Esgrimista Giulia Gasparin pede apoio e vê no Rio-2016 seu grande touchée

  • Por Bruno Bataglin/Jovem Pan
  • 12/03/2015 12h37

Curitibana Giulia Gasparin sonha em representar o Brasil na esgrima nos Jogos do ano que vem

Facebook/reprodução Giulia Gasparin

Sonho de todo atleta de alto rendimento, participar das Olimpíadas é um objetivo árduo por si só. Quando você ainda é praticante de uma modalidade pouquíssimo divulgada em seu país, a tarefa torna-se ainda mais complicada. Giulia Gasparin sabe disso, mas não pensa em desistir.

Depois de se ‘aventurar’ na natação e no tênis quando mais jovem, a curitibana encontrou na esgrima seu porto seguro. Em um folheto de atividades extracurriculares de seu colégio, aos 14 anos de idade, viu a oportunidade de praticar o esporte, por um acaso. Touchée. Foi um hobby que, mais tarde, tomaria uma proporção até então inimaginável, como a atleta revelou em entrevista exclusiva ao Jovem Pan Online.

“As portas que foram se abrindo. Comecei bem informalmente na esgrima, mas a prefeitura de Curitiba tem um projeto que te dá um pequeno valor para te ajudar em competições, em treinamentos. Eu resolvi fazer um e o meu foi aprovado. Com isso, consegui começar a participar de campeonatos nacionais, algumas outras competições. Comecei a entrar no meio de competições e descobri que eu gostava daquilo. Aquela vontade de melhorar, de sempre buscar resultados foi crescendo. A coisa foi ficando mais séria”, disse Giulia, atualmente com 24 anos de idade.

A cidade de Curitiba, entretanto, logo limitou os horizontes da esgrimista. A jovem logo se deu conta que, se realmente quisesse chegar a um novo patamar na modalidade, sobretudo em sua disciplina, o sabre, precisaria cruzar divisas. Surgiram então duas opções plausíveis: Porto Alegre e São Paulo. Giulia optou pela primeira. E foi por um motivo bem simples: o custo de vida.

“Eu percebi que, se eu quisesse ser boa, eu teria que sair de Curitiba, porque lá não tinha muita gente que treinava a minha modalidade, que é o sabre. A esgrima já é um esporte pouco difundido, e ainda tendo três armas, o sabre, o florete e a espada, ramifica ainda mais a influência. Então surgiu o Bolsa Atleta, o apoio do governo, e fui para Porto Alegre. Comecei a treinar pela Sogipa e entrei para a equipe nacional. Foram coisas que me motivaram a continuar e vi que seria possível buscar uma vaga olímpica para 2016”, frisou.

“Esse é o grande problema da esgrima. É pouco difundido, então consequentemente tem pouco apoio. Isso parte desde a base até o alto rendimento. Tem poucas iniciativas para difundir o esporte, para criar mais clubes, mais técnicos. O Brasil é um país tão grande e nem todos os estados têm esgrima. Fica mais concentrado no sul, em São Paulo, em Minas Gerais. Mais para o norte surgiram algumas (escolas) nos últimos anos, mas ainda é uma coisa tímida. Falta um interesse maior, primeiramente na base, para que mais pessoas comecem a praticar e o esporte fique mais conhecido. Na questão do alto rendimento, pouca gente tem interesse em apoiar externamente”, prosseguiu a esgrimista.

Engana-se quem pensa que a capital paranaense já seria suficiente para a evolução da atleta. Giulia destaca que o real desenvolvimento de um esgrimista aqui no Brasil precisa vir acompanhado de treinos e competições fora do Brasil, nas grandes potências mundiais do esporte, como Itália, Hungria e outros países europeus. Foi por meio de crowdfunding (ou financiamento coletivo) que a curitibana foi capaz de viajar para Budapeste, capital húngara, para treinar e também de participar de competições mais disputadas.

“A ideia do crowdfunding justamente surgiu quando eu vi que não tinha mais de onde tirar apoio. Se nenhuma empresa, confederação pode me apoiar, então vou fazer, porque o máximo que vai acontecer é não dar certo. A resposta foi muito positiva e muita gente quis apoiar. Eu consegui uma visibilidade, consegui fazer que as pessoas soubessem o que estava acontecendo e o que eu estava querendo. Com certeza foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, porque abriu uma porta muito grande neste período pré-Olimpíadas”, observou, sem esconder que ainda precisa passar mais tempo no exterior para solidificar sua técnica.

“O processo é justamente isso. Mas não adianta fazer uma vez por ano. Vou ter que buscar outras vezes. Não é uma coisa que você vai para a Hungria, fica dois meses e acha que vai ganhar tudo. O ideal mesmo seria fazer o circuito inteiro pelo menos quatro anos antes das Olimpíadas. Só que como, por ano, é um valor alto que você tem que investir, acaba ficando difícil. Eu participei do satélite em Istambul, que é uma competição de nível mundial, porém aonde não vão os top 16 do mundo. Nesta competição fiquei entre os oito melhores. Em uma competição internacional, de categoria B, eu consigo até me sobressair. Mas na Copa do Mundo, no caso de Atenas, onde estão realmente os melhores, a gente sente a diferença de nível. Estou me esforçando, mas ainda preciso competir mais fora”, finalizou Giulia Gasparin, que pode estar competindo no ano que vem, no Rio de Janeiro, representando o Brasil em Olimpíadas disputadas em seu país.

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