Figo desiste da candidatura à FIFA e critica: “futebol não sairá ganhando”
O português Luís Figo decidiu retirar nesta quinta-feira (21) sua candidatura à presidência da FIFA. Faltando pouco mais de uma semana para as eleições, o ex-jogador alegou que o processo eleitoral marcado para 29 de Maio, em Zurique, “não é um ato eleitoral normal”.
Em comunicado publicado em sua página de Facebook, o português afirmou que a decisão vem em forma de protesto. “Após ter refletido de forma individual e partilhando opiniões com dois outros candidatos neste processo, entendo que o que vai acontecer dia 29 de Maio em Zurique não é um ato eleitoral normal. E não sendo, não contem comigo”, escreveu o ex-melhor do mundo. “Este processo é um plebiscito para a entrega do poder absoluto a um homem”, completou.
“Não tenho medo das eleições, antes não pactuo com um processo do qual o futebol não sairá ganhando. A minha decisão está tomada, não disputarei aquilo a que chamaram ato eleitoral para a Presidência da FIFA”, afirmou Figo, que apoiará o príncipe jordano Ali bin Al-Hussein nas eleições.
O português seguiu o caminho de outro candidato à presidência da entidade máxima de futebol, Michael van Praag também revelou que não participará das eleições. Desse modo, disputarão a presidência da FIFA o atual presidente Joseph Blater, e Ali bin Al-Hussein.
Leia o comunciado publicado por Figo em seu Facebook:
A minha candidatura à Presidência da FIFA resultou de uma decisão individual, depois de ouvir muita gente relevante no universo do futebol internacional.
Reuni os apoios necessários para me candidatar, formalizei a minha candidatura e as reações do mundo do futebol foram em tamanha dimensão – quer públicas quer privadas – que ainda com mais consciência fiquei de que a minha decisão foi correta.
O universo de um desporto que me deu tudo o que sou e a quem me predispus a devolver agora, fora de campo, está sedento de mudança. A FIFA precisa de uma mudança e eu entendo que essa mudança é urgente.
Guiado por essa vontade, pelos apoios formais recolhidos e pela impressionante onda de apoios de atletas, ex-atletas, treinadores, árbitros e dirigentes do futebol, idealizei e apresentei um programa de ação, o meu manifesto eleitoral para a Presidência da FIFA.
Viajei e conheci gente extraordinária, que reconhecendo o valor de muitas das coisas que foram feitas, também se identifica com esta necessidade de mudança, que limpe a FIFA do selo de organização obscura e tantas vezes olhada como espaço de corrupção.
Mas nestes meses não assisti apenas a esta vontade, assisti a episódios consecutivos, em diversos pontos do planeta, que devem envergonhar quem deseja um futebol livre, limpo e democrático.
Vi eu presidentes de federação que num dia comparavam os líderes da FIFA ao Diabo e no outro subiam ao palco a comparar as mesmas pessoas a Jesus Cristo. Ninguém me contou. Fui eu que presenciei.
Os candidatos foram impedidos de se dirigir às federações em congressos enquanto um dos candidatos discursava sempre sozinho do alto de uma tribuna. Não houve um único debate público sobre os programas de cada um.
Haverá alguém que ache normal uma eleição para uma das mais relevantes organizações do planeta decorrer sem um debate público? Haverá alguém que ache normal que um candidato não apresente sequer um programa eleitoral para ser sufragado no dia 29 de Maio? Não deveria ser obrigatória a apresentação desse programa para que os presidentes de federações conheçam aquilo que vão votar?
Seria normal, mas este processo eleitoral é tudo menos isso, uma eleição.
Este processo é um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem – algo que me recuso a caucionar.
É por isso que, após ter refletido de forma individual e partilhando opiniões com dois outros candidatos neste processo, entendo que o que vai acontecer dia 29 de Maio em Zurique não é um ato eleitoral normal.
E não sendo, não contam comigo.
Que fique claro, tenho um profundo respeito por todo o universo do futebol mundial, desde África, onde tanto incentivo recebi, à Ásia, onde tenho e manterei grandes relações, passando pela América do Sul, onde uma nova geração ganha espaço e pela América Central e do Norte, onde tantos foram calados quando queriam falar, e à Oceânia, cujo desenvolvimento devia ser olhado de outro modo por todos. E finalmente à Europa, onde senti espaço para debate normal e democrático, graças ao impulso do Presidente Platini.
A todos agradeço calorosamente, porque desejo deixar claro que não são eles a comissão eleitoral e não são eles quem deseja uma FIFA cada vez menos forte.
Eu, de minha parte, continuo comprometido com as ideias que deixo escritas e divulgadas, mantenho a minha vontade de participar ativamente numa regeneração para a FIFA e estarei disponível para ela sempre que me demonstrem que não vivemos em ditadura.
Não receio eleições, antes não pactuo nem cauciono um processo que se concluirá dia 29 de Maio e do qual o futebol não sairá a ganhar.
A minha decisão está tomada, não disputarei aquilo a que chamaram ato eleitoral para a Presidência da FIFA.
Agradeço profundamente a todos os que me apoiaram e peço que mantenham a vontade regeneradora que pode tardar, mas chegará.
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