Escândalo de doping russo se espalha e Fifa analisará caso; laboratório é banido

  • Por Agência Estado
  • 10/11/2015 11h03

Segundo Vitaly Mutko Divulgação Rússia reduzirá em 10% os gastos com a organização da Copa do Mundo de 2018

A crise sobre o doping dos atletas russos se espalha e agora é a Fifa que anuncia que vai examinar o informe produzido pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). No relatório apresentado em Genebra na segunda-feira, os investigadores apontaram que o ministro de Esportes, Vitaly Mutko, sabia da manipulação de resultados e que chegou a apoiar as manobras. 

Mutko, porém, é membro do Comitê Executivo da Fifa e principal organizador da Copa de 2018, em seu país. Em Moscou, ele é o homem de confiança de Vladimir Putin não apenas no futebol, mas também para garantir bons resultados para o país em diversos esportes. Uma das orientações do Kremlin ainda era de que Mutko deveria trazer para a Rússia o maior número de eventos, inclusive os Jogos Olímpicos de Inverno, realizado em Sochi, em 2014. 

Mas, para o investigador da Wada, Dick Pound, o doping na Rússia foi organizado pelo próprio estado e com o “total conhecimento de Mutko”. “Ele era cúmplice”, disse. 

Agora, seu caso também desembarca na Fifa, já atolada com casos de corrupção e com seus mega eventos ameaçados por investigações da Justiça da Suíça e dos Estados Unidos. “Vamos avaliar cuidadosamente os resultados do informe da Wada”, declarou o porta-voz do Comitê de Ética da Fifa. Pelas regras da entidade, um membro do Comitê Executivo da Fifa deve “mostrar compromisso com uma atitude ética”. 

Segundo a Wada, o governo russo ordenou a destruição de 1,4 mil amostras de sangue e urina de um laboratório, dias antes de uma inspeção. Coincidentemente, Moscou também havia destruído os computadores onde estavam registrados os detalhes da campanha da Rússia para sediar a Copa de 2018. A destruição ocorreu momentos antes de uma visita de uma equipe de investigadores da Fifa.

Ironicamente, Mutko foi entrevistado pelos investigadores da Wada justamente em um hotel de Zurique, o Baur au Lac, o mesmo local que foi alvo da operação policial que prendeu sete cartolas do futebol em maio de 2015. O encontro ocorreu no dia 22 de setembro de 2015, justamente quando Mutko estava no hotel para reuniões sobre a Copa de 2018.

Dick Pound contou que Mutko disse que os investigadores teriam de fazer o que fosse necessário. “Mas nós o explicamos que não seria nada positivo o que sairia de nossa avaliação”, disse. 

Em seu informe, a Wada não deixa dúvidas do envolvimento do ministro. Para a agência existem “sérias dúvidas” sobre a real independência da agência russa de controle de doping em relação a Mutko.

Pound ainda apontou que o ministério de Mutko “nada fez para investigar as sérias alegações de atitudes criminais por parte de dirigentes do esporte na Rússia”.

Além disso, ele interferiu diretamente nos casos de doping. Num dos trechos do documento, Mutko é acusado de “ordenar a manipulação de determinadas amostras” e de promover “intimidação direta do estado russo nas operações do laboratório”. 

Não apenas o diretor do local, Grigory Rodchenkov, foi grampeado, mas também era instruído a se reunir semanalmente com oficiais da FSB, a nova versão da KGB. 

LABORATÓRIO – Nesta terça-feira, dando seguimento ao informe, a Wada anunciou o descredenciamento do laboratório de testes de Moscou, o que significa que a partir de agora todos os exames terão de ocorrer fora da Rússia, inclusive para a Copa de 2018 se até lá a crise não for solucionada. 

O descredenciamento ocorrerá de forma “imediata” e a agência anuncia que todas as amostras em Moscou serão levadas a um local “seguro”, provavelmente fora da Rússia. 

As autoridades russas tem ainda o direito de entrar com um recurso na Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês). Mutko, por sua vez, nega qualquer irregularidade.

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