Entenda causas e consequências do impeachment de Roberto de Andrade no Corinthians

  • Por Jovem Pan
  • 08/02/2017 23h20
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Agência Corinthians Processo de Impeachment de Roberto de Andrade será votado no próximo dia 20

Nesta próxima segunda-feira (20) mais um importante capítulo da longa e conturbada história política do Corinthians poderá ser escrito. Membros do conselho deliberativo do clube alvinegro irão votar o processo de impeachment do presidente Roberto de Andrade, que está no cargo desde fevereiro de 2015, quando venceu a disputa eleitoral com o candidato Antônio Roque Citadini.

Como não poderia ser diferente, o fato ganhou repercussão na imprensa e nas redes sociais, levando os torcedores corintianos e até rivais a se perguntarem como o cartola e o clube chegaram a essa situação. Para esclarecer as dúvidas, a Jovem Pan apresenta detalhes da crise que levou à abertura do processo de impeachment e quais as consequências dentro e fora das quatro linhas. Confira:

Causas

Se não bastassem os resultados ruins do time dentro de campo, especialmente após a saída de Tite, os constantes atrasos de salários dos jogadores, a vexatória negociação com o atacante Didier Drogba e as dificuldades em sanar a dívida da Arena, a crise atingiu também os bastidores do clube alvinegro. Desde o último ano, o presidente Roberto de Andrade vem perdendo força e apoio político, que tanto lhe ajudaram a ser eleito.

Roberto de Andrade chegou ao cargo graças ao ex-presidente corintiano, Andrés Sanchez. No início de seu mandato, para retribuir o apoio, Andrade nomeou Sanchez como superintendente de futebol do clube, função que ocupou até janeiro de 2016. O motivo da saída é desconhecido, porém já era um sinal de que a relação entre o ex-presidente e o atual mandatário no clube não estava boa.

Desde então, a cada decisão tomada por Roberto de Andrade, a insatisfação da oposição aumentou. O presidente alvinegro foi duramente criticado por ter permitido a debandadas dos jogadores campeões brasileiros com o Corinthians em 2015 e, principalmente, pelas sucessivas trocas de treinadores no time alvinegro. Enquanto Sanchez e alguns conselheiros pediam Roger ou Eduardo Baptista, Andrade optou por Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira.

Os resultados ruins dentro de campo, somados a crise financeira que tomou conta do clube, fortaleceu a oposição, que com o apoio de 63 conselheiros protocolou o pedido de impeachment de Roberto de Andrade, em novembro passado. O cartola é acusado de ter assinado atas de reuniões com a Odebrecht sobre a Arena Corinthians dois diante de ser eleito, e de ter assinado o contrato de locação do estacionamento estádio com a empresa Omni 27 dias antes de sua eleição, em 7 de fevereiro de 2015.

A denúncia foi feita pela revista Época e essas supostas irregularidades cometidas pelo presidente alvinegro iriam contra o estatuto e estariam provocando prejuízos a imagem do clube. Porém, somente dois meses depois, já com a defesa apresentada pelo presidente alvinegro e o parecer da comissão de ética entregue, a votação do pedido de destituição do dirigente pode ser marcada.

De acordo com o estatuto do Corinthians, o pleito do processo de impeachment do presidente alvinegro será realizado primeiramente entre os membros do conselho deliberativo do clube. Atualmente, o conselho possui 344 integrantes e para que o afastamento de Roberto de Andrade do cargo aconteça, é necessário que a maioria dos presentes votem à favor do pedido.

Em um segundo momento, caso aprovem a destituição do presidente do cargo, o impeachment teria que ser ratificado pelos sócios do clube, em uma assembleia geral. Neste período, cerca de 30 dias, o Corinthians seria comandado pelo seu vice-presidente, até a realização de uma nova eleição, quando os conselheiros seriam os responsáveis por escolher um dirigente para ficar no cargo até fevereiro de 2018.

Consequências

O possível sucessor de Roberto de Andrade na presidência é André Luiz Oliveira, atual vice-presidente. A princípio, ele assumiria o cargo interinamente, mas sabe-se que André Negão, como é conhecido, tem o sonho de assumir o comando do Corinthians em definitivo. E isso deve acontecer, já que o dirigente conta com o apoio de Andrés Sánchez, de quem é braço direito dentro e fora do clube, além de não ter concorrente na nova eleição.

Porém, assim como muitos cartolas brasileiros, o passado de André Negão é obscuro. Em março do ano passado, foi alvo de uma das fases da Operação Lava Jato, ao ser acusado de ter recebido propina da Odebrecht durante as obras da Arena Corinthians para a Copa do Mundo de 2014. Nas buscas em sua residência, os policiais encontraram armas de fogo sem licença e ele acabou sendo preso.

Autuado, André Negão pagou fiança e foi solto no mesmo dia. Antes disso, porém, o vice-presidente do Corinthians teve outras duas passagens pela polícia. Em 2007, foi preso em flagrante por contravenção ligada ao jogo do bicho e, em 2011, foi conduzido a delegacia, acusado pelo mesmo crime anterior, ampliado com a inclusão de suspeita de operar máquinas de caça-níquel.

André Negão começou a sua história no Corinthians durante a década de 90, quando se tornou sócio de uma das escolinhas de futebol do clube na zona norte de São Paulo. Na época conheceu Andrés Sánchez, que trabalhava nas categorias de base do clube alvinegro, e juntos viriam a se tornar conselheiros vitalícios do Corinthians na terceira gestão do presidente Alberto Dualib, em 2003.

Após a renúncia de Dualib, Sánchez conseguiu ser eleito presidente do clube em 2007 e Negão foi nomeado diretor administrativo. Considerado sucessor natural no comando do Corinthians, o dirigente acabou preterido nos pleitos seguintes, por Mário Gobbi e Roberto de Andrade. Mas mesmo assim, com Andrade, fez parte da chapa vencedora e conseguiu se tornar o primeiro vice.

Neste mesmo período, André Negão atuou na vida pública, trabalhando na sub-prefeitura da Vila Maria, zona norte de São Paulo, e depois coordenando um projeto esportivo no mesmo bairro nas gestões dos prefeitos José Serra e Gilberto Kassab. Exonerado em 2013, quando Fernando Haddad assumiu a prefeitura, passou a chefiar o gabinete do deputado federal Andrés Sánchez.

 

Ano passado, nas eleições municipais, o dirigente alvinegro chegou a se candidatar ao cargo de vereador na capital paulista pelo Partido Democrático Trabalhista. No entanto, mesmo com o apoio do deputado federal, recebeu apenas 20.481 votos e não foi eleito. Sem conseguir uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo, André Negão voltou suas atenções à política do clube alvinegro.

Agora com a possível saída de Roberto de Andrade, André Negão pode enfim realizar o sonho de se tornar o primeiro presidente negro da história do clube, como costuma dizer. Caso isso aconteça, o cartola teria uma missão difícil pela frente. Primeiro teria que vencer a desconfiança em torno do seu nome e depois encarar os problemas enfrentados pelo clube fora e dentro de campo.

As crises política e financeira que tomaram conta do Corinthians na gestão de Roberto de Andrade não devem acabar tão cedo e podem continuar refletindo dentro das quatro linhas. Se nos últimos anos, Tite e o departamento de futebol conseguiam blindar o grupo de jogadores dos problemas enfrentados nos bastidores do clube, atualmente o time não conta com pessoas capazes de oferecer esse respaldo.

Além disso, jogadores e treinador passam por um momento de afirmação no Corinthians. Muitos reforços chegaram ao clube alvinegro como apostas, assim como Fábio Carille, que foi a alternativa encontrada por Roberto de Andrade para comandar o time, após o insucesso na contratação de um nome mais experiente, como os de Guto Ferreira, Paulo Autuori e até do colombiano Reinaldo Rueda.

A temporada 2017 promete novos e importantes capítulos para a história corintiana.

Jovem Pan procurou o presidente Roberto de Andrade para falar sobre o processo de impeachment, mas de acordo com a assessoria do Corinthians, o dirigente e demais membros da diretoria só vão se pronunciar após a decisão do Conselho Deliberativo do clube alvinegro.

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