Estilo de jogo, garimpo de talentos e base: como seria a Seleção com Tite?
Na tarde desta terça-feira (14), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou em nota a demissão do técnico Dunga e do coordenador Gilmar Rinaldi. Depois da vexatória eliminação do Brasil na Copa América Centenário, a entidade máxima do futebol brasileiro cedeu às pressões e decidiu mudar o comando técnico antes mesmo do início das Olimpíadas do Rio, que acontece em agosto. A primeira opção para comandar a fragilizada seleção canarinho é Tite.
Confirmando-se o nome do atual treinador corinthiano, quais serão os seus maiores desafios à frente do Brasil, que hoje corre risco de não se classificar para a Copa do Mundo pela primeira vez em sua história? “O Tite é o melhor técnico brasileiro e ainda vai acabar sendo um bom escudo para a CBF, afinal é o nome que todos querem. Como vem fazendo bons trabalhos, acho que vai contar com um tempo de paciência maior do que teve o Dunga, que já entrou contestado”, analisa Bruno Prado, comentarista de esportes da Jovem Pan.
Bruno, assim como a maior parte dos analistas esportivos, considera Tite o melhor treinador do País na atualidade, portanto o mais indicado para o cargo, já que a CBF dificilmente trará um estrangeiro. Mas o comentarista lembra que, quando se trata de Seleção, a cobrança por resultados imediatos pode sobrepor um projeto de renovação que demande mais tempo para dar frutos. “Tite chega com autonomia, mas, se as derrotas continuarem, as coisas podem complicar. Já vimos isso outras vezes, o próprio Luxemburgo chegou como unanimidade depois da Copa de 1998 e acabou caindo quando os resultados não apareceram”, lembra.
Novo estilo de jogo
A tão falada reestruturação do futebol, como fez a Alemanha antes de formar a geração campeã do mundo em 2014, passa pela integração das categorias de base com o time principal, afirma Bruno. “A Seleção está sempre recomeçando do zero. O técnico da base tem que ser parecido com o Tite para a seleção já ir formando um substituto. Não vejo no Brasil essa mentalidade de um trabalho de longo prazo para a continuidade a um estilo de jogo”, lamenta.
Para Bruno, esse estilo de jogo pode ser o mesmo que o treinador gaúcho adotou no Corinthians entre 2010 e 2013 e no time atual. “Acho que o Tite acrescentou coisas bem legais ao estilo dele naquele ano que ficou parado, em 2014. O Corinthians campeão da Libertadores e do mundo era um time que se destacava defensivamente, sofria poucos gols, mas sofria muito para criar oportunidades também. Marcava pressão no início do jogo, recuava e usava o contra-ataque. Já o atual, especialmente o de 2015, trocava mais passes, até pelas características de jogadores como Jadson e Renato Augusto. Então acho que o Brasil pode ter um time forte defensivamente e eficiente no ataque. Na Seleção ele vai ter jogadores até melhores do que ele tem no clube” diz.
Base da Seleção
A liderança técnica de Neymar continuará sendo muito importante para o Brasil, segundo Bruno. “Ele é o protagonista, as cobranças e os méritos vão recair sobre ele”. Entretanto, acrescenta que a braçadeira de capitão pode não pertencer exclusivamente a um atleta. “Tite costuma fazer rodízio. Ele pode até escolher um cara que vai ficar com a braçadeira em um jogo valendo título, por exemplo, como ele fez com o Alessandro, no Mundial, e com o Ralf, ano passado, no Brasileirão. Mas gosta que os atletas dividam a responsabilidade”, explica.
Quanto à base da Seleção, o comentarista da Jovem Pan crê que grandes mudanças não devem acontecer em relação aos convocados de Dunga. “Pelo menos 70% dos jogadores seriam os mesmos, qualquer que fosse o treinador. O Dunga tirou o Thiago Silva e o Marcelo por questões pessoais, eles devem retornar com o Tite, porque estão entre os melhores”, afirma. “Não imagino uma manutenção de veteranos como o Kaká. Ricardo Oliveira, talvez, pela falta de opções. Já os atletas que ele trabalhou no Corinthians, como Renato Augusto, Gil e Elias, devem ganhar espaço, porque ele conhece e confia”, completa.
Talento ainda existe
Que o Brasil não tem uma geração espetacular como em outros tempos, não é novidade. Neymar é o único craque da atual geração. Mas outros bons nomes – a maioria deles já dentro da Seleção Brasileira – vêm se destacando em seus clubes e podem crescer com a camisa canarinho, segundo o comentarista da Jovem Pan. “O Brasil tem bons valores, dá pra jogar mais. Acho até que já tivemos gerações piores, como a entressafra da Copa de 2010. Hoje temos nomes surgindo, como Philippe Coutinho, Douglas Costa, jogadores que estão em um nível alto”, diz.
Ao menos no papel, Bruno Prado acredita que o Brasil ainda faz parte da elite do futebol mundial: “é claro que estamos atrás de muita gente no jogo coletivo, mas, analisando só jogadores, ainda vejo a Seleção entre as cinco melhores, junto com Alemanha, França, Espanha e Argentina”, opina.
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