Ex-árbitro critica “arbitragem de vídeo”: “CBF quer se eximir da responsabilidade”

  • Por Luiz V. Andreassa/Jovem Pan
  • 11/09/2015 19h33
SÃO PAULO,SP,09.09.2015:SANTOS-SÃO-PAULO - O árbitro Luiz Flavio de Oliveira durante a partida entre Santos SP e São Paulo SP válida pela Série A do Campeonato Brasileiro 2015 no Estádio Vila Belmiro em Santos (SP), nesta quarta-feira (09). (Foto: Rodrigo Gazzanel/Futura Press/Folhapress) Folhapress Luiz Flávio de Oliveira apitando o último clássico entre Santos e São Paulo: arbitragem do Brasileirão tem sido muito criticada

Em resposta às críticas pelo excesso de erros da arbitragem, a CBF anunciou nesta sexta-feira (11) que pediu à Fifa autorização para testar o uso de vídeos para ajudar os árbitros. A intenção da entidade é implantar no Campeonato Brasileiro de 2016 o “árbitro de vídeo”, que ficaria assistindo a repetições dos lances mais difíceis e se comunicaria com o árbitro principal para auxiliá-lo em suas decisões.

No entanto, ex-árbitros já têm criticado a medida. Um deles é Alfredo Loebeling, que apitou até 2013 e não acredita na boa intenção da CBF em evitar erros de arbitragem. “Me parece que a CBF quer valorizar o seu produto. Ela não está preocupada com os erros. Se estivesse, teria comissões unificadas, não teria coronel comandando comissão de arbitragem. O Sérgio Correia (presidente da Comissão Nacional de Arbitragem) apitou o quê? Apitou final de campeonato? Nunca. Tem que ter comissões mais técnicas”, criticou.

Para Loebeling, não existe a possibilidade de a Fifa aplicar a medida em suas regras e determinações. “A Fifa prega o fair play, que é o jogo limpo, a igualdade. É fácil para a federação rica colocar câmera de TV nos jogos. Mas e as federações dos países africanos, asiáticos ou mesmo de América do Sul?”, questionou o ex-árbitro, lembrando o caso dos auxiliares atrás do gol, que não foram implantados no resto do mundo por conta dos custos que requerem.

Além disso, existe a questão prática. Críticos do uso de vídeos apontam que a análise detalhada de muitos lances atrapalharia o andamento das partidas. Por exemplo: um time reclama de pênalti em disputa de bola na área; o árbitro manda o jogo seguir, o adversário retoma a bola, sai em contra-ataque e marca um gol. Loebeling sugere o teste com um recurso comum no tênis e no voleibol: o desafio. Ele consiste em um treinador ter o direito de pedir a revisão, com câmeras e recursos tecnológicos, de um número limitado de lances.

“Em 2006, numa comissão, falei para o Marco Polo Del Nero, que na época era presidente da Federação Paulista de Futebol, fazer um teste com dois desafios a cada tempo para o treinador questionar. Só que ele não aceitou a ideia”, contou. No entanto, ele também comentou os problemas que essa novidade poderia causar, como o uso do desafio para esfriar o jogo em um momento de pressão do adversário ou para ganhar tempo quando se está vencendo a partida.

Na opinião do ex-árbitro, o pedido da CBF à Fifa não ataca o problema principal da arbitragem brasileira. “Ela (CBF) quer se eximir da maior responsabilidade, que é dela. Tem que investir na formação e colocar gente capaz nas escolas e comissões. Não tem condição de o árbitro ter outra profissão, o nível técnico é tão alto que o cara não pode trabalhar o dia inteiro e apitar à noite”, afirmou Alfredo Loebeling. “Não adianta colocar 200 câmeras se não trabalhar a formação do árbitro. Os caras são escolhidos como se fosse um BBB. Tem que escolher com auxilio do psicólogo, que diz quem pode liderar, e portanto pode ser árbitro, e quem não pode”, concluiu.

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