Futebol americano cresce no Brasil e deixa de ser o esporte do “marido da Gisele”

  • Por Jovem Pan
  • 03/02/2017 17h08
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Reprodução/Instagram Gisele Bündchen parabeniza Tom Brady por mais um Super Bowl

Um esporte chamado futebol (football, no original em inglês), mas jogado com as mãos? Só pode ser coisa de americano. É violento e tem muitos intervalos. Muitos apostavam que seria muito difícil crescer e até aparecer por aqui, menos ainda de cairia nas graças de alguma faixa etária em terras tupiniquins. 

Mas, remando contra a maré e apostando em turistas, intercambistas e mesmo brasileiros que residiram na América para trabalhar e regressaram à terra natal, as emissoras de TV a Cabo bancaram o risco. E trouxeram para cá o jogo da bola oval. 

O presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, Rodrigo Acioli explica o que lastreou o desejo e até mesmo a insistência do futebol americano e do Super Bowl no país do futebol tradicional.

“Já existe há alguns anos, os mercados com interesse apenas em um grupo. Neste caso investiu-se não só nas pessoas que estiveram nos Estados Unidos e tinham contato com esse produto, mas também no fato deste esporte causar curiosidade nas pessoas. Com a chegada da TV a cabo, o público teve maior acesso à cultura de outros países e de outras regiões e sai daquela rigidez da TV aberta. Tem também a possibilidade dos aplicativos de busca e a chance de pesquisar coisas do seu interesse pessoal”, aponta Rodrigo.

Mesmo com o maior engajamento dos brasileiros por conteúdos específicos, o casamento da top model Gisele Bundchen com um dos astros da NFL, um filho de brasileiros campeão do Super Bowl 48 – Breno Giacomini, do Seattle Seahawks -,  e um jogador brasileiro se destacando nas ultimas temporadas – o kicker Cairo Santos, do Kansas City Chiefs -, o professor de marketing esportivo da ESPM, Eduardo Muniz credencia a conquista de jardas no Brasil pela NFL ao organizado projeto de expansão realizado pela Liga. 

“Quanto mais brasileiros estiverem participando da liga, maior vai ser a abertura e o interesse do público brasileiro. Mas ainda acho que o trabalho e o engajamento do brasileiro em relação à NFL está muito mais pela qualidade de gestão da liga, em conseguir disseminar esse produto em boa parte do mundo e ganhar a audiência que ganha. Eu acho que ele (Cairo Santos) vai ajudar no engajamento do nosso mercado em relação ao evento e a toda temporada que já vem acontecendo, mas eu acredito que o trabalho da NFL, de disseminação desse conteúdo é o grande fator de sucesso, inclusive no Brasil”, afirma o professor.

Mas antes de atirar a pedra em quem procurou referências de Tom Brady por causa de Gisele Bundchen ou de seus anéis de Super Bowl como quarterback dos Patriots, ou conheceu o Kansas City Chiefs graças ao Cairo Santos, o professor da ESPM sugere o comportamento oposto. Eduardo Muniz recomenda que o insight sirva como trampolim para voos ainda maiores do esporte por aqui. Com o aumento da adesão é possível captar recursos, potencializar valores e multiplicar lucros. O professor ainda ensina que o raciocínio vale para o Brasil e que os norte-americanos continuam sendo mestres em agregar entretenimento a um bom produto: 

“Todas essas ligas trabalham uma série de entregas para o torcedor aumentar o seu engajamento, sejam entregas digitais, de conteúdos exclusivos ou outras experiências que englobam também aspectos tangíveis, como disponibilidade dos uniformes, de produtos licenciados e uma cultura de trabalho para fortalecer o engajamento e, sobretudo, aumentar o ticket médio dos torcedores em relação ao clube que ele torce. Isso é muito maior no mercado norte-americano que no mercado brasileiro ou mesmo no europeu”, conta Eduardo.

O defensive tackle da Seleção Brasileira de Futebol Americano, Bruno “Gardenal”, que já jogou o esporte da bola oval no Brasil e disputou campeonatos de seleções no berço da modalidade, estabelece um paralelo entre os dois cenários. Bruno considera a situação embrionária, porém promissora no Brasil. 

“Os clubes são tratados como empresas e a liga como gestora de tudo isso. Um pouco diferente do Brasil, que ainda estamos iniciando um projeto, apesar de já termos evoluído muito. Temos uma confederação que está fazendo ótimos projetos para o futebol americano no Brasil, e a respeito de campeonato ainda estamos aprendendo a fazê-lo. É muito difícil ter empresas que realmente abram mão de uma porcentagem da sua verba para poder incentivar o crescimento do esporte dentro do país”, conta Bruno, que comenta ainda as iniciativas dos próprios times brasileiros em deixar os seus jogos mais atraentes para os fãs: “em dia de jogo algumas equipes fazem um trabalho fantástico, que é digno de ser copiada por outras modalidades. Levam-se atrativos para a parte externa do campo, levam-se shows para o intervalo e antes do jogo, com narradores e muito entretenimento para todos os torcedores que vão assistir o jogo”.

“Equipe do Lusa Lions, campeã da primeira edição do São Paulo Football League”

Outra comprovação de conquista do futebol americano no Brasil aparece nas atuais opções para acompanhar jogos da temporada regular da NFL e a cereja do bolo, o Super Bowl. “O que a gente vê muito, e que mostra a popularização do futebol americano são as transmissões para cinema e bares, algo que, há cinco anos atrás, era incomum, muito raro. A gente tem esse crescimento acentuado da audiência graças a popularização da TV por assinatura”, explica Valdecir Becker, professor da Universidade Federal da Paraíba e pesquisador do Laboratório de Aplicação em vídeos digitais da instituição.

Futebol americano, também para as meninas

Também se engana quem pensa que o futebol americano no Brasil é consumido ou voltado somente para os homens. Um exemplo significativo é protagonizado pelo site “NFL de Bolsa”. A fundadora e presidente do endereço eletrônico Paula Ivoglo conta como surgiu a ideia, qual o foco e as principais ações desta iniciativa:  

“Há uns dois anos eu tive a ideia do site, quando saí do emprego que eu estava e resolvi me dedicar a esse projeto. Foi mais com a ideia de que as mulheres interagissem e se interessassem mais pelo esporte genuinamente, não só para acompanhar o namorado ou porque está passando na TV. Um dos objetivos do site era que as mulheres tivessem mais acesso a materiais de merchandising dos times. Eu comecei com a parte de acessórios e hoje eu tenho um site com brincos, pulseiras, pingentes dos times, e o próximo passo é a parte de vestuário também, roupas mais customizadas para o público feminino, que é o que elas mais pedem inclusive”, conta Paula.

E para demonstrar o espírito colaborativo dos que acompanham o futebol americano e o desejo desta comunidade em ganhar cada vez mais adeptos, Paula destaca a contribuição recebida pelos pares dela na proposta empreendedora e disposta a disseminar a NFL para um público cada vez maior.

“O público masculino foi o que mais me surpreendeu, o apoio que deram desde o começo, o incentivo, ajudando a divulgar. Nós gravamos sempre podcasts semanais, formado somente por mulheres falando de futebol, fazendo análises, e sempre conta com uma repercussão ótima em vários sites, para parabenizar, inclusive o pessoal da ESPN e do Esporte Interativo”, afirma.

Independente de quem levantar o troféu no próximo domingo, a torcida dos espectadores do Brasil, dos Estados Unidos e do mundo é por um jogo dinâmico, bem disputado, que termine na última posse de bola. E que continue movimentando cifras impressionantes, até mesmo quando o intervalo começa ou se perde o lance principal para abrir um pacotinho de snacks.

*Reportagem especial de Guilherme Campos e trabalhos técnicos de Alexandre Lourenço. 

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