Especialistas se preocupam com infraestrutura no Rio 2016 e lembram Atenas 2004
David Wallechinsky e Bill Mallon acompanham os Jogos Olímpicos há mais de duas décadas e estão entre os principais historiadores dos Jogos em todo o mundo. A poucos meses de viajarem ao Brasil para as competições, ambos não estão apreensivos com o vírus zika, mas sim com o sistema de transportes, a poluição na Baía de Guanabara e o atraso na conclusão de velódromo.
“Como alguém que estará trabalhando lá, o que mais me preocupa é a infraestrutura”, disse Wallechinsky à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. “A morte de duas pessoas em uma ciclovia atingida por uma onda foi o resultado da conclusão apressada da obra, sem a realização das inspeções de segurança adequadas”, observou, referindo-se à queda da ciclovia Tim Maia, em um dia de ressaca. “Se aquela ponte foi construída dessa maneira, o que podemos dizer das instalações olímpicas e do sistema de transportes?”
Em sua opinião, o principal problema é o metrô que liga a zona sul do Rio à Barra da Tijuca, que deverá estar concluído apenas três dias antes da abertura dos Jogos. O curto prazo não permitirá que sejam realizados os testes necessários para sua operação, ressaltou Wallechinsky. “Mesmo que o metrô esteja pronto, você realmente vai querer entrar nele sem que tenha sido testado?”
Autor da série de referência The Complete Book of the Summer Olympics (O Livro Completo das Olimpíadas de Verão), o historiador acompanhou todos os Jogos desde 1988 como comentarista da rádio Westwood-1, retransmitida pela NBC. Wallechinsky disse ter visto de perto o impacto de obras terminadas às pressas durante as Olimpíadas de Atenas, em 2004. Quando subia lances de escada para ver a final de polo aquático feminino ele sentiu que os degraus quebravam sob seus pés. Pessoas ficaram presas no metrô, que também havia sido aberto sem testes, na véspera do evento.
Mallon observou que as previsões catastrofistas são um clássico que antecedem todas as Olimpíadas. No fim, a maioria delas não se realiza e os Jogos são realizados sem problemas. “Isso também aconteceu antes da Copa do Mundo de 2014”, lembrou.
Mas ele disse que os problemas com a infraestrutura de transportes, o atraso na conclusão do velódromo e a poluição da Baía de Guanabara são preocupações reais. “O ideal seria que o velódromo fosse testado um ano antes de sua utilização”, observou. Se o cronograma anunciado pelo governo for cumprido, a obra só estará pronta no dia 30, cerca de um mês antes do início da Olimpíada.
Médico ortopedista, Mallon disse não estar preocupado com a zika porque os Jogos ocorrerão durante o inverno, período de menor atividade do mosquito transmissor do vírus. Mas ele ressaltou que é homem, tem mais de 60 anos e não pretende voltar a ser pai Autor de livros que registram todos os recordes olímpicos da era moderna, Mallon irá ao Rio como consultor estatístico da delegação dos EUA.
A possibilidade de atentados terroristas durante o evento é considerada remota pelo historiador. Segundo ele, há um elevado grau de segurança durante os Jogos, fruto de um esforço internacional coordenado dos países que enviam delegações.
Wallechinsky também não vê no terrorismo uma fonte particular de preocupação. “A boa notícia é que não há terrorismo internacional no Brasil.” Isso também significa que o país não tem a mesma estrutura de prevenção e combate a ataques que a Inglaterra, por exemplo, um tradicional alvo de atentados. “Ainda assim, a ameaça no Rio não será diferente de outras Olimpíadas.”
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