente da televisão e falar que tem muitas dificuldades. Tem de começar a resolver os problemas. Se não dermos importância para a base, não vamos conseguir melhorar nunca, porque a Formiga está parando, a Marta está parando, a Cristiane está parando, e vamos nomear algumas jogadoras da Sub-20 para substituir Marta, Cristiane e Formiga. Não tem, porque não se trabalha a base”, concluiu Emily.

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