Em momento especial, Cotia encanta Bauza e anima São Paulo para futuro

Em um passado não tão distante, poucos assuntos provocavam tanta dor de cabeça aos dirigentes são-paulinos quanto aqueles relacionados ao Centro de Formação de Atletas Presidente Laudo Natel. Por muito tempo, cobrou-se maior integração entre o popular CT de Cotia, inaugurado em 2005 apenas para abrigar as categorias de base do São Paulo, e o CT da Barra Funda, onde o time profissional trabalha diariamente. A equipe tricolor revelava muitos atletas, mas aproveitava poucos deles.

Muricy Ramalho foi a maior vítima de Cotia. Tricampeão brasileiro e ídolo incontestável do clube, o treinador chegou a conviver com enorme pressão por não utilizar jovens lançados pela base do São Paulo. A espetacular estrutura tricolor, referência mundial no trabalho de formação de atletas, pouco dava frutos à equipe profissional.

Lucas Moura, hoje no PSG, talvez tenha sido a única exceção do centro, que se notabilizou por criar valores promissores, mas que pouco foram valorizados entre os adultos – o exemplo de Casemiro é o mais emblemático: saiu do clube pela porta dos fundos e se tornou titular do Real Madrid. Sempre houve, portanto, muitas restrições quanto ao trabalho são-paulino na transição da base para o profissional. 

Mas este problema parece ter ficado para trás. Onze anos depois de ter sido inaugurado, o CT de Cotia finalmente alcançou a maturidade. O principal time de base do São Paulo é, hoje, o mais vencedor do Brasil, e os frutos têm começado a aparecer também na equipe comandada por Edgardo Bauza. Quem explica tudo é André Jardine, técnico do time Sub-20 do São Paulo. “A gente está vivendo um momento realmente muito especial dentro do clube. Percebo uma energia muito positiva irradiando no São Paulo”, afirmou, em entrevista exclusiva a Flávio Prado para o Plantão de Domingo, da Rádio Jovem Pan.

A equipe Sub-20 tricolor, afinal, vive fase espetacular. Somente de 2015 para cá, foi campeã da Copa do Brasil, da Copa RS, da Copa Ouro e da Copa Libertadores da América da categoria. Na última Copa São Paulo, caiu apenas nas quartas de final – e para o Flamengo, que, dias depois, ergueria a taça no Pacaembu. O sucesso é nítido. E o melhor: tem sido capitalizado pelo time profissional. 

O argentino Edgardo Bauza está encantado com o talento dos jogadores revelados por Cotia e, aos poucos, tem dado chances a jovens valores. Na estreia são-paulina no Campeonato Brasileiro, por exemplo, seis jogadores formados no clube foram relacionados pela primeira vez a uma partida profissional: o zagueiro Lucas Kal, o lateral-direito Araruna, os volantes Banguelê e Artur e os atacantes Pedro Bortoluzo e Luiz Araújo. Isso sem falar no meia Lucas Fernandes, que já integrava o elenco de cima e, inclusive, marcou o gol do triunfo tricolor por 1 a 0 sobre o Botafogo, em Volta Redonda. 

Tudo bem, o fato de atletas como Denis, Bruno, Maicon, Rodrigo Caio, Mena, Hudson, Wesley, Paulo Henrique Ganso, Michel Bastos e Calleri terem sido poupados para a Libertadores foi determinante para que os jovens ganhassem tamanha oportunidade. Não dá para negar, porém, que Edgardo Bauza tem aproveitado melhor os talentos da base. Formados em Cotia, Lucas Fernandes, Matheus Reis, Lyanco, Lucão, Auro, Rodrigo Caio, Léo, Banguelê, João Paulo e João Schmidt já treinam entre os profissionais, por exemplo. 

“O São Paulo, de fato, começou 2016 com o objetivo de aproximar ainda mais a base do profissional, de transformar o clube em uma coisa só“, admitiu Jardine. “A distância física de Cotia para Barra Funda tem sido superada. Nós estamos conseguindo mostrar a nossa qualidade nos coletivos que fazemos com os profissionais, e, de certa maneira, temos impressionado a comissão técnica. Ela tem visto que estamos trabalhando em um nível muito alto, e eu converso muito com a equipe do Bauza. Estamos nos sentimos muito valorizados“, comemorou o treinador do time Sub-20, antes de finalizar com uma frase simbólica, capaz de encher os tricolores de esperança: “quem sabe não seja o início de uma nova era no São Paulo“. 

Quem sabe…