Fifa sugere mudar rotação da sede da Copa e abre portas para China em 2030
A Fifa pretende modificar suas regras para poder abrir uma brecha legal para que a China seja candidata a receber a Copa do Mundo de 2030. Durante o congresso da entidade, na semana que vem, uma nova lei será proposta, indicando que a cúpula da Fifa teria o poder de alterar a rotação entre continentes para permitir que uma região do mundo possa receber o torneio com só uma edição de intervalo, sem ter de esperar pelo menos 12 anos.
Hoje, um continente que seja sede da Copa não pode se apresentar como candidato pelos dois torneios seguintes. Ou seja, com o Catar organizando o Mundial de 2022, nenhum outro país asiático poderia se postular ao evento em 2026 e nem em 2030.
Agora, a nova proposta indica que, “se as circunstâncias exigirem”, essa rotação seria modificada. A Ásia, por exemplo, poderia ficar apenas uma edição da Copa do Mundo sem poder se apresentar como candidato. Na prática, isso permitiria que, depois de 2026, quando a Copa do Mundo deverá ser na América do Norte, o caminho estará livre para uma candidatura da China, um grande sonho do governo de Pequim.
Se aprovada, a nova lei será um duro golpe contra as pretensões do Uruguai e da Argentina que querem sediar de forma conjunta a Copa de 2030, marcando cem anos do primeiro torneio. Durante a campanha para a presidência da Fifa, Montevidéu chegou a tratar desse assunto com o então candidato Gianni Infantino. Uma vez eleito, esse passou a evitar o assunto.
Na prática, dar a Copa para a China seria apenas uma decisão lógica da entidade, na busca pelo último grande mercado para o futebol. Com sérios problemas econômicos por conta de escândalos de corrupção, a Fifa está recorrendo à China para financiar a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. No mês passado, ela anunciou um segundo patrocinador chinês para o Mundial, algo inédito. Mas, do total das cotas que esperava vender para financiar o evento, menos da metade conseguiu ser preenchida por enquanto.
O novo parceiro da entidade é o grupo Hisense, fabricante de produtos eletrônicos e em grande parte desconhecido fora do mercado chinês. Para 2018, sua marca estará em todos os estádios da Rússia, ao lado de gigantes como McDonald’s e Budweiser.
A Fifa já havia assinado com a empresa chinesa Wanda. Mas soma apenas dez patrocinadores por enquanto, comparado aos 20 que existiam na Copa do Mundo do Brasil, antes das prisões dos cartolas em Zurique.
O sucesso comercial do evento no Brasil, com uma renda recorde de US$ 5,5 bilhões, levou a antiga administração da Fifa a propor novas cotas para patrocinadores para 2018. Um programa foi aberto para captar parceiros regionais. Semanas depois, os dirigentes foram presos e o interesse comercial desapareceu. Desde 2015, a Fifa ainda gastou US$ 60 milhões em advogados para se defender nos tribunais e terminou o ano com um déficit de US$ 120 milhões.
Cinco dos principais parceiros de 2014, entre eles a Sony, deixaram a Fifa depois dos escândalos. Hoje, das 34 cotas de patrocinadores que esperava conseguir para patrocinar a Copa de 2018, a Fifa obteve apenas dez. Se um ano antes da Copa no Brasil os contratos somavam US$ 404 milhões para a entidade, agora eles se limitam a US$ 246 milhões.
Ainda em 2015, a Fifa recorreu à gigante chinesa Alibaba para financiar seu Mundial de Clubes e a empresa não exclui ainda se aliar a outras marcas chinesas para também apoiar a Copa do Mundo.
O problema, segundo advogados que falaram com o Estado, não é apenas a falta de interesse. Mas o temor de empresas ocidentais de terem seus nomes envolvidos em processos judiciais, já que o julgamento dos cartolas da Fifa sequer começou em Nova York.
O vácuo deixado principalmente por novos parceiros americanos, portanto, está sendo preenchido por chineses. O presidente do país, Xi Jinping, colocou o futebol como a prioridade esportiva e adotou um plano para transformar a China em uma potência até meados do século XXI. Para isso, precisará sediar uma Copa o quanto antes.
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