“Fatalmente vão se esquecer de mim”, lamenta medalhista Felipe Wu

  • Por Jovem Pan
  • 23/08/2016 14h07

Atirador Felipe Wu participou do programa Esporte em Discussão desta terça-feira

Johnny Drum/Jovem Pan Atirador Felipe Wu participou do programa Esporte em Discussão desta terça-feira

Primeiro brasileiro a subir ao pódio nos Jogos Olímpicos de 2016, Felipe Wu está bastante preocupado com o que o futuro lhe reserva. Medalhista de prata no tiro esportivo, o paulista de 24 anos lamentou a falta de apoio ao seu esporte, revelou que teme a diminuição de investimentos com o término da Olímpíada e já se conformou: vai cair no esquecimento em breve. 

“Eu acho que vai demorar muito para que o nosso País deixe de ter essa monocultura esportiva. Os Jogos Olímpicos certamente ajudarão nesse processo, porque houve maior visibilidade a outras modalidades… Mas, fatalmente, vão se esquecer de mim daqui a pouco“, lamentou Felipe Wu, em participação exclusiva no programa Esporte em Discussão, da Rádio Jovem Pan. 

E eu entendo isso“, admitiu. O futebol, por exemplo, enche estádio, movimenta muito dinheiro O tiro, não. Mas eu espero que isso mude. Só vai mudar a partir do momento em que o governo investir igualmente em todos os esportes. Isso não acontece atualmente. Vai depender de alguém tirar dinheiro do próprio bolso para investir em uma modalidade, o que é improvável”, acrescentou.

Vice-campeão dos Jogos Olímpicos da Juventude de 2010 e ouro no Pan de Toronto, em 2015, Felipe Wu chegou ao Rio de Janeiro como líder do ranking mundial na pistola de ar 10m. As conquistas, no entanto, não foram frutos de grande apoio financeiro.

Até desembarcar em solo carioca, por exemplo, o jovem só podia contar com o salário mensal do Exército, de R$ 3,2 mil; com a Bolsa Pódio, entregue pelo Ministério do Esporte desde 2012 aos brasileiros top-20 do mundo em suas respectivas modalidades; e com o patrocínio da Rifle, empresa que comercializa chumbinhos.  

Se morasse sozinho, Wu certamente não conseguiria conciliar a vida pessoal com a carreira esportiva. O tiro, afinal, é uma das modalidades que mais exige gastos de seus praticantes. Uma simples arma, por exemplo, custa R$ 11 mil. Uma caixa com 50 munições? R$ 120. Esó consigo sobreviver porque moro na casa dos meus pais”, admitiu o medalhista de prata.

E a tendência é que a situação de Wu piore depois da Rio-2016. Até o momento, o paulista só tem garantias de que continuará recebendo o salário do Exército e o patrocínio da Rifle.

Os pagamentos da Bolsa Pódio foram encerrados assim que a Olimpíada acabou, no último fim de semana, e ainda não se sabe se o governo federal lançará um edital para renovar os incentivos visando aos Jogos de Tóquio, em 2020. O Ministério do Esporte vai se reunir em outubro para definir a continuidade ou não do programa.

A única que certeza que Felipe Wu tem é a de que um corte definitivo da Bolsa Pódio representaria a perda de 70% da sua renda mensal como esportista – o programa pagou até R$ 15 mil por mês a 220 atletas que disputaram a Rio-2016.

Ninguém sabe o que vai acontecer. Eles falaram que o programa vai continuar, mas ainda não vimos nenhum edital ser publicado”, afirmou Wu, claramente preocupado com os dias de amanhã. Além de treinar e competir no tiro esportivo, afinal, ele ainda cursa faculdade de engenharia aeroespacial – que foi trancada no último semestre, para que o atleta pudesse se dedicar 100% ao esporte. 

“Para Tóquio, eu espero ter as mesmas condições de desenvolver o meu trabalho. Não sei como vou conseguir conciliar faculdade e tiro. Talvez, meu rendimento no esporte caia… Mas eu vou tentar levar tudo da melhor maneira possível. O meu primeiro objetivo é em 2018, no Campeonato Mundial da Coreia do Sul. Ele já vai distribuir vagas para os Jogos de Tóquio“, revelou, antes de fazer um último apelo ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB). 

“O COB disse que os investimentos iriam continuar, e nós esperamos que isso de fato aconteça. No último ciclo olímpico, foi feito um esforço maior do que o normal pelo fato de os Jogos serem no Brasil, mas uma continuidade seria importante. O exemplo maior é o da Grã-Bretanha, que continuou investindo e, em 2016, teve um desempenho melhor do que em 2012, quando sediou a Olimpíada. No Brasil, a fomentação ao esporte começou muito tarde… Mas, stiver continuidade, o País tem tudo para conseguir melhores resultados daqui para frente“, decretou, ainda nutrindo um pingo de esperança.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.